segunda-feira, 23 de junho de 2014

Agora só um milagre do futebol

Portugal evitou a derrota ao cair do pano frente aos Estados Unidos e tem uma missão praticamente impossível para ainda se apurar. Precisa de golear o Gana e esperar que Americanos e Alemães não empatem na última jornada. O jogo esteve na mão, fugiu no pé de Jermaine Jones e na barriga de Dempsey, e foi finalizado com a cabeça de Varela. Há uma réstia de esperança matemática, mas a eliminação está muito próxima de acontecer.
 
É a altura em que as desculpas se arranjam, é a fase em que o dedo é apontado. Acima de tudo, é altura de reflexão e de se perceber que futuro para a sSelecção Portuguesa. Grupo unido? Claro que sim, pelo menos parece. Mas nada é eterno e a renovação é uma inevitabilidade. Lesões, lesões e mais lesões não chegam para justificar o que quer que seja. São precisas contas feitas e conclusões tiradas.
 
Ao apito inicial eram 31º C e 62% de humidade. Cansava só de ver. Suava logo ao ver as cordas vocais abanarem assim que a Portuguesa começou a tocar. Eram dados que importavam debater e analisar para perceber comportamentos, mas que teriam que ficar para abordagens futuras. A bola rolava e o futebol era 11 para 11, todos no mesmo rectângulo de jogo, todos em busca da mágica rede, que balança e faz saltar.
 
Aos saltos estava o estádio com o começo do desafio, em êxtase à espera do apito inicial entre Portugal, todo de vermelho, e os Estados Unidos, equipados de branco. Paulo Bento sabia que não havia nada a fazer sem ser buscar a vitória. Tinha-o dito na conferência de imprensa, explicou-o depois aos jogadores, mesmo sem arrojar num onze remediado - Beto, Ricardo Costa, André Almeida e Hélder Postiga entravam para as vagas de Patrício, Coentrão, Pepe e Hugo Almeida.
 
Bem mais contido esteve Jürgen Klinsmann a escolher as suas pedras. Prescindiu de um homem com tendências naturais para ponta-de-lança e deu essa vaga ao capitão Dempsey, no sentido de este atuar vagabundo e a baralhar a defensiva Portuguesa, mas com a intenção primordial de alicerçar o meio campo com músculo, solidariedade para as faixas e redução de espaços.
 
Os esquemas tácticos faziam adivinhar uma maior tendência para ser Portugal a pegar no jogo. Assim se exigia à equipa depois do descalabro contra a Alemanha. E foi precisamente isso que se verificou. A Armada Lusitana não fugiu à responsabilidade. Estava com pica, com adrenalina, com chama, via-se isso até na cerimónia dos Hinos. A resposta ia ser dada.
 
E foi. Diz a história que quem joga para empatar, normalmente acaba por perder. Klinsmann teve o castigo merecido por tamanha falta de ambição e Nani foi o primeiro a festejar por Portugal neste Mundial, ao minuto 5. André Almeida ganhou na dividida, Veloso cruzou da esquerda e o 17 recebeu, esperou que Howard se sentasse e acertou no alvo.
 
O golo era o tónico perfeito para Portugal embalar numa respiração mais confiante. Só que logo voltaram alguns fantasmas. Ganeses ou não, o certo é que nova lesão tomou conta de um jogador Português, no caso Hélder Postiga, agarrado ao músculo e a pedir substituição. Éder foi chamado (já não sobra mais nenhum avançado) para a vaga.
 
Não por causa dessa alteração, mas o jogo cedo mudou e a confiança passou a ser aflição. Inteligentes, os Americanos exploraram o lado esquerdo da defesa Portuguesa, onde André Almeida também ia dando demonstrações de dor, onde Ronaldo não descia e onde a descompensação era o tónico mais visível: Veloso e Meireles redobravam o esforço para fazer as dobras.
 
A aflição deu em quatro ou cinco lances de perigo para a baliza de Beto. Esteve à altura das exigências e contrariou a tendência que as estatísticas podiam significar. Portugal atacava menos, rematava muito menos mas estava a ganhar.
 
Só um momento inédito até agora devolveu a tranquilidade à equipa de Paulo Bento. O minuto e meio concedido pelo árbitro aos 37' para beber água serviu para uma mini-palestra improvisada, mas muito eficaz de Paulo Bento. Os Lusos relaxaram positivamente e acabaram por cima a primeira parte.
 
Nani reapareceu para pontapear para o poste, que devolveu a bola na direcção de Éder. O avançado recargou e a bola ia no sentido certo, só que Tim Howard fez uma soberba defesa para canto.
 
Discreto e inibidor estava Cristiano Ronaldo. Ninguém duvida das suas capacidades e os prémios individuais falam por si, só que a conduta do Capitão, por vezes, condiciona a movimentação de uma equipa que, bem ou mal, trabalha para potenciar as suas qualidades ofensivas. É que a forma como reage negativamente a cada má acção de um companheiro não é de líder nem de companheiro. Sempre actuou assim, é um facto, mas menos facto não é que Nani, Éder e companhia parecem intimidados e com obrigatoriedade de procurar o Capitão, ao invés de procurarem a equipa. Digamos que um líder aplaude e incentiva, não condena.
 
O intervalo trouxe William Carvalho e uma maior serenidade da equipa, que viu Miguel Veloso adaptar-se bem à esquerda da defesa, um posto que não lhe é desconhecido, mas que já não ocupava há algum tempo.
 
As melhorias ficaram visíveis em dois lances de Éder de forma acrobática (48' e 51'), incapaz de inaugurar a sua conta pela Selecção Portuguesa. Era espelho de uma melhor reentrada em campo, só que era também o mau pronúncio para o que se seguiria.
 
O golo Americano podia ter surgido pelo pé de Michael Bradley, só que Ricardo Costa estava milagrosamente no caminho da bola, limpando para canto em cima da linha de golo. Não foi aí, foi depois. Jermaine Jones aproveitou um alívio incompleto de um pontapé de canto e chutou de fora da área, seco e colocado. Empate.
 
E estava a meio, o pesadelo. Meireles teve a resposta no minuto seguinte, mas desperdiçou. As pernas começavam a falhar, Varela não tinha entrado bem e a apresentação em campo começava a ficar claramente pálida.
 
Para ajudar à festa, chegou a barriga cheia de Clint Dempsey, a empurrar para o 2 x 1 e a deixar os Portugueses de barriga vazia. Era o descalabro, outra vez.
 
Não se pode negar que tudo foi feito para se chegar aos pontos e à esperança, mas também não se pode imiscuir que o mal estava feito e que os Estados Unidos cresciam à dimensão do seu País para fechar a baliza do gigante Tim Howard. O que o Americano não contava era que Ronaldo finalmente saísse da área para ir ao flanco cruzar. Varela, como em 2012, estava lá para reavivar as contas.
 
Retirado de zerozero
 
Melhor em Campo: Nani

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