Motivado por algumas notícias menos animadoras sobre as actividades do nosso Clube e respectiva SAD, que por aí pululam nos blogues ditos Portistas, deitei pés ao caminho e entrei na Máquina do Tempo para recordar como tudo começou, faz este mês 12 anos.
Num belo fim-de-tarde de Dezembro de 1999, na CMP, decorria a apresentação do plano de pormenor urbanístico da zona das Antas onde viria a ser construído o nosso novo estádio. Lá estavam os administradores (os mesmos de hoje), o meu amigo Fernando Oliveira a zelar pela segurança do nosso presidente, o Arq. Manuel Salgado projectista do Estádio do Dragão, e o saudoso Pôncio, entre outros de menor relevância.
Pouco tempo depois, a 5 de Junho de 2000 seria assinado um contrato-programa de desenvolvimento desportivo entre o Instituto Nacional do Desporto, o Euro 2004 SA, e o FC Porto nos termos do caderno de encargos a que se comprometeu a candidatura portuguesa à realização do Campeonato Europeu de Futebol em 2004 com o primeiro jogo naquele que viria a ser o estádio mais bonito de todos os estádios portugueses.
É interessante recordar que a SAD era uma criança (3 aninhos) mas já a 2 de Junho desse ano tínhamos assinado com a Câmara de V. N. Gaia um protocolo para a concepção, construção, e exploração do centro de treinos e formação desportiva.
O nosso Activo valia 17.800 contos e o Passivo, vejam lá, apenas 9.783 contos!
Pensei nisto tudo no dia do Porto X Zenit. Como cheguei 1 hora mais cedo, o estádio estava deserto, trepei (do lado do Metro) por aquelas imensas escadarias para espreitar do alto das últimas filas do terceiro anel como seria a visão dos que por lá costumam ficar. Tinha lido na madrugada de 5 para 6 de Dezembro um importante comunicado da venda da participação da nossa accionista Chamartin, à Somague. Ao ver, lá de cima, a urbanização circundante do estádio, recordei com saudade a presença do grupo Amorim que chegou a ter cerca de 20% na sociedade (1) para depois o alienar à Chamartin
Mal cheguei a casa, desmoralizado por não nos termos qualificado, e porque me deito sempre tarde, lá fui ler a imprensa desportiva e económica do dia. Com excepção de algumas transcrições resumidas nos pasquins habituais, ninguém ligou ao assunto!
Quis então ver de quem se tratava este “novo” accionista., afinal sempre valia 19,12%. Numa primeira impressão fiquei satisfeito. Um investidor (pensava eu) português. Quando se fala na Somague vem-me sempre à cabeça o nome Vaz Guedes do hóquei em patins dos anos 60 (não sei qual o parentesco com Diogo Vaz Guedes, até há pouco tempo presidente executivo da construtora) e lá entrei outra vez na Máquina do Tempo.
Corria o ano de 1958. Nos terrenos do antigo Palácio de Cristal estava em vias de ser concluído, propositadamente para o Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins desse ano, o Pavilhão de Desportos, hoje denominado Rosa Mota. (2) Nessa época já existia o velho hábito do centralismo lisboeta. Tudo o que acontecesse, tinha que acontecer na Capital. A localização do importante certame na nossa cidade foi uma enorme surpresa. Eu andava a estudar Contabilidade aqui no Porto, na escola Raul Dória (onde hoje se situa o Jornal de Notícias) e, face às enormes filas para adquirir as cadernetas que davam acesso a todos os jogos, não consegui arranjar bilhetes para as partidas mais interessantes que eram com os nossos conhecidos Itália e Espanha.
Por sorte, à boa maneira portuguesa, quando o campeonato começou, o Pavilhão ainda não tinha a cobertura pronta e, lembro-me (esta carola, sempre, sempre a trabalhar) que uma chuvada torrencial desabou sobre o Pavilhão, os tacos de parquet levantaram todos, tendo a organização que recorrer a um enorme armazem cedido pela JOMAR no Freixieiro, propriedade da família do Jonas Marques Pinto, cujo sobrinho (felizmente ainda vivo) Fernando Marques Pinto era meu colega de Turma. Ali foi montado à pressa um ringue improvisado. Escusado será dizer que fui lá desaguar com a restante cambada do Curso, ver os restantes jogos de borla, e ficarmos campeões.
Os nossos velhos rivais sempre foram os espanhóis. Daí o meu espanto quando fui ao Google pesquisar estes dados e reparei que, hoje, quem manda na Somague são os espanhóis da Sacyr Vallehermoso S.A. aliás, como consta do comunicado da SAD. (3)
Este Grupo Empresarial, à semelhança da Somague, dedica-se à realização de projectos de recuperação e construção imobiliária para arrendamento ou venda e sua posterior administração, bem como espaços comerciais, estradas, túneis etc. O Grupo é composto por dezenas de empresas associadas, entre as quais se incluem: Somague SGPS, Grupo Somague Engenharia, Grupo Somague Concessões, Grupo Somague Ambiente, e o Grupo Somague Imobiliária. Se compararmos com os RC dos dois anos anteriores, que não cabe aqui comentar, verificamos que o Grupo se encontra em recessão. No nosso País participou, entre outras obras menores, na construção da autoestrada do Marão; com a Sociedade Haçor Concesionaria S.A. na construção e exploração do Hospital da Ilha de Terceira nos Açores; com a Sociedade Escala Braga – Sociedade Gestora do Edificio, S.A. cujo objecto foi a construção do Hospital de Braga e com a Somague-Ambiente em projectos de tratamento de resíduos, na construção do Parque de Estacionamento em Vila Real e com várias Câmaras Municipais em projectos de tratamento de águas. (4)
Que raio de ideia terá sido esta dos administradores duma construtora espanhola vir “brincar” às Sad’s para Portugal? Guardado estava o bocado…
Até para a semana
(2) http://www.francisco-velasco.com/1958/09/album-1958-xiii-campeonato-do-mundo-%E2%80%93-os-jogos/
2 comentários:
Adorei este seu trabalho Lima.
Sabe sempre bem lermos Histórias antigas do nosso Clube/Cidade.
Se calhar até vou dizer asneiras, mas se os Espanhóis optaram por investir na SAD Portista é sinal de que aquilo não estará assim tão mau como andam por ai a pintar.
Grande abraço.
Obrigado, amigo The Blue One
De facto, se compararmos as contas com os 2 Circos da Segunda Circular, as nossas são um Paraíso.
Mas penso que aquilo que aconteceu foi um negócio ("acerto" de posições) entre a Chamartin e a Sacyr ValleHermoso. A Somague só aparece aqui por "simpatia".
De estranhar o facto de não ter visto em nenhum blogue Portista, comentarem um facto tão importante mas já vamos estando habituados.
Abraço
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