sábado, 29 de junho de 2013

Brasil x Espanha – Final da Taça das Confederações- Antevisão (parte 1)

Está a chegar o dia da final da competição oficial entre selecções menos importante de todas, mas que este ano tem uma atenção que esta a desperar o interesse de todos.

Uma taça das confederações que serve como tubo de ensaio para o mundial do ano a seguir, para limar arestas em termos de organização. Geralmente são encaradas pelas grandes selecções como torneios de final de época. Contudo esta final poderá ser diferente por tudo o que simboliza.

Por um lado, um Brasil que joga em casa e que pretende recuperar uma dinâmica de vitória capaz de alimentar a expectativa de um povo naturalmente orgulhoso e que se habituou a ver a sua selecção como a força dominante no futebol.
Esta final poderá ser também o momento de consagrar e celebrar a mais vitoriosa e espectacular geração espanhola de todos os tempos, e colocar o derredeiro carimbo no seu passaporte de títulos que inclui dois europeus consecutivos e um mundial. Para fechar o ciclo com chave de ouro falta apenas o detalhe da Taça das Confederações.
 
Trata-se do duelo entre uma selecção e um país que se habituou a ser tratado com reverência como sendo o melhor, e uma selecção que entrou recentemente para o olimpo futebolístico e que no campo demonstrou ser a sucessora do Brasil no que diz respeito a ser uma força dominante no futebol mundial.
 
Isso tem custado a engolir aos brasileiros, que através da sua imprensa e dos seus adeptos tudo tem feito para diminuir o espaço entretanto conquistado com todo o direito pelo futebol espanhol.
Trata-se de um domínio que os brasileiros não aceitam de ânimo leve, principalmente por custar ainda mais por não se tratar de um domínio partilhado com uma selecção com história como Itália ou Alemanha.
 
De certa forma sentem que se perdeu o respeito ao peso das camisolas brasileiras. Puderam proteger-se de certa forma, afirmando sempre que Espanha havia ganho as grandes competições mas que teria tido a “sorte” de não ter encontrado o Brasil pelo caminho, como se uma selecção que derrota uma Italia numa final por 4-0 ou derrota Alemanha em duas de forma clara, devesse ter alguma espécie de medo cénico em relação ao Brasil…
 Para os espanhois, trata-se também de uma tarefa pendente. Uma selecção que ganhou tudo e que realmente lhe falta poder demonstrar a sua superioridade perante a selecção mais vitoriosa da história do futebol Mundial. Passado e Presente numa luta em que se projecta já o futuro, com Espanha a assumir protagonismo também no domínio do futebol jovem.
  • Estado anímico
Brasil
O Brasil vinha de uma fase de divórcio entre adeptos e selecção, potenciada por uma série de resultados e exibições menos conseguidas contra selecções de topo. O reinado de Mano Menezes sofreu um revês maior quando não logrou conquistar o tão ambicionado ouro olímpico.
 
A selecção brasileira começou a ser vaiada nos jogos disputados em solo brasileiro, ora por sentirem falta de compromisso dos jogadores, ora por ser difícil para os brasileiros admitirem que realmente hoje em dia o Brasil não é mais uma selecção ao nível do top 5 do Mundo, porventura.
 
Que não têm um melhor jogador do Mundo. Daí a urgência da imprensa brasileira em inventarem novos ídolos a cada vez que apareça um jogador que se destaque. Fizeram-no com Robinho há anos atrás com os resultados conhecidos, fazem- no agora com Neymar com resultados que ainda apuraremos no futuro.
 
Curiosamente numa altura em que o Brasil vinha ganhando já alguma dinâmica de vitória e ganhava já uma estrutura após várias experiências, foi justamente quando por questões mais políticas que desportivas, que se deu o despedimento de Mano Menezes e a sua substituição por Scolari, que na verdade sempre tinha desejado o cargo.
 
Scolari trazia a aura de campeão do Mundo em 2002, mas num ano sui generis num Mundial da Coreia com contornos pouco claros, mas em que também contava com uma selecção de maior talento que a actual e com jogadores já consagrados no panorama mundial.
 Os primeiros jogos contra equipas de topo, um choque com a realidade. Brasil a sofrer para se conseguir impor. Chegou com desconfianças à taça das confederações mas conseguiu o pleno de vitórias com adversários como Japão, México e Itália.
 
O povo brasileiro foi aumentando à medida do tempo o seu apoio à selecção, num assomo de apelo patriótico e vontade de demonstrar o orgulho em ser brasileiro a todo o Mundo.
 
Scolari tal como é seu costume, trouxe esse factor psicológico de unir um grupo e chamar o povo para apoiar a selecção. Tacticamente continua a ser um técnico limitado, mas que vai compensando com muita sorte e motivação em torneios curtos. Prova disso foi a vitória sobre a Itália que encheu o ego dos brasileiros mas que foi conquistada sobre uma Itália de rastos, vergastada por lesões, e que jogou sem o cérebro Pirlo e sem o pulmão De Rossi.
Depois o duelo contra o Uruguai nas semi finais, em que o Brasil sofreu perante um Uruguai que tacticamente soube anular o jogo brasileiro, mas que pagou caro a falta de eficácia e ambição.
 
Mais um acrescento no estado anímico brasileiro, esquecendo-se contudo que este Uruguai está a sofrer para se conseguir apurar para o Mundial, estando em posição apenas de play off e atrás de selecções como Chile ou Colombia.
 
Após verem a Itália a conseguir dar tanto trabalho à Espanha, os brasileiros chegam com a moral no topo e a acreditarem que com a força do Maracanã poderão vergar o futebol espanhol, até pela questão de terem menos tempo de descanso, e assim poderem demonstrar que Espanha é a campeã mas que o Brasil continua a reinar.
 
Espanha
 
Animicamente a Espanha apresentou-se com a motivação tradicional neste tipo de torneios. Jogadores desgatados após épocas longas e com alguma vontade de cumprir o serviço mas também com alguma vontade de férias.
 Espanha deu uma demonstração de força logo no 1º jogo com o Uruguai onde se apresentou mais fresca, mas logo baixou o ritmo porque Haiti o permitia, e porque a Nigéria também não conseguia dar grande oposição.
 
A motivação quer dos jogadores quer dos próprios adeptos, tem ido de menos a mais, a partir do momento em que começaram a sentir hostilidade por parte da midia e do público brasileiro.
 
A grande motivação da Espanha era unicamente a final. Carimbar o título, mas acima de tudo que fosse possível acrescentar o histórico Brasil à sua lista de vitimas no caminho para o legado já cimentado na história do futebol.
Sentia-se que uma vitória contra o Brasil era uma falha no currículo desta selecção e que só agora poderia haver oportunidade de suprir, após na anterior taça das confederações Espanha não ter encontrado o Brasil por ter caído para os Estados Unidos na final.
 
Espanha tem sido hostilizada em todos os estádios. Del Bosque como diplomata que é tentou atribuir tal facto à vontade dos brasileiros de torcer pela equipa mais fraca. Mas tal hostilidade atingiu o seu pique no duelo com a Itália com os brasileiros a cantarem por Itália o jogo todo e inclusive gritando olés para a selecção espanhola. Algo que esta geração claramente não está habituada a sentir, estão mais habituados é fazer os olés aos adversários e coloca-los a correr atrás da bola.
 
No final do jogo sentiu-se um misto de cansaço extremo com vontade dos jogadores exeteriorizarem o seu enfado em relação ao público brasileiro, e até à imprensa que os tem perseguido com histórias mal contadas sobre espisódios rocambolescos com prostitutas durante a estadia da Roja no Brasil.
 Ficou clara a impressão que os brasileiros foram cutucar uma geração que já estava com vontade enorme de derrotar o Brasil para efeitos de currículo, mas que agora já é mais que isso. Os brasileiros tornaram isto algo pessoal. Os espanhois claramente querem responder a todas as provocações que têm sido alvo em campo. Em pleno maracanâ a arrebentar pelas costas. Espanha não quer agora apenas vencer uma selecção que cresceu a respeitar. Neste momento quer fazê-la pagar pelo comportamento geral dos adeptos e da imprensa. Quer dar uma prova de força do seu futebol para calar tudo e todos. Os brasileiros incendiaram o ambiente e agora vão ter que lidar com uma geração que se sentiu atingida no seu orgulho.
  • Duelo táctico
Brasil
 
Scolari encontrou finalmente a equipa tipo e a estrutura táctica da mesma. Um 4-2-3-1 bastante europeu e na senda do que já havia feito na selecção portuguesa.
 
Mano Menezes vinha experimentado um meio campo mais móvel e a possibilidade de imitar o modelo Barça / Espanha, e jogar sem avançado de referência, com Neymar fazendo o papel de Messi no Barça. Scolari acabou com essa invenção e recolocou um avançado centro, na equipa, neste caso Fred.
 Neymar passou a jogar numa faixa com liberdade de ir da esquerda para o meio, um pouco à semelhança do que pedia a CR7 na selecção portuguesa. Hulk passou de jogar sobre a esquerda com Menezes, a jogar mais pelo lado direito, onde se sente mais cómodo, pois pode fazer a sua jogada típica de puxar para o meio e soltar o seu remate. Neymar defende menos e cabe a Hulk o papel de se preocupar mais com aspectos defensivos.
 
No meio campo a opção clara por um duplo pivô. Depois de várias experiências a escolha recaiu pela dupla Luis Gustavo (Bayern de Munique)/Paulinho (Corintihians), sendo o 3º médio óscar ( Chelsea), que assim tem maior liberdade de movimentos, até por vezes cair num flanco com trocas com Neymar a aparece mais no meio a armar a jogada ofensiva.
 
O Brasil aposta muito na subida dos seus dois laterais bastante onfensivos, um pouco na senda da tradição da selecção brasileira com laterais como Roberto Carlos e Cafu. Para que eles subam , os dois médios de cariz defensivo ficam mais fixos, permitindo assim a subida dos laterais sem que se perca a segurança no momento da perda da bola. Com essas subidas, pede-se que Hulk e Neymar venham para dentro para poderem tabelar e fazer triangulações com o lateral e um dos médios que se junta no momento ofensivo.
 
Dentro da dupla de médios Paulinho é aquele que aparece mais em zona de finalização, ficando Luiz Gustavo mais fixo atrás dando a segurança.
 
Na defesa uma dupla de centrais muito forte na marcação, com Thiago Silva, porventura o melhor central do Mundo, acompanhado de David Luiz. Uma defesa muito rápida, e que por isso permite que a equipa se estique mais no terreno de jogo.( cont)

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