quinta-feira, 8 de maio de 2014

Financiamento das Sociedades Desportivas

Com a atual legislação que obriga à transformação dos Clubes em Sociedades Desportivas, e para uma melhor análise da sua situação financeira, importa recordar alguns pormenores sobre as dificuldade das Sad’s que participam nas competições profissionais em gerir a Tesouraria (o fluxo de dinheiro que entra e sai) para fazer face aos custos de exploração. Vamos recordar quais foram os principais Proveitos Operacionais da nossa Sad relativos à época 2012/2013:
 
1 – UEFA; 2 – Direitos TV; 3 – Pub/Patrocínios; 4 – Bilheteira/Quotização; 5 - Corporate
Quanto à estrutura de Custos os mais significativos foram os seguintes:
 
1 – Pessoal (inclui salários jogadores); 2 – Fornecimentos e Serviços Externos
Repare-se na diferença (saldo) entre estes 2 quadros acima (Proveitos Vs. Custos). Tivemos um “prejuízo” de 19,3M€ ou seja: “gastámos mais do que recebemos”. Faltará acrescentar a estes números os passes de atletas que aumentam ou diminuem o resultado conforme as aquisições são maiores do que as cessões e vice-versa. Sabemos que foram maiores atirando o prejuízo para os 30,5M€ como este ano também vai acontecer. Como nos habituamos a bons negócios e não tendo este ano ninguém para vender é óbvio que não temos dinheiro para comprar.
 
Perguntarão os meus amigos a que propósito vem todo este arrazoado. É simples. Se uma sociedade, e é disso que se trata, tiver prejuízos na sua atividade, terá que encontrar alguns meios de financiamento para prosseguir a sua atividade. Com a entrada em cena do chamado Fair Play Financeiro, o senhor Platini, dono da UEFA, homem de engraçadas ideias (apetecia-me escrever: idiotices), produziu o seguinte raciocínio: “Os clubes perdem dinheiro, logo estão falidos. Pedem mais e mais e continuam falidos. O melhor será proibi-los de falir! Fez-me lembrar o menino rico que leva a bola para a escola de pobres. Se os outros não cumprirem as regras (dele) mete a bola debaixo do braço e leva-a para casa.
Claro que neste Mundo de anedotas constantes, ainda houve uns paisanos que acreditaram, pelo menos enquanto o BES e o BCP continuarem a meter dinheiro no clube da treta! Ultrapassado o intermédio cómico das bacoradas platinianas a que aderiu outro palhaço pobre da nossa praça, o inventor da “verdade desportiva” da SIC, a ideia foi prontamente rejeitada pelos Barças, Reais, PS Germains, Bayerns, Chelseas e quejandos. Com a devida vénia passo a citar uma opinião do conceituado jurista José Manuel Meirim…
 
“As regras de defesa da concorrência e os princípios da concorrência, a liberdade de circulação de trabalhadores, a liberdade de circulação de capitais e a liberdade de prestação de serviços, são tudo “ achas para uma fogueira” que pode consumir – deixando a cinzas – algumas das essenciais regras do fair play financeiro da UEFA”.
 
Platini quer ir para presidente da FIFA, andou por aí entretido, afinal vêm cá jogar os rivais de Madrid. Passados uns dias já veio dizer que a medida “era para Inglês ver”. Claro! Se fosse para levar a lei à risca, o clube da treta com prejuízos há 5 exercícios seguidos era o primeiro a ficar de fora da UEFA. Lá teria que ir disputar uns torneios a Moçambique ou a Angola onde me dizem que as palhoças ficaram amorosas com as parabólicas dependuradas para “apanhar” a BenficaTv. Voltando à vaca fria, que é como quem diz, ao assunto da crónica, recordemos as fontes de financiamento a que as Sad’s normalmente recorrem.
 
ACIONISTAS – A forma mais utilizada nas sociedades com problemas. Os sócios/acionistas “injetam” (metáfora que significa perder mais algum) quantidades de capital, naturalmente até ao limite das suas capacidades para tentar recuperar créditos, resolver débitos, enfim, equilibrar (palavra-chave) as necessidades de Tesouraria.
 
BANCOS – Cada vez será mais difícil aceder a este meio de financiamento, face aos péssimos resultados evidenciados nesta indústria. Os Bancos não acreditam na capacidade de gestão e recuperação dos clubes falidos e não concedem crédito. Veja-se por exemplo o Leixões que admite não se inscrever para a próxima época, o Beira-Mar que já perdeu o pavilhão e os terrenos, ou o Leiria sem dinheiro para pagar a renda do estádio municipal.
 
EMPRÉSTIMOS OBRIGACIONISTAS – Conhecidos pelo carinhoso diminutivo de EO as Sad’s fazem um peditório em forma de empréstimo a milhares de paisanos, entregando-lhes uns papeizinhos que simbolizam o valor investido, prometendo em troca um juro generoso (7 a 8%). Se a Sad estourar, ou seja, não tiver dinheiro para pagar os juros trimestrais ou para devolver ao investidor a maçaroca no fim do prazo estabelecido, “entrega-se ao Banco”, um truque muito em voga nas Sad’s de meia tijela, como a dos Calimeros. Provavelmente os meus amigos não sabem mas “aquilo” até passou a ter um administrador na Sad que controla a receita que entra, e apenas lhes deixa gastar o mínimo indispensável para cobrir as despesas correntes. Se mesmo assim o dinheirinho não chegar, os tais investidores dos EO ou dos primos, os VMOC, ficam a chuchar no dedo.
 
AUTARQUIAS – Foi chão que deu uvas. O senhor Gaspar deu ordens para as Câmaras não darem mais dinheiro aos clubes como fez por exemplo a CML ao tempo da parelha Santana Lopes/Carmona Rodrigues, a de Leiria, a do rei das bananas da Madeira, etc. Aliás a legislação já existia. As comparticipações autárquicas devem destinar-se apenas ao desenvolvimento do desporto amador e escolar, ou infraestruturas em clubes desportivos não-profissionais.
 
FUNDOS DE INVESTIMENTO – Uma espécie de clube de 20 amigos que juntam dinheiro para irem nas férias visitar o Dubai. Emprestam dinheiro às Sad’s e ficam com os passes de penhor. Como normalmente os Bancos fazem parte dos fundos (vide ESAF Benfica Stars Fund cujo principal investidor é o BES) só dão autorização para os vender quando e se recuperarem o que investiram. O pior é que mesmo para os Bancos pode correr mal. Este BES apresentou há dias 500 milhões euros de prejuízos, quase tanto como o Passivo do grupo da treta. Depois, das duas uma: ou fecham a porta e as agências bancárias passam outra vez a serem Cafés, ou dão ordem para vender os atletas por qualquer côdea, como aconteceu com a dupla Rodrigo/André Gomes.
Como bem se percebe, estes Fundos onde andam metidos os Jorges Mendes, os Berardos, as Isabelinhas dos Santos, tem direito de veto (são eles que gerem o Benfas Star’s Fund, ao contrário do que diz o aldrabão do DIA SEGUINTE) logo podem influenciar o comportamento desportivo das Sad’s, vetando ou obrigando a vender jogadores. Pior do que isso é serem investidores em várias Sad’s ao mesmo tempo como aconteceu com José Veiga, administrador do Estoril/Benfica (caso Algarvegate) ou LFV no Alverca/Benfica (caso Mantorras).
 
Compreende-se que sejam estas as razões que levam a UEFA a ensaiar uma legislação que proíba manipulações do mercado. Já bastavam os milionários petrolíferos de Leste que compram os clubes/Sad’s, até mesmo por cá a moda parece que veio para ficar. Um senhor comprou o Belenenses, outro o Beira-Mar, outro o Estoril, e por-aí-fora. Às vezes levem cada “banhada”… Ainda na semana passada o estádio do Leixões leiloava-se com uma base de licitação de 1 euro para resgatar dívidas fiscais.
 
Também vi na televisão que o senhor Vieira precisa aumentar o número de sócios. Para o efeito vai distribuir por mailing 4,5 milhões de propostas para novos associados. Ótima ideia. Mas se não se importassem, alguém me poderia explicar como é que os “tais 250 mil sócios” só produzem de receita 15 milhões de euros/ano? Vendo no Relatório do clube a quantidade de sócios por cada categoria, e multiplicando depois pelo valor da quota de cada uma delas, como é que só rendem 15M€? Como diria o outro: “É só fazer as contas”!
 
Até à próxima

2 comentários:

Pedro Gomes disse...

Muito boa análise simples e objectiva da razão pela qual temos de vender para equilibrar as contas.
Já os sócios do carnide é como o mito dos 6 milhões: só se se for a contar animais de companhia e os defuntos.

Anónimo disse...

Caro Lima,

Já recebi a proposta de sócio por via postal.

João Moreira