terça-feira, 20 de agosto de 2013

Porto arranca a vencer mas com alguns apontamentos preocupantes.

 
O Porto arrancou o campeonato com uma vitória, mas apesar da última imagem que ficou ter sido o enorme talento de Quintero e a água na boca que deixou de ver mais vezes e com mais tempo de jogo, o Porto deixou alguns apontamentos que são preocupantes tendo em vista o futuro.
 
É sabido que P. Fonseca tentou imprimir um cunho próprio a este Porto, e abdicou da ditadura da posse imposta por V. pereira, na época anterior, e priorizou um Porto a jogar de forma mais vertical, um jogo com maior profundidade ofensiva e em que se explora mais o jogo pelas alas e não tanto o jogo pelo meio, com sucessivas tabelinhas quase a tentar marcar golos como em futsal.
  • P. Fonseca arriscou ao desfazer um 4x3x3 que tem sido a matriz do Porto da última década talvez
Falou-se muito da inversão do triângulo operada por Fonseca do 1X2 para o 2x1 e se isso seria uma opção mais ofensiva ou defensiva. Creio que o jogo da supertaça e mesmo este com o Setúbal esgotou para qualquer distraído qualquer dúvida de que ao inverter o triângulo o Porto não abdica de atacar, e se calhar até ataca e se expõe mais. Pode parecer contraditório, como é que passar para dois médios mais atrás se pode atacar mais.
Ora a questão é que o futebol não é pura matemática. É um jogo que pode ter os seus esquemas desenhados previamente mas que vive de dinâmicas. A mesma táctica com as mesmas peças pode ser totalmente diferente consoante a dinâmica que se imprime. Ora P. Fonseca opta pelo 2X1 mas em termos de dinâmica o que pretende é que o Porto saia a construir o jogo ofensivo mais de trás e que Fernando deixe de ser apenas o jogador dos equilíbrios e que ele próprio possa desequilibrar à frente e fazer movimentos de ruptura. Depois é preciso ver que o médio que se junta a Fernando é um médio que não é defensivo, espera-se quê seja um médio com rotação, capaz de pautar o jogo e aparecer em zonas de finalização.
 
Por outro lado, o Porto torna-se ainda mais ofensivo porque passa na prática quase para um 4-2-3-1. Isto porque Lucho sobe alguns metros no terreno para poder estar mais próximo de Jackson que na época passada tantas vezes sofria por ter poucos apoios próximos. Lucho agora joga quase como um 10 à antiga. Com liberdade para deambular nas costas do ponta de lança e aparecer algumas vezes a cair nas faixas, permitindo que o extremo flicta para o meio e apoie o ponta de lança em momento de finalização após cruzamento para a área.
Quando em posse, este jogo do Porto é mais vertical, mais ousado, com mais nervo, mais objectivo do que era o Porto com Vítor Pereira. Por outro lado, ficava a questão: como seria este Porto em momento defensivo?
  • E é aí que começam as preocupações…
Já na pré época em alguns jogos, principalmente nos da América do Sul se tinham visto falhas defensivas que não eram muito comuns. Pensava-se que poderia ser algum facilitismo de pré época. O jogo da supertaça não deu para dissipar grandes dúvidas uma vez que o Guimarães ofereceu pouca oposição ao Porto, ainda para mais, vendo-se a perder tão cedo.
 
Contudo este jogo com o Setúbal deixou algumas preocupações em aberto. O F. C. Porto deu muito espaço ao Setúbal no momento da transição ofensiva dos vitorianos. O Porto em transição defensiva demonstrou-se bastante desorganizado.
 
Contingências das alterações operadas por Fonseca a meio campo e que se trata de mexer numa estrutura que está sedimentada no adn do Porto. Não que achemos que seja crime de lesa pátria a ousadia e até arrojo de Fonseca. Contudo, deverá demorar tempo a ser afinado e convém salientar que contra outras equipas os espaços que o Porto concedeu ao Setúbal poderão ter resultados catastróficos.
Á primeira vista poderá colocar-se as culpas apenas no quarteto defensivo. Afinal viu-se Otamendi e Mangala perderem as primeiras bolas, algo raro , e Danilo a ver muitas vezes o seu espaço nas costas explorado ( aqui já não é algo de assim tão novo), contudo será preciso ver a equipa como um todo para perceber tamanhas falhas.
 
Mais grave ainda, foi perceber que o Porto mesmo jogando contra 10 jogadores continuou a mostrar insegurança e incapacidade de conseguir controlar o jogo e não permitir veleidades ao Setúbal que mesmo com 10 ia conseguindo discutir o jogo e aparecer em zonas de finalização.
 
A verdade é que a defesa do Porto em todo o campeonato passado nunca se viu tão exposta aos ataques adversários como neste jogo em Setúbal. Trata-se de um problema colectivo, de um problema táctico.
 
Lucho a 10 nesta fase da carreira até faz sentido, pois Lucho jogando a 3 no meio campo por vezes não aguentava o desgaste inerente às funções defensivas e não tinha depois a mesma frescura para aparecer em zona de finalização ou último passe como costumava fazer antes da sua ida para o Marselha.
 
A ideia de Fonseca era boa, colocar Lucho mais próximo da zona de decisão, com maior liberdade para pensar o jogo e assim poder durar mais tempo em campo, algo que era mais complicado jogando uns metros mais atrás.
Mas é um facto que subtraindo Lucho as dinâmicas a meio campo alteram-se de forma algo radical. Fernando tem que se acostumar a partilhar espaço com outro médio, e tem que saber ser mais do que um médio de contenção e de equilíbrios como o era no 4x3x3 habitual.
 
Essa dificuldade de articulação com o 2º médio faz com que o Porto quando em posse, seja capaz de colocar muitos homens na frente, 3 avançados, mais Lucho, mais Defour ou Fernando, e ainda os laterais. O problema é quando perde a bola. A equipa no momento da perda encontra-se várias vezes desposicionada, totalmente desiquilbrada obrigando a que a defesa, nomeadamente Mangala ou Otamendi tenham a enorme responsabilidade de terem que ganhar a 1ª bola, caso contrário a equipa não tem tempo para recuperar e fica muito espaço no meio campo para o adversário explorar e chegar rapidamente à baliza de Helton com pouca oposição.
De certa forma, assiste-se por vezes a uma “benfiquização” do Porto. Sei que isto poderá parecer até pecado, mas digo-o no sentido em que por vezes aparenta ter aquilo que o Benfica de Jesus tinha de mais fraco. Uma equipa que realmente consegue colocar muitos homens no processo ofensivo, consegue empolgar, joga sempre com os olhos colocados na baliza, mas que também permite que o jogo se parta muito entre defesa e ataque, o que para adversários que saibam explorar bem os espaços pode ser fatal.
  • O Porto ao longo destes anos, pode não ter sido o campeão da nota artística nem a equipa que mais entusiasma, mas tinha algo que ganhava campeonatos… Solidez
O Porto sempre tem sido uma equipa equilibrada. Sem vertigem, serena, sabendo gerir os ritmos do jogo conforme lhe convém mesmo que isso possa significar um jogo por vezes mais arrastado e pouco entusiasmante para a bancada. O Porto de Vítor Pereira tinha dificuldades nos jogos contra equipas muito fechadas, contudo praticamente não lhes dava uma única hipótese de criar uma oportunidade de golo.
 Era uma equipa muito compacta, que usava e abusava da posse mas que sabia defender-se muito bem com ela. Raramente era apanhada em contrapé. No momento de perda da bola, era a equipa que melhor sabia reagir em Portugal. Asfixiava o adversário e não o deixava jogar e podia fazê-lo porque durante grande parte do jogo tocava a bola, por vezes até levar o adversário e o próprio Porto e massa associativa à exaustão.
 
Mas a equipa estava sempre brilhantemente posicionada no momento de perda da bola. Era uma equipa fortíssima na transição defensiva e que por isso era mesmo a melhor defesa do campeonato e uma das melhores da Europa. Era muito complicado apanhar o F. C. Porto desprevenido no momento da transição.
 
Ora os jogadores da defesa mantêm-se todos. Não será por isso uma questão individual. Trata-se de uma questão estrutural, uma questão de dinâmica. Este Porto de Fonseca parte mais o jogo, algo que Vítor Pereira abominava. Ele próprio dizia que não gostava de ganhar 4-3 porque isso significaria um jogo partido e que a sua equipa não havia dominado o processo defensivo.
 
Paulo Fonseca ainda no Paços dizia-se fã de Jorge Jesus. Curiosamente o Paços pautava-se por ser uma equipa essencialmente organizada e aguerrida e não propriamente super ofensiva.
 
Contudo no Porto Fonseca realmente tem aparentado deixar uma certa vontade de trabalhar para uma nota artística mais elevada e este Porto demonstra uma maior aproximação ao estilo de Jesus, embora não ainda ao ponto de inventar adaptações, e de jogar com dois pontas de lança e um extremo adaptado a médio centro.
O Porto de Vítor Pereira sofria para furar defesas como as do Setúbal, contudo em jogos contra o Benfica, contra equipas que quisessem partir o jogo, o Porto dominava e subjugava o adversário com a sua posse e excelente controle dos espaços. Não deixava jogar. Apenas o Porto tinha a bola.
 
Este Porto de P. Fonseca para já aparenta ser capaz de entusiasmar mais, de ter um futebol menos sonolento, mas também se mostra perigosamente exposto na transição defensiva. Poderá ser bom para derrubar autocarros, mas poderá ser perigoso quando do outro lado encontre uma equipa que se dê bem com um jogo partido e com espaços para as transições.
 
Este Porto quer discutir o jogo pelo jogo, jogando mais aberto e deixando também que o adversário possa assim responder.
  • Um bom “problema” chamado… Juan Quintero
Será importante ver como Fonseca lidará com estes sinais, mais ainda quando tem um novo problema para resolver. Neste caso, um bom. Juan Quintero. Foi o que melhor se retirou do jogo de Setúbal. Aquele pé esquerdo não engana, e Quintero tem que assumir a titularidade. E a 10. Curiosamente a posição assumida por…Lucho. Um intocável para P. Fonseca. Mas aí residirá também muito daquilo ele poderá valer como líder. Até Baía num certo momento teve que passar a tocha a Helton. Não será vergonha nenhuma se tiver chegado o momento de Lucho fazer o mesmo com Quintero. Até porque claramente o Colombiano encaixa melhor neste 4x2x3x1 jogando como 10 e seria um crime prendê-lo a uma faixa. Mais ainda quando para esse papel de falso extremo já temos Josué que fez também uma grande exibição e que combina muito bem com Quintero no onze, pois ambos são esquerdinos entendem-se às mil maravilhas fazendo trocas posicionais entre si. Já tenham deixado sinais muito interessantes quando Quintero coabitou com Josué no amigável com o Nápoles. Será uma pena não explorar esta sociedade de esquerdinos…
Tem a palavra Paulo Fonseca…

3 comentários:

Paulo disse...

Excelente a sua análise ,espero que Paulo Fonseca consiga encontrar o equilibrio que para já se nota ainda faltar á equipa,tem matéria prima para isso,talvez lhe falte um extremo que desiquilibre ,pena Bernard não ter vindo,mas penso que a mudança de treinador ,foi no sentido de haver um pouco mais da chamada nota artistica,pois notava-se uma quebra de assistência no Dragão talvez motivado pelo tal futebol de posse de Vitor Pereira, embora também ache que Vitor Pereira não dispunha de tantas soluções ,especialmente no meio-campo.

Saudações Portistas

Paulo Almeida

leportista disse...

Nao posso estar mais de acordo com a analise do Ricardo. Dois jogos totalmente diferentes com o Guimarães entramos a ganhar, com o Vitoria do Zé do Pau entramos a perder, daì que os desequilibrios defensivos se tornassem tao flagrantes.

Ricardo Costa disse...

Muito obrigado pelos comentários.
Creio que a escolha por P. Fonseca e as mudanças operadas foi um pouco nesse sentido, de entusiasmar mais o público do Dragão em relação ao jogo mais pausado praticado pelo Porto de V. Pereira.
Agora é um risco. Veja-se a discussão pelos lados da Luz em que os adeptos estão fartos de nota artística e querem ganhar nem que seja a jogar um futebol menos atrativo.
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Este Porto fica mais exposto e perde um pouco daquela segurança defensiva que dá campeonatos que tinha com V. Pereira ainda que não entusiasmasse tanto.
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P. Fonseca ainda está a implementar as suas ideias, vamos ver se ele conseguirá encontrar um equilíbrio principalmente na forma como deve funcionar a nova configuração do meio campo.
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Parece-me também importantíssimo a tal contratação de um extremo com as características que tinha Bernard. Terá que ser um ás de trunfo, que venha para ser titular indiscutível e para ser um desequilibrador que faça a diferença.

Um abraço.