quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Conhecimento do Inferno

"O mar do Algarve é feito de cartão como nos cenários de teatro e os ingleses não percebem: estendem conscienciosamente as toalhas na serradura da areia, protegem-se com óculos escuros do sol de papel, passeiam encantados no palco de Albufeira em que funcionários públicos, disfarçados de hippies de carnaval, lhes impingem, acocorados no chão, colares marroquinos fabricados em segredo pela junta de turismo, e acabam por ancorar ao fim da tarde em esplanadas postiças, onde servem bebidas inventadas em copos que não existem, as quais deixam na boca o sabor sem gosto dos uísques fornecidos aos figurantes durante os dramas da televisão. Depois do Alentejo, evaporado na paisagem horizontal como manteiga numa fatia queimada, as chaminés que se diriam construídas de cola e paus de fósforo por asilados habilidosos, as ondas que se diluem sem ruído na praia no croché manso da espuma, faziam-no sempre sentir-se como os bonecos de açúcar nos bolos de noiva, habitante espantado de um mundo de trouxas-de-ovos e de croquetes espetados em palitos, a imitar casas e ruas.” (*)
… “Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata e, assim, não havia ataques. Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica. Era uma sensação ainda mais estranha porque não faz sentido estarmos zangados com pessoas que são do mesmo clube que nós. O Benfica foi, de facto, o melhor protector da guerra. E nada disto acontecia com os jogos do Porto e do Sporting, coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes mais bem-nascidos”…
Outro que também “acardita” no clube da treta é o conhecido lambe-botas Fernando Seara ultimamente protagonista de um folhetim novelesco com uma das suas vereadoras. Alguns zunzuns de jornalistas amigos já me tinham alertado para um “escândalo” com o autarca (o popular mãozinhas) que durava há algum tempo e estava prestes a rebentar. Pensava eu que fosse relacionado com a idiotice da sua candidatura perdedora à CML, ou qualquer problema com a “instituição” visto que Seara foi mandatário do homem que está a arruinar o Benfica. Afinal foi Judite de Sousa que farta de o aturar lhe pôs as malas à porta.
Ao mesmo tempo que fiquei contente pela nossa consócia se ter libertado dum dos maiores presunçosos que andam há anos a pastar no Orçamento do Estado, fiquei preocupado pelo estado psicológico em que teria ficado a popular apresentadora. Felizmente as revistas da moda já publicaram fotos da jornalista com ar sorridente e uma invejável forma física. É tempo de recordar Judite, portista de gema, frequentadora com outros portistas, do Nosso Café, no Bonfim, que ficava perto da sua casa, às Antas. Curiosamente nasceu no mesmo dia que eu: 2 de Dezembro (uns anos depois de mim, claro). Recordo-me que a jornalista tinha 18 anos quando apareceu um anúncio publicado no JN a pedir colaboradores para uma empresa de Audiovisual que, mais tarde, viríamos a saber tratar-se de recrutamento para a RTP-Porto.
Naquela altura eu pertencia a algumas organizações culturais da cidade, como por exemplo, o Teatro Experimental, Associação Fotográfica, Seiva-Trupe, Cineclube do Porto, etc. onde nos tempos livres colaborava na Secção de Cinema e realizava pequenos filmes em Super 8 ou 16mm debaixo dos ensinamentos do cineasta Manuel Oliveira. Os meus amigos, às tantas, devem estar a perguntar o que tem a ver esta história com o nosso clube. Eu explico. Certamente estarão atentos à inauguração do nosso Museu no dia 28 deste mês. É que um desses pequenos filmes vai fazer parte do nosso Museu mas, por agora, não quero divulgar o tema.
 
Quanto a Seabra, para além de ter feito parte sem qualquer relevo de diversos conselhos relacionados com o Desporto, daqueles que ninguém sabe para que servem, conhecido como presidente da Câmara Municipal de Sintra e putativo candidato às presidências do Benfica e da FPF, pretende agora continuar a receber as benesses de uma câmara municipal, no caso, a principal do país. Como penso que os habitantes de Lisboa ainda não devem estar malucos o senhor bem pode, depois da banhada previsível, ir trabalhar como os outros meninos.
Se calhar ainda não sabe que compraram um defesa-esquerdo congelado! Vejam a sua frase deste Domingo: “No final do jogo de ontem em Alvalade, como benfiquista fico feliz por saber que tenho equipa e que tenho jogadores”. Pois! Tem os 104 do costume. O homem não faz é a mínima ideia do que vai naquele inferno nem lhe vale a pena citar na BOLHA os discursos do Padre António Vieira. Para nós, o que ele diz, é pregar aos peixinhos. Parafraseando o meu escritor preferido este Benfica também “é feito de cartão como os cenários do teatro”.
 
Até à próxima
 
(*) António Lobo Antunes, Conhecimento do Inferno, 1980.

1 comentário:

rui disse...

Essa do Antonio Lobo Antunes é de ir ás lagrimas pelo que ele diz (mente) até debaixo de agua ouvia o relato da instituição,o que ele diz referente ao FCP e ao Sporting é de um pulha sem vergonha (coisa que aborrecia o capitão e alguns alferes MAIS BEM MASCIDOS).........
Não é Portista quem quer ! Só quem nasce ! e assim respondo ao pulha !
o resto do artigo está sublime,parabens.