sábado, 3 de setembro de 2011

Ventos de Espanha

São conhecidas as dificuldades com que os clubes espanhois actualmente se deparam para construir os seus planteis. A tradicional “falta de liquidez”, o atraso no pagamento atempado dos salários e uma política de contratações que lhes tem aumentado os Passivos até números inimagináveis, obrigaram os clubes a negociar melhorias de condições nos direitos televisivos.

A produtora MediaPro, empresa de meios audiovisuais, a quem o Futebol Clube do Porto adquiriu o PortoCanal e que, por cá, foi anunciada como uma das candidatas a adquirir por 40M€ os direitos televisivos dos 15 joguinhos caseiros do clube da treta, esteve em risco no passado Domingo, de não ser autorizada a transmitir o Zaragoza x Real Madrid por dívidas acumuladas ao clube Aragonés que lhe recusou a entrada de meios técnicos no estádio.

A crise que também atingiu estas empresas levou a que em Espanha, neste início de época, surgissem diversos conflitos entre sindicatos, Liga, produtoras de multimédia e os clubes.

De facto, a situação em que o Zaragoza se encontra (processo de insolvência) não permitia, por uma questão de bom senso, que o Clube autorizasse a venda, pela MediaPro, dos direitos televisivos a terceiros (cadeias televisivas), sem que lhe tivesse liquidado as suas dívidas.

Um dos factores que pesaram na decisão de levantar o boicote que nos permitiu ver o jogo, foi o facto do Zaragoza querer contribuir para a pacificação das relações entre a Liga Espanhola e a Associação de Jogadores que tinha anunciado uma greve aos jogos das primeiras jornadas.

O Zaragoza aproveitou a ocasião para convidar a MediaPro a rever a sua posição totalmente inexplicável de atraso no pagamento dos direitos, pelos prejuízos que poderiam causar aos adeptos se ficassem privados de visionar os próximos jogos, noutro eventual boicote às televisões, a que o clube fosse obrigado a recorrer.

É que, independentemente das dificuldades da produtora, o Zaragoza também atravessa um mau momento financeiro com uma pré-falência anunciada, que a colocou sob a tutela dum “processo concursale“, (ante-câmara da insolvência), que vigia de perto as regras próprias desta situação: o dinheiro que entrar é para ser aplicado no plano de resgate da dívida, e o que for necessário para utilizar em compras, só sai com ordem do administrador judicial. É uma situação semelhante à que os Calimeros atravessaram há uns anos, só que, em vez dum admnistrador judicial, estava na Direcção um administrador do principal Banco credor.
  
Outra das questões que opõe os clubes aos produtores de meios audiovisuais é quererem obrigar as emissoras de rádio a negociar, à semelhança do que fazem as operadores televisivas, uma verba pelos direitos radiofónicos dos relatos dos jogos. Claro que esta matéria que já está legislada mas nunca foi posta em prática, teve por parte das rádios uma oposição frontal, invocando “direitos adquiridos há longos anos”, agora que, parece ser mesmo vontade dos clubes impedir a entrada dos equipamentos de transmissão nos estádios. Tudo isto porque com as recentes dificuldades dos mercados financeiros, os Clubes não tem o acesso tão facilitado ao crédito como estavam habituados, e procuram por todas as formas obter receitas para reforçarem os seus planteis.

Enquanto que os clubes mais modestos se debatem com a sua própria sobrevivência, os poderosos passam incólumes a estas “minudências”. Basta ver que o Atlético de Madrid que também não atravessa uma situação fácil, mesmo assim, “dá-se ao luxo” de “emprestar” jogadores a outros clubes, nomeadamento o acima mencionado Zaragoza.

A moda actual é também o recurso a fundos de jogadores, empresários individuais ou institucionais, esquemas de trocas ou empréstimos entre si , investidores internacionais, e a venda dos direitos económicos dos melhores atletas, não parecendo as direcções dos clubes, estar muito preocupadas com o facto de entrarem 15 jogadores e saírem outros 15.

Por outro lado a situação de dependência dos “fundos” é perigosissíma, na medida em que a forma de actuar destes grupos fortemente suportados por operadores financeiros (leia-se Banca), empresários desportivos e novos-ricos do petróleo trata-se, na sua essência, duma forma de empréstimos encapotados com percentagens dos passes a servirem de penhor.

Para os menos atentos, vale a pena recordar que quem gere a política dos Fundos é sempre a sua Comissão de Gestão que naturalmente se sobrepõe à vontade dos clubes, podendo forçar a venda do activo sempre que o jogador iguale ou ultrapasse o valor da avaliação feita pelo Fundo, salvaguardando-se apenas o caso em que o clube o queira “recomprar”.

Se observarmos pelo lado dos “mais ricos”, sabe-se que mesmo o Real de Madrid ao apresentar um orçamento de 600M€, a maior verba de sempre dum clube de futebol, também anda à procura, em segredo, dum comprador para o naming do estádio!

Com o fecho do mercado e os restantes clubes, excepção feita ao Barcelona, práticamente falidos, apetece perguntar ao senhor Seara que anda de joelhos a mendigar um lugar na nossa querida FPF, porque raio deseja que o nosso futebol, “siga o exemplo de Espanha”?

Até para a semana

2 comentários:

Pedro Silva disse...

Lima, só um pequeno reparo antes de assinar por baixo a sua crónica:

O Barcelona também não anda muito famoso financeiramente. Aqui há tempos os Catalães tiveram de pedir um empréstimo bancário de 90 e poucos Milhões de € para poderem pagar Ordenados.

O Barcelona pode é disfarçar bem as suas finanças porque tem muitos adeptos e na Ásia toda a gente tem as suas Camisolas, mas em termos financeiros não anda muito longe do buraco que existe no Real Madrid.

De resto assino por baixo o que escreveu. Também eu fico perplexo com a insistência de Fernando Seara em que o nosso Futebol siga o exemplo do mega falido Futebol Espanhol.

Cumprimentos.

Santos AAC disse...

Parece-me que é mais uma prova (se é que era precisa) de que o Seara não percebe nada de futebol.
Na realidade ele apenas "quer" a cadeira da FPF para permitir ao benfica recuperar o controlo do futebol (após a experiência, mais ou menos bem sucedida, do Hermínio Loureiro, que fracassou porque este deu de frosques quando percebeu que podia ser responsabilizado pelas "diabrites" do Ricardo Costa).
Mas, apesar do fracasso financeiro da maior parte dos clubes espanhóis, é inegável o sucesso desportivo da Espanha (seja ao nível de alguns clubes, mas sobretudo ao nível da selecção, alicerçado pelo sucesso desportivo do modelo formativo do Barcelona).
Mas é estranho vermos clubes como o Saragoça, em processo de insolvência a contratar por milhões Roberto, Postiga e Micael (mesmo que por empréstimo); ou um Atlético de Madrid dar 40 milhões por Falcao, e ainda contratar Diego; ou um Granada, recentemente subido, contratar um contentor de jogadores (de qualidade duvidosa) ao benfica...
Já o disse várias vezes que me preocupa a ausência de candidatos à FPF (além dos já referidos Seara e H. Loureiro) mas, sobretudo, pela total ausência de um projecto para o futebol português.
A FPF não se pode resumir à selecção principal. Tem de repensar todo o modelo formativo em articulação com os clubes, a exemplo do que foi feito com Carlos Queirós, na sua primeira passagem em que a conquista dos títulos e bons resultados em mundiais e europeus, foi um corolário de um processo e não um acaso (como sucedeu com o 2.º lugar no último mundial da Colômbia).
Mas ianda mais preocupado fico, quando olho para a equipa campeã nacional e vejo apenas 4 portugueses no plantel e nenhum deles foi formado no clube (Rolando, Moutinho, Varela e Emídio Rafael). Confesso que não percebo esta política desportiva que aposta milhões em Dragon Force's e ainda mais milhões em jogadores estrangeiros, não dando oportunidades aos jovens que forma.
Recordo a equipa que conquistou a Europa em '87 que, em 30 jogadores tinha apenas 7 estrangeiros e em que, dos 23 restantes jogadores, 20 eram oriundos das camadas jovens do Porto.
Saudações Académicas,
Santos D.