domingo, 30 de junho de 2013

Brasil x Espanha – Final da taça das Confederações- Antevisão (parte 2)

Organização ofensiva
Brasil tenta jogar um futebol apoiado, explorando muito os flancos, com bastante largura com as constantes subidas de Dani Alves e Marcelo, descurando um pouco a criação a meio, onde por vezes o ataque brasileiro encrava, por os dois médios defensivos nem sempre se darem para o jogo em termos de construção, por optarem por passes menos arriscados.
Oscar tem estado apagado ao longo da competição por sentir que a sua liberdade é menor para que Neymar possa percorrer todo o ataque, tendo dificuldades Oscar em saber que terrenos pode pisar.
Organização defensiva
 
Uma equipa robusta do ponto de vista físico, pela dupla de centrais, e mesmo pela dupla de “volantes” e ainda Hulk na frente que ajuda nas tarefas defensivas.
 
Uma defesa muito rápida que gosta de jogar no 1x1 por se sentir cómoda nos duelos com os rivais.
 
A equipa defende num 4-4-2, deixando Fred centralizado e Neymar solto à espera do momento de recuperação para poder partir logo para o ataque.
 
Hulk baixa mais vezes no apoio ao lateral, tendencialmente Daniel Alves, na esquerda Marcelo vê-se protegido mais frequentemente ora por Paulinho ora por óscar.
 
Transição defesa- ataque
 
Brasil é uma equipa que tenta ser agressiva no momento da perda da bola, embora se note que o trabalho não é feito por todos os jogadores. Neymar já começa a ser algo agressivo, fazendo inclusive algumas faltas, mas nota-se que o bloco de pressão é médio. Alto apenas nos momentos iniciais dos jogos, em que os brasileiros com a adrenalina que vem do público, realmente entram muito fortes a pressionar logo na 1ª zona de construção dos adversários, tentando asfixiar essa saída e criar situações de desequilíbrio.
Transição ataque- defesa
Um momento algo complicado no jogo brasileiro. Por os laterais subirem muito, fica algum espaço nas costas, bem assim como, pela falta de apoio de Neymar na hora de defender. Por isso o Brasil opta pelo momento da perda da bola, por recuar e fazer jogo posicional, e por moderar os momentos de pressão consoante a zona do campo onde a bola é perdida.
A tendência é para a equipa optar pela reorganização, e pela contemporização, para que os laterais possam recuperar a posição. Daí que a dupla de médios fique muitas vezes mais atrás para não ficar a equipa tão exposta neste momento do jogo, ainda que por vezes se torne invevitável pois coloca por vezes 6 jogadores no momento ofensivo.
Nestes momentos Brasil aposta muito na velocidade e capacidade de antecipação da sua dupla de centrais que ganham vários duelos quando a bola é colocada no espaço. Thiago ou David Luiz saem assim na pressão na zona lateral, cabendo maior parte das vezes a Luis Gustavo ir fazer a cobertura no meio.
Abordagem táctica para o jogo com a Espanha
Muita imprensa brasileira após assistir ao Itália x Espanha está muito confiante na possibilidade do Brasil imitar o comportamento adoptado por Itália para o jogo com a Espanha.
Contudo, trata-se de jogos totalmente diferentes, contextos diferentes e jogadores com características muito distintas das dos italianos.
O Brasil vai jogar num Maracanã cheio e que quer ver o Brasil a atacar, a assumir o jogo, e que não aceitará um jogo de subserviência do Brasil em relação a Espanha. É um público que culturalmente não aceita bem um jogo conservador e mais dado a amarras tácticas.
Por outro lado, ainda que Scolari quisesse imitar o estilo de jogo da Itália, não tem jogadores para o fazer.
 Itália tem uma base da Juventus, e aproveitou o sistema táctico da Juve dos 3 centrais, jogando num 3-5-2, dando o flanco a dois alas com grande capacidade de fazerem o vaivém, mas com um meio campo povoado, capaz de pressionar muito em cima, e de se desdobrar no trabalho defensivo, se necessário com onze jogadores atrás da linha da bola e organização defensiva, pois até o elemento mais avançado, Gillardino, recuava bastante para ocupar o espaço de Busquets.
Brasil não tem essa cultura nem tem jogadores para o fazer, principalmente quando tem Neymar como referência.
O Brasil tem o poderio físico que poderá aproveitar e a velocidade, promovendo duelos directos, no corpo a corpo e querendo promover igualmente situações de 1x1 no ataque.
Tacticamente a abordagem não poderá sair muito do 4-2-3-1. Quanto muito poderia retirar Óscar e troca-lo por Hernanes por ser um médio que em Itália aprendeu a jogar mais atrás e assim dar maior capacidade defensiva, mas ainda assim é pouco crível.
 
Brasil não tem jogadores para jogarem um jogo de paciência esperando pelo que o adversário faz. Com Dunga, tornou-se uma equipa que era fortíssima nos momentos de transição e ganhou muita cultura táctica defensiva. Contudo foi passada uma borracha a esse trabalho por se considerar que deturpava o estilo do futebol brasileiro ( mesmo que em 1994 o Brasil tenha ganho sem esse estilo alegre e de toque de bola, e em 2002 também apostasse numa estrutura mais equilibrada defensivamente)
Brasil deve manter a matriz táctica, e fazer algumas adaptações. Continuar a explorar as laterais, até porque Espanha sofre um pouco quando pressionada e com bola colocada nas laterais após a perda da bola, pois o bloco espanhol joga muito junto e centralizado o que deixa algum espaço nas costas logo no 1º momento da perda de bola.
 
O Brasil deve também jogar com o desgaste físico evidente dos jogadores espanhóis. O segredo do tiki taka, mais do que a posse de bola, está no momento da transição defensiva, na dinâmica e capacidade de pressionar muito alto, no momento de perda de bola. Sem a capacidade física para fazer essa pressão, o jogo espanhol torna-se algo mastigado e vulnerável como provou a Itália, ou como provou o Bayern de Munique este ano com o Barcelona.
O Brasil deve assim pressionar o mais alto possível a saída de bola espanhola, num primeiro momento como sempre tem feito, tentando surpreender a Espanha logo no inicio do jogo.
 
Deve colocar um jogo num ritmo forte, frenético, tentar partir o jogo o mais possível, se necessário com bola colocada no espaço para Neymar e Hulk. O Brasil deve explorar o cansaço espanhol e optar por quando tem a bola, aproveitar muito bem a dinâmica ofensiva com a subida dos laterais e as combinações com Neymar e Hulk.
 
Óscar tem que aparecer mais do que tem aparecido até aqui, para segurar o jogo da equipa e e oferecer saída qualificada para o ataque aquando do momento do Brasil recuperar a bola.
 
Mais que nunca o duplo pivô defensivo terá que ficar mais fixo atrás para poder libertar a subida alternada de Marcelo e Dani Alves.
 
Espanha
Vicente del Bosque herdou uma equipa campeã da Europa de Luis Aragones que deu o primeiro esboço do tiki taka na selecção. Foi Aragonês que deu a batuta ao futebol dos baixinhos e abriu as portas do tiki taka substituindo a tradicional fúria espanhola. Tratou-se de uma mudança de paradigma já cozinhada há alguns anos, mas que ainda não tinha sido assumida totalmente na selecção principal. Aragones deu esse passo.
 
O jogo de Espanha com Aragonês era contudo mais romântico. Mais ofensivo. A posse era sempre com os olhos postos na baliza, com muita verticalidade com jogadores como Villa e Torres no ataque.
Em contraste com a Espanha de hoje em dia, cada vez mais barcelonizada para o bom e para o mau.
Espanha reforçou ainda mais a posse de bola, mas também a tornou uma forma de catenaccio ofensivo, como faz o Barça quando está em vantagem. Trata-se de defender com bola. Não deixar o adversário discutir o jogo escondendo-lhes a bola com passes laterais e atrasados sem qualquer tipo de pudor.
 
Um jogo de paciência. A atacar, não se importam de tocar a bola até à exaustão, neste caso do adversário, esperando que ele se desgaste e tenda a cometer alguma falha de marcação que proporcione o desequilíbrio para aí sim sair um passe de ruptura de Xavi, Iniesta e companhia.
 
Del Bosque retirou profundidade e verticalidade no ataque, e acrescentou mais um médio ao jogo da Espanha. Com Aragonês a Espanha jogava com um único pivô defensivo que era Marcos Senna, libertando assim mais um médio para a criação e jogando com dois jogadores verticais no ataque.
Era um jogo mais atraente. Del Bosque optou por um jogo mais controlado. Menos entusiasmante mas mais dominante e seguro. Juntou Busquets e Xabi Alonso, ainda que isso faça com que o jogo espanhol perca alguma fluidez do ponto de vista ofensivo. Daí que a Espanha tenha sido campeã do Mundo com goleadas de 1x0. Goleava na posse, mas não tanto no marcador ou sequer ocasiões de golo como nos tempos de Aragones.
Tornou-se uma equipa mais fria na abordagem ao jogo. A derradeira alteração de Del Bosque foi abdicar por completo do estilo de jogo mais vertical que servia de complemento ao tiki taka, optando por copiar o modelo do Barça, abdicando de um avançado puro e colocando várias vezes um médio a fazer de falso 9 ( maior parte das vezes Cesc Fabregas).
 
Para isso contribuiu não apenas o facto do Barça que dá grande parte dos jogadores jogar assim , mas também a baixa de forma de Villa e Torres ,figuras fulcrais no esquema de Aragones em 2008.
Contudo nesta Taça das Confederações Del Bosque trocou as voltas. Desde logo porque a lesão de Xabi Alonso desobrigou-o de certa forma a manter o duplo pivô que merece algumas críticas pelo conservadorismo. Poderia mantê-lo optando pela inclusão de Javi Martinez, mas claramente a opção foi por acrescentar um médio de características mais ofensivas, seja ele Cesc Fabregas ou David Silva.
 
Na frente outra semi novidade. A opção por ter um avançado de raiz. No primeiro jogo Soldado, e no 2º e na semi final Fernando Torres com bons resultados, sendo Torres o melhor marcador da prova até ao momento.
Organização ofensiva
 
Espanha joga o futebol envolvente do Barcelona, tentando gerir os ritmos de jogo através da posse. O chamado tiki taka. Uma equipa que gosta de jogar bem subida, com sectores muito próximos, fazendo a bola circular perante todos os elementos. Todos sem excepção participam no processo ofensivo.
 
A equipa sai sempre a jogar de trás, na primeira fase de construção, através das centrais que raramente optam pelo jogo directo. Um médio baixa para dar linha de passe e passar para o 2º momento de construção, geralmente o cérebro Xavi, ficando Busquets mais para os equilíbrios. Espanha centraliza muito o jogo através das investidas de Iniesta e da incorporação de Fabregas ou Silva também pelo meio.
 
Com Soldado ou Torres na frente, tenta-se criar uma referência na área para possa fixar os centrais e ao mesmo tempo servir para tabelar com os médios.
Pedro é o único extremo para dar alguma largura ao jogo de Espanha. Pedro dá largura à direita, deixando-se depois o flanco esquerdo entregue às incursões do lateral Jordi Alba, com Iniesta a cair algumas vezes também no flanco para tabelar, fazer triangulações ou mesmo para partir da esquerda para o meio, tabelar com Torers ou Xavi e aparecer em zona de finalização.
 
Organização defensiva
É o momento em que a selecção espanhola menos se sente cómoda. Está muito pouco habituada a ter que fazer um jogo de expectativa ou ter que lidar com a posse de bola do adversário. Nestes momentos, é uma equipa que se fecha num 4-4-1, ficando Torres ou Soldado na frente, e baixando Pedro para apoiar o lateral, e o médio mais avançado para auxiliar Busquets e Xavi.
 
A defesa de Espanha é algo lenta, com excepção de Jordi Alba, e demonstra por vezes algumas desconcentrações, por parte da dupla Piqué e Ramos, que por vezes falham o tempo certo de atacarem a bola ou saírem para pressionar o avançado e criam , assim, alguns dissabores à sua defesa. São defesas que sofrem um pouco quando não têm uma referência para marcar. Arbeloa é bastante permeável no flanco direito.
 
Transição ataque- defesa
Porventura o momento mais forte do jogo de Espanha. Muitos falam da organização ofensiva, mas o verdadeiro segredo do sucesso está no momento em que Espanha perde a bola. É aí que a Espanha, tal como o Barça, aliás, é realmente uma equipa que mudou a face do jogo que hoje se joga.
 
Sentido posicional fortíssimo, marcação cerrada, com dois e três jogadores a criarem uma espécie de jaula imaginária sobre o portador da bola e as suas possíveis linhas de passe que repentinamente se encontram fechadas e o deixam muitas vezes sem opção sem ser jogar directo, sem critério, ou perder a bola.
 
Espanha por ter muita posse, não se cansa tanto porque não tem que correr atrás da bola, é a bola que corre de pé para pé. Essa energia que poupam tendo a bola, podem depois usar nos raros momentos em que perdem a bola, pressionando num bloco muito alto, e recuperando a bola no meio campo defensivo adversário.
Quando este momento falha no jogo espanhol, como se viu no jogo com a Itália, todo o resto do jogo de Espanha se desmorona. É um estilo de jogo que necessita de jogadores frescos física e mentalmente. Quando os jogadores se apresentam cansados, e deixam que os adversários consigam sair da pressão a Espanha sofre bastante, com as bolas colocadas nas costas da defesa, principalmente no espaço entre o central e o lateral.
 
Transição defesa- ataque
Espanha não tem pressa em lançar-se em transição no momento da recuperação da bola. Se de imediato vir espaço para o passe de ruptura, até o pode fazer, mas tendencialmente, Espanha quando recupera a bola, opta por jogo posicional, deixar a equipa estender-se novamente no campo, e trocar a bola com paciência, esperando pelo melhor momento para criar o desequilíbrio, sem grandes pressas. Espanha não aposta na transição rápida, opta antes por não se expor logo no momento da recuperação da posse, porque como pressiona muito em cima, uma segunda perda de bola seria sinónimo de criação de perigo pelo adversário por a Espanha se encontrar muito adiantada no terreno.
 
Abordagem táctica para o jogo com o Brasil
Espanha apresentou-se bastante desgastada no jogo com a Itália, demonstrando problemas com o calor e a humidade. Assim, o seu jogo de posse torna-se previsível, porque os jogadores não se movimentam tanto para oferecer duas linhas de passe ao portador da bola como de costume, e falha o momento fulcral do jogo espanhol que é a transição defensiva, no momento da perda da bola em que a Espanha sufoca os adversários com uma pressão colectiva bastante forte.
 
Del Bosque terá que saber jogar com estas condicionantes, e porventura fazer algumas mexidas a contar com um Brasil híper motivado, mais forte fisicamente e muito rápido. Será altura porventura de fazer regressar o duplo pivô defensivo, que caiu com a lesão de Xabi Alonso.
 
Em vez de optar pela inclusão de Cesc Fabregas mais adiantada, ou Silva a jogar na esquerda do ataque a fazer movimentos interiores, será momento talvez de colocar Javi Martinez a jogar ao lado de Busquets.
Desta forma, Espanha ganha maior segurança para poder melhor gerir o momento da organização defensiva quando o Brasil assim o exija, ganhando maior capacidade no choque e criando um tampão maior na cobertura defensiva a meio campo.
 
Por outro lado, no ataque, talvez seja também boa altura para retomar a táctica de Del Bosque em muitos dos jogos do último mundial, abdicando do ponta de lança de raíz e apostando num falso 9 à semelhança do que faz o Barcelona.
 
O Brasil tem uma dupla de centrais muito forte fisicamente e que se sente muito cómoda quando lhe é dada uma referência muito fixa para marcar. Assim se Del Bosque optasse por Torres ou Soldado na frente, a defesa brasileira agradeceria e o mais provável seria Thiago Silva e David Luiz colocarem o avançado espanhol no bolso, retirando assim um elemento ao processo ofensivo de Espanha, não permitindo também que esse elemento pudesse contemporizar para que a equipa de Espanha suba no terreno.
 
Sabendo-se da velocidade e força dos defesas brasileiras nos despiques físicos, o ideal seria retirar-lhes as referências em termos de marcação, situação que os deixa mais desconfortáveis, muito até pela forma algo displicente com que David Luiz por vezes aborda os lances, quer a sair a jogar quer a sair na pressão deixando a sua zona em aberto, o mesmo se aplicando a Marcelo e Dani Alves que também são mais fortes no processo ofensivo que no defensivo onde por vezes demonstram algumas falhas de posicionamento.
 
O ideal seria colocar Cesc Fabregas como falso 9 por já conhecer bem a posição, quer por a fazer de vez em quando no Barça quer por já a ter feito várias vezes na Roja.
Espanha assim ganharia mais um elemento para fechar o meio campo, e mais um elemento capaz de elaborar a teia de aranha em torno à área brasileira através da posse de bola.
 
Espanha mesmo que não consiga impor um ritmo forte, terá que gerir o ritmo de jogo, tendo a bola em seu poder, mesmo que não consiga criar perigo com ela. É essencial jogar com paciência e aproveitar a pressão do Brasil a jogar em casa e a juventude de grande parte dos jogadores brasileiros, que sentirão sempre a tentação de cair em cima com tudo, e sabendo-se que não têm uma cultura defensiva forte que os permita respirar bem sem a bola. Espanha deverá congelar o jogo, coloca-lo a um ritmo lento que não interessa ao Brasil e esperar que o passar do tempo, enerve os brasileiros e que os faça cometerem erros que possam permitir a que a Espanha crie um desiquilibrio ofensivo e se coloque em vantagem no marcador para depois gerir o jogo através da posse, mesmo que seja uma posse mais “defensiva” que “ofensiva.”
 
Maracanã estará cheia neste domingo para ver a final que o Mundo queria ver. O peso da história da selecção brasileira contra o legado de uma geração mágica e inesquecível do futebol espanhol. Passado, Presente e Futuro estarão em campo neste domingo numa final muito desejada.
 

2 comentários:

JOSE LIMA disse...

Amigo Ricardo
Não queria deixar de responder a este "desafio".
Naturalmente não posso competir consigo numa análise como esta.
Confesso que não percebo muito de "futebol jogado".
De vez em quando tenho uns feelings que batem certo.
Aposto numa vitória do Brasil. Vi os jogos de ambos mas acho a Espanha mais desgastada. Além disso o factor casa pode pesar.
Abraço

Ricardo Costa disse...

Palpite certeiro caro José Lima.;)
Afinal percebe mais do que diz de futebol jogado.;)

Um abraço.