quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Fundos e Fairplay

Volta-e-meia lá vem a questão à baila. Os Clubes e/ou Sad, podem ou não ter jogadores colocados em Fundos? Como sabemos, em Inglaterra já foram proibidos, e o movimento pode alastrar a outros países. Fontes oficiosas da Fifa e da Uefa lançam alguns balões de ensaio para medir as reacções dos clubes mais representativos.
Há uma dezena de anos os Fundos de Jogadores não existiam. Os clubes mais modestos recorriam aos empresários locais que tinham uma fabriqueta de sapatos, ou de camisas, sacavam-lhes umas maçarocas que nunca mais devolviam e quando a coisa apertava homenageavam os “beneméritos” elevando-os à categoria de “sócios honorários”.
 
Os tempos mudaram, os otários foram desaparecendo e a Banca vislumbrou ali um maná. Alguém duvida que, por exemplo, o BES vê os 3 grandes como alguns dos seus melhores clientes? Este ano e a fazer fé no seu último Relatório, só a SAD da “instituição” teve Custos Financeiros de 22,7M€. As recentes determinações da Troika que nos governa, em decidir acabar com a brincadeira dos empréstimos aos clubes, motivou o subterfúgio da criação de Fundos de Investimentos, as modernas casas de penhores.
 
Na prática é muito simples. Um grupo bancário aliado a um conjunto de empresários compra ao Clube/Sad determinada percentagem dos direitos económicos de vários jogadores. Mais tarde numa eventual transferência de qualquer jogador para outro clube, naturalmente por valores superiores aos da avaliação, obterá um lucro igual ou superior ao do seu investimento. No caso do Benfica Stars Fund, verifica-se a insólita situação da SAD ser também investidora, isto é, subscritora de 15% do valor do Fundo e beneficiar nessa percentagem de eventuais lucros que daí advierem. Na prática recebe sempre um “adiantamento” sem ter que pagar juros à Banca.
O que pode acontecer de errado nisto? O Fundo não conseguir vender jogadores em tempo útil. Além disso a SAD não manda absolutamente nada no Fundo. Este avalia os passes de cada atleta através duma comissão de gestão que poderá, se assim o entender, “forçar” a venda de qualquer jogador conforme a estratégia que pretenda desenvolver. Em princípio a venda será aprovada desde que a quantia oferecida se aproxime dos limites da avaliação que entende justos. Contudo pode dar-se a situação inversa. O Fundo querer vender para realizar capital mas por valores que não sirvam os interesses do Clube/SAD. Se este discordar pode contudo exercer a “recompra” devolvendo o valor encaixado voltando o jogador à origem.
 
Mas não será por esta razão que a UEFA está preocupada. O motivo das reservas é pensar-se que os Fundos sirvam para a lavagem de dinheiros ilícitos além de poderem fazer subir ou baixar artificialmente os valores dos passes duma forma especulativa.
Outra questão mais relacionada com o fairplay financeiro prende-se com as dívidas atingidas por alguns Clubes/Sad e a situação de falência que algumas evidenciam. Os rendimentos consolidados totais da Benfica SAD, que inclui os operacionais, as transacções de atletas e os financeiros, no valor de 145 milhões de euros, representam o valor mais elevado de rendimentos alcançado pela Benfica SAD até hoje. Contudo o Passivo é 4 vezes maior
 
Esta semana foi conhecido um acórdão da FIFA segundo o qual, como forma de coima às dívidas contraídas pela Naval 1.º de Maio, que milita no Campeonato Nacional de Séniores (Série E), ao clube brasileiro Corinthians Alagoano, serão retirados seis pontos à equipa, do clube da Figueira da Foz pela aquisição do médio brasileiro George. O jogador foi contratado em 2000 pela Naval ao Corinthians Alagoano, tendo representado os figueirenses durante três épocas. Em Portugal, o médio brasileiro, que representa actualmente o Atlético-BA (um clube da Bahia), ainda alinhou pela Académica e Vitória de Setúbal. Situação semelhante passa-se com Roberto. Soube-se agora, através do RC do clube da treta, que o atleta que já passou por três emblemas, ainda não está totalmente pago ao clube de origem, o Atlético de Madrid!
 
Será lícito permitir que um clube como o Benfica que detém 63% duma SAD que apresenta prejuízos há 5 anos consecutivos, com o Passivo maior do que o Activo, e Capitais Próprios negativos, dispute uma Liga em igualdade de circunstâncias com o Paços de Ferreira ou o Braga sem problemas financeiros relevantes, ou isto é mesmo um fairplay da treta?
 
Até à próxima

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