terça-feira, 24 de setembro de 2013

A força de Jesus.

Jorge Jesus é uma personagem peculiar no futebol português. Um megalómano que se considera o mestre da táctica e que consegue realmente coisas prodigiosas que vão muito para além do simples resultado desportivo.
 
Falamos de um treinador que consegue estar 4 anos num clube como o Benfica, ganhar apenas um campeonato e vê ainda assim o seu contrato renovado sendo o treinador mais bem pago da história do futebol português e um dos mais bem pagos em todo o Mundo neste momento.
 
Jesus é realmente um fenómeno estranho. Mas o seu poder vai muito para além destas façanhas. Jesus está acima do bem e do mal, está acima da lei, está acima da sociedade em que todos vivemos.
Jesus é provavelmente dos treinadores que mais vocifera contra árbitros assistentes que saem todos os jogos com as orelhas a arder. Não me recordo de um jogo em que Jesus tenha sido expulso. Jesus que sempre sai da sua área técnica e que deve ter dos comportamentos mais inflamados desde o banco de suplentes de que há memória em Portugal.
 
Por menos já vimos treinadores considerados como sendo exemplos de cordialidade e desportivismo como Jesualdo Ferreira ou André Villas-Boas a serem expulsos. O que tinham em comum? Ambos treinavam o Porto...
O que dizer dos treinadores temperamentais como Jorge Jesus… Ora bem, Jorge Regadas já deve ter penhorado quase todos os bens só para pagar as multas à liga. Sérgio Conceição por exemplo, ferve também em pouca água e por isso já foi expulso umas 3 vezes mesmo com uma carreira ainda curta.
  • Jorge Jesus está há 4 anos no Benfica, não me recordo de uma vez que tenha sido expulso
Será que seria o mesmo se ele ainda treinasse o Felgueiras ou o Estrela da Amadora? Claro que não. Jesus é forte, mas porque tem como escudo um clube que gosta de se dizer sério e que nada tem a ver com sistemas, mas que na realidade goza de um grau de inimputabilidade único no futebol português, algo que obviamente se estende aos seus assalariados. Que o diga Maxi Pereira que consegue ano após ano a proeza de acabar todos os jogos sem ser expulso.
  • Mas voltemos a Jesus
No início desta semana ele demonstrou bem o peso e a influência que tem no decurso do que se passa neste país futebolístico. Um campeonato que começou cambaleante para o seu Benfica com derrota na Madeira e empate em Alvalade e vitória sofridíssima com o Gil Vicente.
 
Jesus via o Porto a descolar-se e até o Sporting, até então visto como fora da corrida pelo título. Ora o que fez Jesus? Lança pressão na conferência de imprensa prévia ao jogo com o Guimarães. Resultado? O Sporting empata com o Rio Ave com um penalti por marcar a seu favor e o Porto no Estoril empata com dois golos ilegais do Estoril,um deles num penalti por uma mão que é dada a uns bons 2 metros da grande área.
 
Nisso Paulo Fonseca tem razão. Jorge Jesus consegue mesmo ser omnipresente. Ele conseguiu estar em 3 jogos ao mesmo tempo. Sim, porque o Benfica também ganharia o Vitória de Guimarães a jogar contra 10.
  • Mas o poder de Jorge Jesus nunca se esgota
Já sabíamos que junto da arbitragem a sua influência pesa, e esta semana foi prova disso. Mas também em anos anteriores tínhamos visto que mesmo em termos de comissão disciplinar, Jesus mete muito medo. Lembremo-nos que o mestre da táctica por mais que uma vez ameaçou adversários e uma vez chegou mesmo a agredir um jogador do Nacional. O que resultou daí? Uma suspensão mínima mas apenas para a altura das férias em que Jesus não necessitava de ir para o banco.
Contudo em Guimarães vimos nova face do poder de Jorge Jesus. O homem está também acima da lei. Da lei comum que todos nós, comuns cidadãos, temos que respeitar. Para Jorge Jesus não existe autoridade acima da sua. Ele está acima da própria autoridade policial. Para ele não existe nenhum código penal ou regulamento disciplinar que o possa refrear.
 
Assistimos a mais uma cena que parece demasiado ridícula e grave para ser verdade mas aconteceu. Após uma invasão de campo em que as forças de segurança tentavam travar e fazer o seu trabalho vimos Jorge Jesus tresloucado a agredir agentes de autoridade, desde stewards passando por polícias.
Ora fica a questão: ter-se-á inventado uma nova categoria de inimputabilidade? Que raio de exemplo se dá para a sociedade quando um treinador faz aquela figura e nem sequer é detido pela polícia como seria qualquer outro cidadão que investisse contra um agente de autoridade?
 
Fica aqui apenas o artigo 347º do Código Penal: ”Quem empregar violência ou ameaça grave contra funcionário ou membro das Forças Armadas, militarizadas ou de segurança, para se opor a que ele pratique acto relativo ao exercício das suas funções, ou para o constranger a que pratique acto relativo ao exercício das suas funções, mas contrário aos seus deveres, é punido com pena de prisão até 5 anos.”
 
Qualquer cidadão que tivesse cometido o acto que cometeu Jesus teria sido automaticamente detido e presente a juiz. Como se tratava do treinador do Benfica nada aconteceu. Aliás a cara do polícia era sintomática. Nem sabia o que fazer e só pedia ao treinador do Benfica para se acalmar. Isto fez-me lembrar na meiguice com que as forças de segurança costumam tratar manifestantes, por exemplo… Mesmo quando estes não agridem forças de autoridade, ou quando oferecem resistência mas não neste grau.
Porquê dois pesos e duas medidas? É isto um Estado de Direito Democrático?
 
Por outro lado, sei que os órgãos de comunicação social tentarão abafar o caso e relativizar tudo o que se passou… É um facto que Jesus é um homem desesperado. Só um homem desesperado faz aquilo após ganhar um jogo dizendo que o faz para defender os adeptos do Benfica… Claramente é um homem que quer ganhar o respeito dos adeptos que tem-se vindo a perder desde o caso Cardozo. É alguém que sente o seu lugar em risco e vive debaixo de uma grande pressão…
Mas não nos desfoquemos.
  • O que se passou foi apenas um caso de polícia? Não. A Justiça Desportiva não pode nem deve fechar os olhos para um acto tão grave como este.
E o F. C. Porto devia ser o primeiro a esta relativamente atento a este caso. Sim, porque não nos devemos esquecer do que foi o campeonato dos tuneis. Da forma ignóbil como Hulk e Sapunaru foram suspensos. Na altura por terem agredido Stewards que estavam colocados estrategicamente numa zona de acesso vedado para provocar os jogadores portistas.
Vimos a Comissão Disciplinar da Liga a condenar em suspensões de 3 e 4 meses. Mesmo que mais tarde se tenha verificado que de forma errada. Contudo o serviço estava feito e o campeonato ganho pelo Benfica. Agora fica a pergunta. O que mudou? Mudou o regulamento disciplinar que entretanto incluiu, agora sim, os Stewards como agentes desportivos quando nessa época não eram.
  • Assim sendo o que acontecerá a Jorge Jesus por agredir agentes de autoridade?
O artigo 168º do Regulamento disciplinar da Liga inclui os treinadores numa série de sanções previstas no mesmo regulamento disciplinar.
Mais concretamente, artigo que refere que os dirigentes ( neste caso aplica-se por remissão também aos treinadores) que “agredirem voluntariamente agentes de segurança pública(…) são punidos com pena de suspensão a fixar ente o mínimo de 3 meses e o máximo de 3 anos
 
Os treinadores ao abrigo do artigo 168 nº 2 gozam da benesse de verem as penas mínima e máxima reduzidas em ¼. Ainda assim, não escapam de suspensão. No caso de Jorge Jesus poderíamos até falar de uma reincidência, pois no seu cadastro já conta uma agressão a um jogador.
 
Por muito que muitos tentem abafar este caso, caberá ao F. C. Porto e aos demais competidores exigirem que se cumpram os regulamentos e não apenas para alguns. E cabe à justiça comum não se eximir igualmente de tratar Jorge Jesus como trataria a qualquer outro comum cidadão que tivesse a infeliz ideia de agredir de forma reiterada um agente de autoridade.
 
Se uma vez mais nada ocorrer, é a prova provada de que Jorge Jesus goza mesmo de um estatuto especial de inimputabilidade e deveria alterar-se o código penal e incluir essa especificidade.

3 comentários:

Pedro Silva disse...

Meu caro isto do JJ estar acima da Lei já não é de agora.

Há coisa de uns bons anos atrás, quando Jorge Jesus era o Treinador do Felgueiras este esteve envolvido numa polémica parecida com a que descreves. Na altura o Catedrático tinha levado para o campo uma moca que estava escondida na manga da sua camisa.

O caso deu que falar mas confesso que não me recordo que tipo de punição teve o JJ mas para o tipo voltar a fazer igual figura diante das Autoridades é porque não teve nenhuma. Na altura, tal como agora, o Homem estava à rasca pois o Felgueiras se não era o último classificado andava por lá perto.

Agora acho piada à forma como o Jornal Record o tenta proteger. Já vai em pedido de desculpas e foi o primeiro a dar destaque ao Presidente da AFL que pelos vistos não sabe se levou um murro ou uma palmada dos Dirigentes do FC Porto (esta gente do norte mais a violência). Assim como também não deixa de ser engraçado que o mesmo Presidente da AFL tenha dito Lisboa contra tudo e todos, o que não deixa de ser sintomático no caso da palmada/murro.

Isto para dizer que fosse tu ou eu a olhar de lado para um Policia e teríamos logo quatro efectivos a chegar-nos a roupa ao pelo e teríamos ido passar a noite à esquadra. Mas como foi o “Jasus” uma condenação a trabalho comunitário basta e chega. Afinal o até já pedem desculpas pelo homem e tudo.

Paulo disse...

É o que dá ser treinador de um clube que se acha acima da lei,e que pelos vistos não é só achar está mesmo.
Também eu acho que o FCPorto não devia deixar este assunto "morrer" porque a comunicação social lisboeta (que infelizmente é quase toda) já está a tratar de branquear a situação e desviando as atenções com o empolamento do que se passou no camarote do estadio do Estoril.

Saudações Portistas
Paulo Almeida

Pedro Silva disse...

Deixo aqui um pequeno aviso à navegação.

Podem discordar do que aqui vai sendo escrito até porque este é um direito que assiste o leitor seja este de que clube for, agora o que não é permitido é a utilização de termos como merda, foder e outros do género


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