terça-feira, 27 de agosto de 2013

Lucho não pode ser intocável.

  • Foi com alguma preocupação que vi o seguinte título num jornal desportivo na última semana: “ Lucho é intocável”
Só a expressão em si causa logo urticária, mais ainda quando se trata de um clube com a história do F. C. Porto que já viu partir tantos jogadores que em qualquer outro clube se diriam intocáveis ou insubstituíveis.

No futebol não há nem pode haver intocáveis. No F. C. Porto menos ainda. A ser alguém intocável no F. C. Porto só o seu presidente e mesmo esse só o é porque continua a ser o melhor presidente de forma destacada para todos os outros. Enquanto outros dão entrevistas a órgãos de comunicação social do próprio clube, com perguntas encomendadas e dizem que não podem ser julgados pelos campeonatos que não ganham, isso no Porto não se passa. Esse estatuto conquista-se todos os anos. Com títulos.
Ora, não nos desviando da questão que nos traz aqui. O presumível estatuto de Lucho que foi amplamente divulgado por um jornal desportivo e que de forma preocupante poderá ser o reflexo de uma ideia que o treinador do Porto estará mesmo a consolidar.
 
No F. C. Porto nunca houve intocáveis. Fernando Gomes que o diga, quando por motivos disciplinares recebeu guia de marcha, que o diga também Jorge Costa, mas também jogadores que pareciam intocáveis até aparecer alguém para os substituir, que o diga por exemplo Domingos Paciência quando perdeu o lugar para Jardel ou mais recentemente Vitor Baía quando perdeu o seu lugar para Helton.
Falamos de dois símbolos do clube, dois jogadores da casa, nascidos e criados no F. C. Porto.
 
Ora se nem esses eram intocáveis porque motivo deveria agora ser Lucho? Por ser capitão? Tantos outros o foram... Por estatuto? O futebol não vive nem pode viver de estatutos ou de direitos adquiridos pelo que se fez no passado. Cada jogador deve ser avaliado pelo presente e servir o interesse do clube.
 
Ninguém coloca em causa a importância de Lucho Gonzales no grupo de trabalho assim como a sua enorme classe enquanto jogador e o seu percurso vitorioso de dragão ao peito.
  • A questão torna-se é complicada quando aparece um menino de seu nome Quintero, que surge com o 10 nas costas e que joga muito sem ter que pedir licença a ninguém
Durante a pré temporada Paulo Fonseca deixou bem claro em que posição via Quintero. Alguns comentadores achavam que o miúdo se calhar poderia ser um novo James, um falso ala. P. Fonseca deixou bem claro que não o via nessa posição. O nº 10 nas costas também não resultado do acaso. Quintero é mesmo um 10 puro. Ora, James também é mais 10 que extremo.
 
Teve que se adaptar a uma faixa? Sim. Mas porque havia algum jogador intocável na posição de 10…? Não. Apenas porque tal posição não existia no 4-3-3 de Vítor Pereira. Como tal teria que ser James a adaptar-se à equipa e não o contrário. E nesse sentido encaixou-se James no espaço onde ele poderia conseguir mais facilmente recriar a liberdade da posição 10.
Com Quintero não se passa o mesmo. Mudou o treinador, mudo a táctica e mudou de certa forma alguns princípios. O 4-3-3 transformou-se num 4-2-3-1, em que se aposta claramente num 10 que jogue nas costas de Jackson.
 
Talvez Paulo Fonseca tenha imaginado que essa táctica beneficiaria Lucho porque teria que se desgastar menos em tarefas defensivas, e poderia assim durar mais tempo em campo. Por outro lado, achou se calhar que Quintero daria um bom suplente, um jogador para ser trabalhado com tempo para que na próxima época pudesse se calhar assumir maior protagonismo na equipa no caso de Lucho decidir voltar à Argentina.
  • O que se calhar P. Fonseca não contava era que Quintero pudesse causar um impacto tão forte tão cedo e ao ponto de colocar em causa a posição do Comandante
Paulo Fonseca antes de chegar ao Porto cometeu, no meu entender, o erro de dizer que no Porto o jogador que mais admirava era Lucho Gonzalez. Creio que se tratou de um acto de um treinador jovem, deslumbrado com o brinquedo que lhe acabavam de colocar nas mãos. Porque a um treinador não lhe fica bem ter favoritos e expressa-lo de forma pública ainda antes sequer de ter tido a possibilidade de os treinar, quase que colocando a priori, uns à frente de todos os outros.
Por estes dias parece que P. Fonseca ficou refém dessas palavras... Isto porque após o efeito Quintero, muitas têm sido as análises que se têm multiplicado para encontrar uma formula para enquandrar Quintero no onze. E curiosamente em todas elas, ressalta poucas vezes a mais óbvia. Quintero competia à partida desta época com Lucho. Era claro e o próprio Fonseca afirmou claramente que Quintero não seria extremo mas sim um médio ofensivo. Um 10. Ora, se Quintero merece entrar no onze, quem tem que sair é Lucho. Parece simples, mas complica-se por causa do estatuto do capitão.
 
Outra solução seria colocar Lucho quase ao lado de Fernando no lugar de Defour. Poderia resultar em jogos em casa contra equipas que oferecessem menos resistência. Em jogos de maior cilindrada talvez a condição física de Lucho não permitisse uma disposição táctica tão arrojada.
O que me parece uma não solução é manter Lucho pelo estatuto e relegar Quintero para uma faixa, retirando-lhe a oportunidade de discutir de forma justa e coerente pelo seu lugar na equipa na sua posição.
 
Pior ainda, quando vemos que para isso acontecer o sacrificado teria que ser Josué que nos dois jogos que fez para a Liga quebrou a malapata dos penaltis ( curiosamente iniciada por Lucho) e ainda se tem pautado sempre como dos melhors elementos da equipa.
Depois de vermos Castro a ser sacrificado indo para a Turquia, uma vez mais, em caso de dúvidas o jogador formado no Porto e português é que teria que ceder o seu lugar ainda que isso não seja justo.
 
Mais ainda, quando se percebe que Josué como falso extremo e Quintero a 10 se entendem tão bem e conseguem fazer várias trocas posicionais durante o jogo que acrescentam tanta criatividade e dinâmica ao jogo da equipa.
O próprio Lucho não merece que o tratem de forma diferenciada. É um jogador que tem uma boa carreira, que já provou o seu valor, e que merece ser tratado como um jogador que tem condições para lutar por um lugar sem ter que se fazer valer de estatutos ou de ter que puxar dos galões ou do currículo para se defender em campo.
 
Tal como já havia referido noutro texto, não é vergonha nenhuma Lucho passar a tocha a Quintero. Tal como não foi quando Vitor Baía, um símbolo ainda maior que Lucho, teve que a passar a Helton. É o natural. É a lei da vida. É futebol. Casillas no Real Madrid viu-se substituído por um jogador que até é mais velho que ele, Pepe viu-se ultrapassado por um menino de 18 anos chamado Varane.
  • Porque é que Lucho terá que ser diferente e logo num clube como o Porto que nunca cedeu a estatutos adquiridos?
Lucho não caminha para novo, ele sabe disso. Continua a ter um perfil de líder e continuaria a ser um líder no balneário mesmo que não fosse titular. Seria importante tal como foi Baía quando deixou de ser titular. Aí sim se vêm os verdadeiros líderes. Quando têm a capacidade de colocar os interesses da equipa à frente dos seus e defender o grupo.
Deveria ser dada essa oportunidade a Lucho e não o tratar como alguém que merece uma proteção especial e que seria alguma vergonha ser ultrapassado por um miúdo que acabou de chegar ou achar que a titularidade de Quintero no lugar de Lucho de certa forma abalaria o grupo por Lucho não ter capacidade de a compreender e aceitar.
 
Não me parece justo para Quintero, para Josué, que se prepara para ser o sacrificado, e menos ainda para Lucho. Lucho não merece ficar em campo apenas pelo seu passado. Merece que cada minuto que dispute se deva àquilo que ele ainda é capaz de fazer.
  • O próprio Lucho poderia ganhar com essa alteração. Poderia começar no banco, mas nos minutos que jogasse ser mais decisivo do que é sendo titular
Temos exemplo de outros grandes jogadores, grandes maestros que tiveram que ceder a batuta e que nem por isso deixaram de brilhar quando chamados. Rui Costa por exemplo.
 
Em 2004 também se colocavam dúvidas como seria ter um jogador como ele no banco, mas a verdade é que Deco era nesse momento melhor que ele. O que aconteceu é que Deco melhorou o jogo de Portugal e Rui Costa vindo do banco nesse mesmo Europeu marcou e foi decisivo nos jogos com a Rússia e com Inglaterra.
Lucho continua a pincelar os jogos com classe, e uma capacidade de leitura de jogo de um predestinado. Ele é provável dos melhores jogadores do ponto de vista de inteligência táctica que já passaram pelo futebol português. Contudo, o seu raio de acção com o passar dos anos é cada vez menor, as pernas já não acompanham por vezes o pensamento, e a velocidade de execução ressente-se disso e o jogo emperra mais vezes. Ao mesmo tempo a disponibilidade física para cair nos flancos já não é a mesma nem é capaz de durar um jogo inteiro a um ritmo tão alto.
 
Lucho tem lampejos, e a sua presença é notada, contudo Quintero faz o mesmo mas numa velocidade acima. Joga ligado à corrente elétrica. Tem mais velocidade de execução, maior capacidade de remate, é mais forte que Lucho no um para um e tem mais pulmão e capacidade para estar mais tempo em jogo e de forma mais decisiva.
 
Perde em experiência? Talvez, mas também não a ganhará ficando no banco ou dando-lhe uma posição que não é a sua para não ter que assumir responsabilidades. Ele só pode crescer jogando e tendo a confiança para ser ele a comandar o jogo ofensivo com o 10 nas costas e na sua posição.
O Porto entrará em 90% dos jogo em campo com a necessidade de jogar em velocidade para conseguir desmontar defesas muito cerradas. Lucho é um jogador mais cerebral, que coloca calma no jogo e faz a equipa respirar. Quintero não deixa a equipa relaxar, porque está constantemente a acelerar o jogo e a vira-lo totalmente para cima da área adversária.
 
E o Porto tem que entrar assim em quase todos os jogos. Mais tarde, quando em vantagem, talvez aí Lucho possa ser fundamental. E talvez esses 25 minutos que entre, podem ser mais importantes para a equipa e mais decisivos do que os 90 minutos que Lucho vai realizando em que aparece de forma mais intermitente e sempre com necessidade de gerir o desgaste.
  • 25 minutos do melhor Lucho sobrepõe-se a 90 minutos de um Lucho mais limitado
Paulo Fonseca tem que tomar a opção justa, não a mais fácil. Porque essa já sabemos que será sacrificar Josué por ter menos estatuto e ter vindo do Paços. Isso não é decisão de um grande líder. Isso é seguir o caminho mais fácil. Tal como foi quando perante a abundância em caso de dúvida se decide abdicar de Castro em nome de jogadores estrangeiros que custaram mais dinheiro.
 
Ser líder é ter a capacidade de ser justo perante o grupo de trabalho não olhando a nomes nem estatutos. É ser capaz de olhar nos olhos de todos e saber que está a tomar a decisão mais justa e correcta para a equipa. Nem que para isso se tenha que sentar um Casillas no banco ou um Vitor Baía. A isto se chama ser líder e é isto que se espera de um treinador de um grande clube. Foi para isso que P. Fonseca foi contratado. Não pode apenas sorrir perante o brinquedo que lhe deram nem ficar fascinado a admirar ídolos que se calhar não imaginava treinar tão cedo.
Daí que lanço o repto. Que P. Fonseca seja líder e deixe bem claro que no Porto não há intocáveis e que coloque em campo quem é melhor. E neste momento, sendo justo ele sabe que Quintero é melhor que Lucho e é capaz de dar mais ao jogo do Porto como titular do que é Lucho. Como tal, tome a decisão e não arrange estratagemas de segunda para tentar conciliar Lucho com Quintero com prejuízo injusto para terceiros e para a equipa.
 

5 comentários:

Pedro Silva disse...

Ricardo estou de acordo com aquilo que escreveste.

Para ficar completo queria acrescentar o seguinte:

- Nem tudo o que a Comunicação Social Desportiva escreve ou diz corresponde à verdade. 99% é treta;

- Gosto muito do Quintero e também já percebi que este não é burro como o Iturbe.

O moço tem talento e sabe como estar perante a CS. Contudo o público do Dragão é muito especial e tem sempre muita dificuldade em ser justo com os Jogadores. Por agora o Colombiano tem saído do banco e impressionado pela positiva mas se este tiver o azar de realizar dois ou três jogos sem um rendimento ao seu nível acredita que o a malta do Dragão o trucida. E estamos a falar de um menino que a meu ver deve ir entrando aos poucos na equipa, daí que entenda que o Paulo Fonseca coloque o Lucho á frente do Quintero nos próximos tempos.

- Por último, o contexto de que falas onde outros símbolos do Clube foram sendo “encostados” ao banco é bem diferente do actual. Em quase todos tivemos um FC Porto que perdeu o título de Campeão e que necessitou de ser reconstruir. O mesmo não sucede com o FC Porto actual e sabes bem que é nestas alturas que surgem as comissões e os famosos compadrios da Direcção com este ou aquele Jogador.

Mas acima de tudo espero que se faça justiça. Se Quintero continuar a jogar bem e o Lucho não, então que se invertam os papeis.

Ricardo Costa disse...

Não é bem assim...
O Baía por exemplo foi substituído num ano em que tudo corria bem e o Porto vinha de ser campeão. Mesmo assim foi substituído por Helton já com o campeonato a decorrer.
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O Domingos foi substituído por Jardel que chegou e fez até que o Porto vendesse o Domingos ao Tenerife.
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E o Domingos vinha de uma excelente época.
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Outros jogadores foram sendo substituídos. É futebol. Se aparece alguém melhor, deve jogar.
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Não me preocupa que Quintero esteja a ser lançado aos poucos...Preocupa-me que esteja a ser preparado para ter que jogar noutra posição que não a de Lucho por este ser intocável.
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Se ele fosse lançado aos poucos mas para disputar a posição com Lucho tudo bem...Mas sente-se que P. Fonseca está a tentar arranjar forma de o incluir na equipa sem ter que tirar o Lucho e isto significa sacrificar o Josué, e colocar Quintero numa posição que não é a sua. Tudo apenas para que Lucho não tenha que sair da titularidade.
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O que afirmo é que Quintero a jogar, que o deixem jogar na sua posição e discuti-la seja com Lucho seja com o Maradona seja com quem for.
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E se se concluir que Quintero é neste momento melhor que Lucho, então deve ser Quintero a jogar.
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Um abraço.

Portista em Lisboa disse...

Boa tarde caros portistas:
Totalmente de acordo, amigo Ricardo, o Quintero tem que jogar no lugar do Lucho que todos nós gostamos, mas é a vida.
Cumprimentos:

Pedro Silva disse...

Confesso que tenho a clara ideia de que foi nos tempos do "maluco" do Adriaanse que o Helton começou a "tirar" o lugar ao Baía e nesta altura o Campeão Nacional era o Benfica. Mas posso estar engando.

Mas não obstante o timing, o que dizes é a mais pura das verdades. Isto é futebol e deve jogar quem estiver melhor no momento independentemente do seu estatuto.

Confesso que me parece que o PF não coloca o Quintero numa das alas do araque até porque quando este entra por norma o Lucho recua no campo. Mas é o que me parece

Aquele abraço.

JOSE LIMA disse...

Meus dois amigos
Deixem-me apresentar uma nova teoria. O meio-campo (direito, invertido, ou na diagonal) não é um triângulo. Chamem-lhe o que quiserem mas, para mim, é um pentágono!
Raciocinem comigo. Lá atrás temos o quarteto do costume com vários jogadores a poder mudar de posição caso seja necessário. Fucile, Danilo e Sandro para escolher os dois laterais. Otamendi, Mangala, Maicon e Abdoulaye para ficarem dois centrais.
De que precisamos lá na frente? Um ponta-de-lança (Jackson) e à volta dele o tal pentágono. Um polvo, ou homem aranha mais atrás, claramente Fernando, escolher 4 entre os seis candidatos possíveis (confesso que não vejo mais nenhum) Defour, Josué, Licá, Lucho, Quintero e Varela (alphabetical order) e deixá-los libertos de tácticas e amarras.
Vão ver as defesas adversárias com a cabeça num bolo. Tirar Lucho é um crime de lesa-futebol.
Abraço