Como é fado Lusitano, só à incontável ocasião de golo é que Portugal se libertou dos demónios em Baku, no Azerbaijão, na passada terça-feira. Bruno Alves (63’) e Hugo Almeida (79’) - já tinham marcado por esta ordem na última visita aos Azeris - expurgaram os males de uma Selecção perdulária com dois golpes de cabeça que deixam Portugal de pensamento fixo no Brasil.
Era preciso lavar o rosto das feridas de Tel Aviv e Paulo Bento começou por acrescentar uma alteração à ausência forçada de Cristiano Ronaldo. O Capitão, castigado, foi substituído por Vieirinha – que bela exibição -, enquanto Danny entrou no “onze” por troca com o apagadíssimo Silvestre Varela. E a verdade é que a nova imagem Portuguesa mostrou-se agradável em Baku; só o golo, esse mal tormentoso, é que teimava – por capricho do poste ou pela crónica ineficácia de Hélder Postiga – em sonegar-se ao jogo Lusitano. Mas já lá vamos.
A primeira nota do jogo vital de Baku vai para a defesa, sector esburacado e desconcentrado em Israel e transversal a toda a qualificação. Na primeira parte, só aos seis minutos e aos 34’ houve perigo junto a Rui Patrício, num remate cruzado de Ismailov e após um canto que lançou a confusão na área Portuguesa. De sobressaltos no primeiro tempo estamos conversados, também porque os Azeris se mostraram relativamente inofensivos.
Pois bem, falemos agora do histórico fado do desperdício Lusitano, personificado – sem que aqui haja qualquer espécie de perseguição – na figura de Hélder Postiga. Se os números até lhe dão crédito na Selecção – é o melhor marcador da equipa na qualificação -, as tantas e tantas ocasiões que desperdiça levam o mais paciente do adepto à loucura. Em Baku, esbanjou cinco bolas de golo – uma delas inacreditável – só nos primeiros 45 minutos.
Se aos 17 minutos o remate de meia distância foi travado pelo mérito de Kamran Agayev, as restantes são da inteira responsabilidade do ponta-de-lança Português. Aos 13’ e aos 22’ desviou fraco de cabeça após cruzamentos de Danny e de Vieirinha (repito, o Melhor em Campo); aos 27’ foi lento na reacção a uma bola que gritava por um toque sobre a linha e aos 45+3, bem… aí não há explicação: o avançado do Zaragoza até apareceu bem na antecipação, mas desviou tão mal, de cabeça, à figura de Agayev. E com isto, o intervalo chegou apeado no 0 x 0.
O primeiro momento-chave após o reatamento deu-se aos 55 minutos, quando o avançado Azeri Rauf Aliyev se esticou no lance com Pepe e viu o segundo cartão amarelo. A consequência lógica pinta-se de vermelho e Portugal passava da obrigação de vencer à supraobrigação de bater o Azerbaijão. Paulo Bento não tardou a mudar e tirou o médio Meireles para reforçar o ataque com Hugo Almeida, aos 58 minutos.
Faltava, pois, aquele golpe de libertação; o exorcismo demoníaco do golo. Deu-se, por fim, nas alturas e pela cabeça de Bruno Alves, que já tinha feito o mesmo em Tel Aviv. Foi aos 63 minutos, na sequência de um canto perfeito de João Moutinho. O defesa central do Zenit, Capitão de Portugal na ausência de Ronaldo, saltou bem alto ao primeiro poste e desatou o zero que ameaçava ser contagioso para os minutos finais.
Seja como for, a Selecção das «Quinas» está longe de limar os defeitos, sobretudo os da mentalidade que Paulo Bento aflorou após o empate em Israel. Ao golo da libertação seguiu-se o jogo da mastigação; a vantagem devolveu a Portugal a sonolência sobranceira que não raras vezes conduz ao precipício. A coisa correu bem, porque um Azerbaijão – e ainda para mais com 10 – não teve manta suficiente para esticar até Rui Patrício.
Para arrumar a questão apareceu Hugo Almeida, aos 79 minutos, também ele de cabeça, após cruzamento de Fábio Coentrão. Curiosamente, após a história de desperdício da primeira parte, Portugal acabou por provar na segunda que se podem fazer golos sem esbanjar um pote de oportunidades - apesar do falhanço inacreditável de João Pereira, aos 92'; e com 11 pontos somados, a pressão cai agora para Israel. Quanto a Portugal, segue-se a Rússia - sem Pepe, que viu o segundo amarelo - e a derradeira esperança de reacender a luta pelo 1.º lugar. É preciso é não o vender o peixe da desistência antecipadamente…
Retirado de zerozero
Melhor em Campo: Vieirinha
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