quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Centralização dos Direitos Televisivos

Como é reconhecido, um dos Proveitos (Ganhos) que maior impacto tem nas contas dos clubes profissionais de futebol, é a venda dos direitos televisivos. Até há bem pouco tempo a SportTv (para facilidade de expressão vamos chamá-la só assim, embora tenha empresas associadas que tratam da compra, negociação, e transmissão dos jogos) tinha na mão os clubes a quem fazia adiantamentos por conta do valor dos contratos. Todos nos recordámos que salvou o clube da treta presidido por Manuel Vilarinho da falência quando, depois de correr com Vale e Azevedo, nem sequer tinha dinheiro para comprar a cal de marcar o campo.

Uma marioneta de má memória que passou pela LIGA classificava esses procedimentos de Joaquim Oliveira como “monopólio”. Não era! Monopólio foi, por exemplo, o exercido pela Portugal Telecom (antiga APT) durante muitos anos, que nos obrigava a pagar três mil escudos/mês para ter telefone mesmo que não fizéssemos uma única chamada. Outro caso interessante é o que reporta à Portaria Nº 216/2012 de 18 de Julho que estabelece as normas gerais da atividade de mediação dos jogos sociais do Estado atribuída à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, através do seu Departamento de Jogos, “em regime de exclusivo, para todo o território nacional". Para os mais distraídos convém relembrar que a titular desse monopólio já o era por decreto régio, para os jogos, lotarias e apostas desportivas, e agora vai acrescentar-lhes as apostas Placard. As famigeradas apostas on-line que poderiam beneficiar os clubes (sem eles não haveria em quem apostar) ficaram metidas na gaveta.
 
Atualmente é dirigida por um trampolineiro que enquanto presidente da CML praticamente viabilizou a construção de um Estádio ao clube da “verdade desportiva”. Estamos recordados dos pareceres negativos do Tribunal de Contas no que se refere aos “benefícios” dados ao clube da treta que levaram inclusivamente à falência da EPUL obrigada a construir com dinheiros públicos uma urbanização ao lado do galinheiro. Como é hábito neste país, em vez de o meterem na cadeia, o homem “andou por aí” a pastar até que, para não atrapalhar nas eleições, trasladaram-no diretamente do partido para a Santa Casa da Misericórdia.

Voltando ao tema da crónica, a SportTv que faz 17 anos no próximo dia 16 negociava com os clubes, e pagava-lhes o valor que combinavam. Nada nem nenhum “regulamento” impedia outro agente de oferecer melhores condições aos clubes. A prova disto foi a assunção por parte do Benfica da transmissão dos jogos caseiros e da Premier League há meia dúzia de anos sem quaisquer constrangimentos. Agora até já anuncia os jogos dos campeonatos de Itália e França para as próximas temporadas (2015/16 a 2017/18).

Lá por fora, seja por decreto ou por consenso entre os participantes, foram encontradas soluções que parecem apontar um maior benefício na negociação centralizada. Tirando o facto de as coisas não funcionarem tão bem por aqui como no centro da Europa, não custa nada experimentar. Os atores deste negócio que só terá estreia anunciada daqui por 3 anos quando acabarem os prazos em vigor dos atuais contratos são os habituais nas transações de compra e venda. Tudo começa no triângulo. Nós, o Produto, e o Cliente.
“N” somos nós, as nossas equipas, “P” obviamente é o produto, o pontapé-na-bola, e “C” os clientes/consumidores. Simples não é? O problema surge quando os “clientes”, como está a acontecer no clube da treta, não pagam as quotas (dos auto anunciados 230 mil sócios, depois da renumeração, passaram a metade) e a maior parte deixa de ser assinante do canal. Nas operadoras (Vodafone, NOS, MEO, Cabovisão, etc.) acontece o mesmo. A SportTv que chegou a ter 1 milhão de assinantes hoje tem metade. Para os verdadeiros donos dos direitos, os clubes, falidos até ao tutano sem crédito bancário e a contas com a proibição dos Fundos, a questão é vital para fazer face à constante subida dos Custos. A panaceia será a centralização, eufemismo que significa “receberem mais algum dinheirinho”?

Mas, e pergunta o macaco, centralizar a quem, como, e por quanto? Seja lá que entidade for a meter-se nessa alhada, tem que pensar a quem vai vender depois. Sim, porque enquanto o Oliveira compra mas exibe os jogos por assinatura, a LIGA por exemplo, teria que negociar com os operadores televisivos (SportTv incluída) a sua distribuição. As contas negativas dos últimos 3 anos na SportTv não encorajam qualquer empresário “fora do sistema” a meter-se neste negócio. Por isso julgo saber que está a ser combinada uma futura sociedade da BenficaTv com a SportTV (naturalmente sob a capa da MEO/Altice para não chatear os lampiões), que poderá resolver o problema. Ou então vender aos grandes operadores internacionais como por exemplo os que adquiriram os direitos em Espanha ou Inglaterra e que tem mercado para rentabilizar o produto.

Até à próxima.

2 comentários:

Guilherme de Sousa Olaio disse...

Como complemento do que diz, ocorreu-me enviar-lhe este artigo de PAULO MORAIS, sobre a dita Santa :

Golpe de Misericórdia

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa não é santa, porque não pertence à Igreja, nem misericordiosa com os portugueses.

25.07.2015 00:30 PAULO MORAIS in Correio da Manhã_Opinião

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) nem é santa, nem é misericordiosa com os portugueses. É uma estrutura, ligada ao Estado português, sem missão estratégica ou utilidade a nível nacional. Deveria ser extinta. Não é santa porque já não pertence à Igreja, apesar do seu nome equívoco. Este leva até a que alguns católicos beneméritos deixem legados à instituição. Um logro que beneficia de uma falta de clarificação que a própria Igreja deveria exigir. Beneficiando das receitas dos jogos sociais (Euromilhões, Totoloto, raspadinhas, lotarias), a SCML não serve, contudo, o País. As suas receitas são maioritariamente (81%) gastas em fins sociais e de saúde apenas na cidade de Lisboa. Apoia "os cidadãos mais desprotegidos residentes na cidade" (58% do orçamento) e os seus serviços de saúde gastam 23% da despesa em prestação de cuidados "à população carenciada da cidade de Lisboa". Usufruindo de receitas de todo o País e aplicando-as apenas em Lisboa, a SCML é um instrumento que leva à sucção de recursos e à sua concentração a favor da região mais rica do País, a capital. A SCML tem sido generosa, essencialmente, com políticos que vêm sendo nomeados para a sua gestão, em função da cor do governo. Em tempos de governação PS, foram provedores a guterrista Maria de Belém e o soarista Vítor Ramalho. Já nos consulados do PSD/CDS, governaram a instituição Fernanda Mota Pinto, Maria José Nogueira Pinto ou Santana Lopes, o atual provedor. Este sistema permite a utilização do poder e do dinheiro da SCML numa lógica partidária e de agendas pessoais. Extinga-se pois a SCML, estrutura privada que vive de privilégios públicos. A sua enorme receita deve deixar de ser utilizada em fins locais e deve, doravante, reverter a favor de todos os portugueses. Como? Toda a receita que a SCML recebe do jogo a nível nacional (150 milhões) poderia ser consignada a fundos para garantir reformas e pensões, como complemento da taxa social única.

Cumprimentos

JOSE LIMA disse...

Muito obrigado meu caro. Tinha uma ideia que "ali havia gato escondido" mas não conhecia alguns pormenores.
Abraço