sábado, 4 de agosto de 2012

A Procissão

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Que “eles” andavam a preparar alguma, tinha eu a certeza. Nunca imaginei que fosse através daqueles senhores que nos fizeram pagar o aluguer do telefone durante dezenas de anos, mesmo que não fizéssemos uma única chamada. Como empresa do regime que era, paga por todos nós, os pacóvios do costume, de que se haviam de lembrar agora? Com o pretexto de “superar a concorrência” Zeinal Bava pensou, numa grande jogada de marketing. Juntar-se a um pasquim, no caso A BOLHA, e construir (mais) um andor gigante onde o clube da treta possa ser (de uma forma descarada) levado ao colo na habitual procissão anual.

Mesmo na frente, marchando a compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.

Os preparativos começam no defeso, e não é difícil imaginar como será. Os cavalos da GNR (ou dos UHF, tanto faz), e a Banda de Musica da Tiririca. O primeiro andor é sempre o da comunicação social escrita. Dum lado o Manhoso, o Delgado, e o Octávio Ribeiro. Do outro, o Gobern, para o andor não tombar. Os amigos do Barbas, vestidos de Soldados da Paz erguem as mãos, com preces para que Witsel não saia.

Olha os bombeiros, tão bem alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num fole.
Trazem ao ombro brilhantes machados,
E os capacetes rebrilham ao sol.

Outro andor, agora da rádio e da querida televisão. Vidrinhos, Carlos Daniel, e Seara. No último degrau, Rui Santos, David Borges, e Joaquim Rita. Logo atrás, os apanha-bolas. Aos montes, com as novas camisolas alternativas douradas e pretas. Douradas a recordar o tempo em que havia dinheiro, e pretas a lembrar o Passivo. Outro andor o dos pasquins. A BOLHA, o Correio Manhoso, e o Rascord, lançam pétalas com o nome de Salvio, sobre o público. Logo atrás o dos árbitros. Vítor Pereira, o pode-ser-o-João, Benquerença, Xistra, e o Pedro Proença pregado na cruz.

Olha os irmãos da nossa confraria!
Muito solenes nas opas vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia havia
Tantos bigodes e tais sobrancelhas!

A seguir a transmissão televisiva pelo novo canal A BOLA os 240.000 (ou mais) sócios. Vestidos de anjinhos com cartazes alusivos aos patrocinadores do Circo: Coca-Cola, Adidas, Cerveja Sagres, Liga Bwin (bons tempos), Vodafone, TMN e, claro a MEO com os 4 palhaços que fazem aqueles anúncios para indigentes mentais. O palhaço grande, dois palhaços médios, e o palhacinho mais pequeno, o borrachola que, para destoar, vem vestido de verde-e-branco.

Ai, que bonitos que vão os anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em casa!
Um deles leva a coroa de espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma asa!

Segue-se a Banda de Musica da Casa Pia com Chalana à frente, disfarçado de guarda do balneário. Outro andor, representando os dirigentes. Gomes da Silva, Vieira, Dominguinhos (os artistas do Passivo) e Rui Costa.

Logo atrás o andor dos nonameboys. Treinados por Pragal Colaço, manejam armas na perfeição. Matracas, sticks de óquei, bastões de basebol, calhaus das obras, tudo serve para os caceteiros atacarem. Javi é o “mordomo” do altar.

Pelas janelas, as mães e as filhas,
As colchas ricas, formando troféu.
E os lindos rostos, por trás das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do Céu!

A fechar, um carro em forma de gruta, para transportar os excedentários. Mais de 80 aos molhos, separados por países, esfomeados de bola, numa barulheira infernal. Yannick Djaló vai gritar as frases: “se não jogamos, queremos ser transferidos”! “Corunha ou Atlético já”!

Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o andor.
Não há na aldeia nada mais bonito
Que estes passeios de Nosso Senhor!

Fontes geralmente bem informadas garantiram ao Mística Azul e Branca que para este ano está preparada uma grande surpresa. A fechar a procissão, um camião frigorífico, género papa-móvel, envidraçado, transporta o futuro defesa-esquerdo da ”instituição”. Um paparazzi disfarçado de vendedor de gelados do Continente, conseguiu fotografar o atleta que aguarda a vistoria e aprovação da ASAE, para, depois, fazer companhia aos 22 estrangeiros do plantel.

Tocam os sinos da torre da igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo chão.
Na nossa aldeia que Deus a proteja!
Vai passando a procissão.

Letra: António Lopes Ribeiro
Intérprete: João Villaret

Até à próxima

2 comentários:

condor disse...

Depois de um dia de trabalho nada como uma boa gargalhada!
Obrigado meu amigo!
Realmente,se o bêfique não existisse isto era uma pasmaceira!

Fernando Tavares disse...

Grande artigo Lima
Parabéns
ftavares