segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Direitos Televisivos

Segundo os regulamentos da Liga, entidade criada para a organização das competições de futebol profissionais, “os clubes detém individualmente a titularidade dos direitos de transmissão televisiva dos jogos e resumos.”

No entanto, pelo menos desde a nefasta gerência de Mário Figueiredo, esta mesma LIGA tem vindo a assumir que a gestão dos Direitos Televisivos deve ser por si conduzida, com o argumento que negociando em conjunto com todos os clubes “conseguirá melhores condições nomeadamente para os mais modestos”.

Como sabemos a Liga faz parte da FPF que por sua vez está inscrita numa confederação europeia (UEFA) e outra Mundial (FIFA). Pode parecer estranho como estas confederações ditam as suas Leis, por vezes ao arrepio da legislação de cada país, e mandam às malvas conceitos como o direito à livre concorrência mesmo que possam existir acordos entre associações de empresas. Quanto a mim o problema principal nem é o legislativo mas sim a credibilidade que este mercado possa ter juntos dos investidores.
Quem são os atores deste negócio? N (nós os clubes), P (o produto, ou seja, os jogos) e C (o cliente). Não podem sobreviver uns sem os outros. Sem clubes não haveria o produto. Quanto ao cliente este é soberano. Está no sofá de pantufas, a beber umas cervejas mas não quer ser enganado com linhas de fora-de-jogo oblíquas ou repetições sonegadas. Não aceita que uns vão de colinho e os outros não. É natural que alguns queiram ganhar mais do que os outros. A repartição dos lucros pelos mais modestos é uma conversa da treta. Nos mais de 80 anos que Portugal já leva de futebol a sério só por duas vezes um dos 3 grandes não ganhou o Campeonato principal: o Belenenses na época 1945/46 e o Boavista em 2000/01.

Não se pense que vai ser fácil convencer os maiores clubes a ceder parte significativa dos seus Proveitos aos mais modestos assim como não se prevê que tenhamos mercado publicitário que permita ao futuro centralizador dos Direitos (seja ele quem for) revender o produto às operadoras com uma boa margem de lucro. Sem clientes ninguém vende coisa nenhuma.

Curiosamente há alguns anos apareceram por aí mais concorrentes a querer intrometer-se neste negócio e agora com uma nova forma de ver televisão.
Esta empresa de comércio eletrónico dos Estados Unidos anunciou há cerca de 1 ano que adquiriu os direitos de transmissão de jogos da Premier League via digital a partir de 2019 e durante 3 épocas. E não se pense que a Amazon transmite apenas futebol. Em abril deste ano, a empresa pagou vários milhões de euros pelos direitos exclusivos do Reino Unido na transmissão do torneio de ténis US Open.
Quer isto dizer que o futebol visto “apenas” pela televisão por cabo acabou. A tecnologia “streaming” permite receber no nosso telemóvel, tablet ou computador aquilo que se passa do outro lado do mundo através da rede da Internet. Se as Federações ou Ligas não quiserem aceitar e adaptarem-se a este novo formato podem ser ultrapassadas.

O streaming é uma forma de transmissão de som e imagem através de uma qualquer rede de computadores. Não se torna necessário efetuar downloads de arquivos para o computador para depois ver as gravações. Com esta tecnologia, a máquina recebe as informações ao mesmo tempo que as mostra ao utilizador. Todos nós já colocamos pequenos vídeos em direto feitos com o telemóvel para os amigos verem em casa.

Também o podemos definir como uma maneira segura de transmitir conteúdo para assinantes de televisão. A IPTV funciona de forma semelhante a serviços como o Youtube ou Netflix. Por meio de conexões de alta velocidade o conteúdo (jogos de computador, filmes, notícias, desporto etc.) é enviado para as residências de milhares de pessoas.
Depois com dispositivos como o chromecast podemos espelhar através da nossa rede Wi-Fi as imagens que recebemos no tablet, telemóvel ou computador para o grande formato da Televisão. Se tivermos uma SmartTV a mesma já traz incorporado este acessório.

Naturalmente esta nova maneira de ver televisão vai fazer com que muitos dos clientes não precisem, não possam ou não queiram ser assinantes das operadoras convencionais.

Assim sendo torna-se claro que a evolução do valor do Direitos Televisivos para os clubes não será a galinha dos ovos de ouro que muitos projetam. Começa a ser divido por muita gente e sistemas paralelos. Basta ver a quebra de assinantes da SportTV e da BTV e a dificuldade com que a recém-chegada Eleven Sports se tem deparado para vender o seu produto às operadoras nacionais. Caberá a todos nós credibilizar o produto.

Até à próxima

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