quinta-feira, 7 de maio de 2015

Histórias da Carochinha

Notícias recentes vindas de Espanha sobre o Decreto-Lei que aprovou a Centralização dos Direitos Televisivos para as Ligas Profissionais a partir da próxima época, vieram animar esta fase final do nosso campeonato e relançar um dos temas usado como cenoura pelo senhor Figueiredo aquando da sua fugaz passagem pela Liga.

Mas vamos lá fazer o ponto da situação em Portugal. Primeiro analisar o aspeto legal. A Liga, entidade criada para a organização das competições de futebol profissionais, refere no seu Regulamento (Art.º 68º nº 2) que “os clubes detém individualmente a titularidade dos direitos de transmissão televisiva dos jogos e resumos.”

Como sabemos a Liga faz parte da Federação que está inscrita numa Confederação europeia (UEFA) e outra Mundial (FIFA). Pode parecer estranho como estas confederações ditam as suas Leis, por vezes ao arrepio da legislação de cada país, e mandam às malvas conceitos como o “direito à livre concorrência” desde que existam acordos entre associações de empresas, como é o caso. Quanto a mim o problema principal nem é o legislativo mas sim a credibilidade que este “negócio” possa ter juntos dos investidores.
Quem são os atores neste negócio? Nós (clubes); o Produto (jogos); e o Cliente (consumidor). Não podem sobreviver uns sem os outros. Sem clubes não haveria jogos nem transmissões. A credibilidade é necessária. O Cliente não muda. Está no sofá de pantufas mas não quer ser enganado com linhas de fora-de-jogo oblíquas ou repetições sonegadas. O Produto é o que é. Uns vão de colinho e os outros não. Cabe-nos a Nós rentabilizar o negócio.

A “repartição dos lucros pelos pobrezinhos” é uma conversa da treta. Nos 80 anos que Portugal já leva de futebol só por duas vezes um dos 3 grandes não ganhou o Campeonato principal: o Belenenses na época 1945/46 e o Boavista em 2000/01. É natural que “uns queiram ganhar mais do que os outros”.

Tomando a Espanha como exemplo refira-se que a “repartição” está assim escalonada: as receitas são distribuídas na 1.ª Liga segundo três critérios: 50% do que se consiga pela venda centralizada será dividida em partes iguais pelos 20 clubes. Outros 25% serão repartidos tendo em conta os resultados das últimas cinco épocas e os restantes 25% de acordo com o critério de "notoriedade", o qual se estabelece, por exemplo, levando em consideração o número de associados. Deve ser por isso que “a instituição” admite sócios de qualquer maneira, sem sequer pagarem quotas ou, a preços simbólicos.
Atualmente Real e Barcelona recebem cada, cerca de 140M€, de uma receita total de 750M€, esperando-se que a futura quantia arrecadada se aproxime dos 1000M€. Na Premier League a receita a distribuir anda pelos 2.300M€ com um critério de redistribuição semelhante. Isto enquanto no nosso país a quantia que Joaquim Oliveira paga (pagava) aos clubes anda na ordem dos 60M€.

Não se pense que vai ser fácil convencer os nossos 3 grandes a ceder parte significativa dos seus Proveitos aos clubes mais modestos assim como não prevejo que tenhamos mercado publicitário que permita ao futuro “centralizador dos Direitos” que poderá ser a LIGA, revender o produto às operadoras com uma boa margem de lucro.

Se juntarmos no mesmo ramalhete outra história da carochinha, a da recente proibição do recurso a Fundos de Investimentos e as penalizações previstas no Fair Play Financeiro enquanto se esconde a proveniência dos petrodólares, adivinha-se que a próxima época vai ser complicada para a formação dos planteis. Como disse há dias em resposta a um comentário do Jorge Vassalo "lá vem mais um Empréstimo Obrigacionista".

Até à próxima

1 comentário:

Carrela disse...

Sempre achei um erro os direitos não serem centralizadas... fosse qual fosse a equação para os distribuir!

Não acredito que cá se vá contra os interesses do clube da propaganda!