quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O Fiel Amigo

Pensáveis que ia falar do bacalhau? Ih!Ih!Ih! Nem pensar. Quero lá saber desses pratos chiques. Também não é um cão nem um gato. Hoje queria falar-vos dum velho companheiro que me acompanha há anos. Vejam lá se adivinham! Vou dar uma dica: está sempre ao meu lado, pousado na mesa da sala de jantar ou no sofá. Serve para espantar pássaros, passarinhos, passarões, cucos e aves de rapina.

Pois claro: trata-se do comando do televisor! Ao longo dos últimos sessenta anos, tantos quantos me lembro, tive vários televisores. Por alturas de 1958, o ano Calabote, ainda não existiam. Também não era preciso usá-lo porque assisti em Torres Vedras ao jogo. E em boa companhia. Esteve lá também o senhor Pinto da Costa e uma enorme massa adepta a fazer inveja aos nossos Super Dragões. Foi um ano de boa colheita. Além do título desmascarámos um trafulha afeto ao clube da treta que viria a ser obviamente irradiado. Pagámos cara essa vitória. Depois penamos 18 anos sem ganhar o campeonato. Então alguém inventou o comando/tv. De cada vez que trocava de televisor lá vinha um comando novo. E nem queiram saber quantas vezes trabalharam! Éramos roubados sem dó nem piedade...
Aos Domingos ia com os meus amigos ao Café Palladium, ali na Rua Santa Catarina, esquina com Passos Manuel, onde hoje está a FNAC. Cerca da meia-noite víamos os resumos do Domingo Desportivo. Foram quase duas décadas daquela “verdade desportiva” que o senhor Rui Santos apregoa. Só mais tarde, entre 1976 e 1979, Mestre Pedroto nos viria a dar uma Taça e dois campeonatos. Já nessa altura os comentadeiros deviam frequentar a mesma escola daquele papagaio que representa o clube da treta, na SIC-N.
Os colegas de debate até se arrepiam de vergonha por partilharem o mesmo espaço do criado de Vieira. Enquanto o vizinho dos Calimeros entrelaça os dedos e deita olhares furtivos ao monitor onde à mesma hora no canal TVI24 (um subproduto da TV das sopeiras) um correligionário fala do alto da sua experiência em retalhar os fígados em 3 secções! O “nosso” representante (o único que sabe mais da poda do que os 3 convivas juntos) olha para a mesa à espera das tiradas literárias que o palavroso debita na sua habitual verve de pacotilha como se estivesse em plena barra do Tribunal a defender o Paulo Cristóvão. Por falar nisso esta semana os adjetivos que o senhor costuma tirar da manga voltaram a ganhar aos substantivos. Uma cabazada 1048 – 325.
Nesta altura os leitores que vão tendo paciência para me ler devem estar a pensar onde é que entra o principal adereço desta encenação teatral, o comando. Nada mais fácil. Nunca está a mais de meio metro do alcance da minha mão esquerda (a direita está a manipular o iPhone). Então quando alguma das câmaras foca o ceguinho, sinal de que vai vomitar uma das suas baboseiras, eu zás! Corto-lhe o som! Mas é um martírio. Depois não sei o que ele disse. Lá tenho que usar o télélé e pedir ajuda aos meus amigos que ouvem os disparates da abécula.
No tal Café Palladium, nos anos em que não metemos a mão ao prato, fazíamos melhor. Quando aparecia o Alves dos Santos, funcionário da RTP à época, uma espécie de Carlos Daniel sempre a louvar a “instituição”, um dos nossos amigos colocava sorrateiramente um comando igual ao do café por baixo da mesa e baixava o som tornando-o quase inaudível. A macacada começava a chamar o empregado e gritava: MAIS ALTO, MAIS ALTO! O pobre do Teixeira (coitado já nos deixou) subia a uma cadeira, aumentava o volume nos botões e rouquejava: Está no máximo...

Pois é! A Liga também está ao máximo. Uma equipa a pensar que podia fazer muito fez pouco. Tem sido o nosso caso. Outra que se anunciava “campeã indiscutível” até na pobre Taça Lucílio Batista teve que baixar a bolinha. A do catedrático, como todos os anos, lá vai levada aos ombros na procissão. Por isso aos comentadeiros dos pasquins escritos ou televisionados, como por exemplo o bombeiro/agricultor de Palmela, ou o apresentador de telejornais de Paredes, deixo aqui um aviso: não adianta muito esforçarem-se a diminuir o nosso clube, jogadores, treinador ou o presidente. Sejam honestos uma vez na vida! Quando começarem a ladrar já sabem que o meu fiel amigo vai reduzir-vos à vossa verdadeira dimensão.

Até à próxima

1 comentário:

MÁRIO PINTO DA SILVA disse...

E a procissão ainda bai no adro. Os holofotes ainda não se acenderam, carago....o melhor é continuarmos a ocupar as mesas do Palladium com chávenas de café, prognósticos, mais boletins do totobola até que as cores Reais mostrem o que valem.....