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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

¡¡Hala Madrid!!: Vale por mil e uma palavras

Efectivamente há imagens que valem mesmo por muitas palavras. E é aí que reside o grande mal do Real Madrid CF actual. 
 
Não estou com isto a dizer que não possa existir um, ou até mesmo vários, Órgãos da comunicação social mais ou menos afectos ao Clube que tenham acesso privilegiado ao dia a dia da Casa Blanca, até porque os adeptos merengues querem saber o que se vai passando no seu Clube, mas não posso concordar quando se passa da informação para o proteccionismo fanático de certos interesses instalados no Santiago Bernabéu.
 
Quem acompanha, e acompanhou, os jogos da Equipa Blanca com olhos de ver com toda a certeza reparou que Diego López tem feito muito mais que Casillas no que à titularidade da baliza Madridista diz respeito. 
 
O futebol é assim mesmo e quem tem a oportunidade deve agarra-la com as duas mãos para não a deixar fugir e foi isto que aconteceu com o Galego Diego. Casillas encontrou finalmente um adversário á sua altura que o obriga a ter de se sentar no banco de suplentes. É a Lei do futebol quer se goste ou não. O problema é que em Madrid as coisas não são bem assim e os interesses conduzem a certos exageros que descredibilizam quem compra os jornais mais próximos do real Madrid CF para não dizer que tal coisa causa uma tremenda instabilidade dentro do balneário Blanco.
 
Torna-se complicado para qualquer Treinador lidar com esta situação. Até Vicente Del Bosque, Técnico conceituado que tem um currículo invejável que fica apenas atrás do de José Mourinho, tem um enorme receio em afrontar os interesses e simpatias/antipatias instalados no Bérnabeu e não faz justiça dando o lugar de Guarda-redes da Selecção Espanhola a Diego López.    
 
O exemplo mais recente desta ridícula, caricata, manhosa e insensata intromissão de quem tem apenas o dever de informar tem a ver com a frente de ataque que Ancelotti supostamente vai apresentar em Nou Camp quando os Merengues forem jogar contra os Culés. Diz o Jornal a MARCA na sua capa em letras garrafais “Três Balas para el Camp Nou”, referindo-se a Di Maria, Gareth Bale e Cristiano Ronaldo. Acto mais mal-intencionado era impossível até porque se tal coisa for mesmo verdade (há uma enorme possibilidade de o ser) então nem sei para que se vai jogar este El Clássico porque os três pontos já são pertença do FC Barcelona.
 
Isto porque Cristiano Ronaldo não rende nem gosta de jogar na posição de ponta de lança (tal opção foi experimentada por Mourinho varias vezes e foi sempre criticada por este mesmo Jornal) e segundo tanto Di Maria como Gareth Bale não são “balas” mas sim bonecos de papel individualistas com alguma técnica que ao mínimo toque se lesionam. A continuar a ceder desta forma a pressões externas nunca mais se vai a lado algum…

domingo, 30 de junho de 2013

Brasil x Espanha – Final da taça das Confederações- Antevisão (parte 2)

Organização ofensiva
Brasil tenta jogar um futebol apoiado, explorando muito os flancos, com bastante largura com as constantes subidas de Dani Alves e Marcelo, descurando um pouco a criação a meio, onde por vezes o ataque brasileiro encrava, por os dois médios defensivos nem sempre se darem para o jogo em termos de construção, por optarem por passes menos arriscados.
Oscar tem estado apagado ao longo da competição por sentir que a sua liberdade é menor para que Neymar possa percorrer todo o ataque, tendo dificuldades Oscar em saber que terrenos pode pisar.
Organização defensiva
 
Uma equipa robusta do ponto de vista físico, pela dupla de centrais, e mesmo pela dupla de “volantes” e ainda Hulk na frente que ajuda nas tarefas defensivas.
 
Uma defesa muito rápida que gosta de jogar no 1x1 por se sentir cómoda nos duelos com os rivais.
 
A equipa defende num 4-4-2, deixando Fred centralizado e Neymar solto à espera do momento de recuperação para poder partir logo para o ataque.
 
Hulk baixa mais vezes no apoio ao lateral, tendencialmente Daniel Alves, na esquerda Marcelo vê-se protegido mais frequentemente ora por Paulinho ora por óscar.
 
Transição defesa- ataque
 
Brasil é uma equipa que tenta ser agressiva no momento da perda da bola, embora se note que o trabalho não é feito por todos os jogadores. Neymar já começa a ser algo agressivo, fazendo inclusive algumas faltas, mas nota-se que o bloco de pressão é médio. Alto apenas nos momentos iniciais dos jogos, em que os brasileiros com a adrenalina que vem do público, realmente entram muito fortes a pressionar logo na 1ª zona de construção dos adversários, tentando asfixiar essa saída e criar situações de desequilíbrio.
Transição ataque- defesa
Um momento algo complicado no jogo brasileiro. Por os laterais subirem muito, fica algum espaço nas costas, bem assim como, pela falta de apoio de Neymar na hora de defender. Por isso o Brasil opta pelo momento da perda da bola, por recuar e fazer jogo posicional, e por moderar os momentos de pressão consoante a zona do campo onde a bola é perdida.
A tendência é para a equipa optar pela reorganização, e pela contemporização, para que os laterais possam recuperar a posição. Daí que a dupla de médios fique muitas vezes mais atrás para não ficar a equipa tão exposta neste momento do jogo, ainda que por vezes se torne invevitável pois coloca por vezes 6 jogadores no momento ofensivo.
Nestes momentos Brasil aposta muito na velocidade e capacidade de antecipação da sua dupla de centrais que ganham vários duelos quando a bola é colocada no espaço. Thiago ou David Luiz saem assim na pressão na zona lateral, cabendo maior parte das vezes a Luis Gustavo ir fazer a cobertura no meio.
Abordagem táctica para o jogo com a Espanha
Muita imprensa brasileira após assistir ao Itália x Espanha está muito confiante na possibilidade do Brasil imitar o comportamento adoptado por Itália para o jogo com a Espanha.
Contudo, trata-se de jogos totalmente diferentes, contextos diferentes e jogadores com características muito distintas das dos italianos.
O Brasil vai jogar num Maracanã cheio e que quer ver o Brasil a atacar, a assumir o jogo, e que não aceitará um jogo de subserviência do Brasil em relação a Espanha. É um público que culturalmente não aceita bem um jogo conservador e mais dado a amarras tácticas.
Por outro lado, ainda que Scolari quisesse imitar o estilo de jogo da Itália, não tem jogadores para o fazer.
 Itália tem uma base da Juventus, e aproveitou o sistema táctico da Juve dos 3 centrais, jogando num 3-5-2, dando o flanco a dois alas com grande capacidade de fazerem o vaivém, mas com um meio campo povoado, capaz de pressionar muito em cima, e de se desdobrar no trabalho defensivo, se necessário com onze jogadores atrás da linha da bola e organização defensiva, pois até o elemento mais avançado, Gillardino, recuava bastante para ocupar o espaço de Busquets.
Brasil não tem essa cultura nem tem jogadores para o fazer, principalmente quando tem Neymar como referência.
O Brasil tem o poderio físico que poderá aproveitar e a velocidade, promovendo duelos directos, no corpo a corpo e querendo promover igualmente situações de 1x1 no ataque.
Tacticamente a abordagem não poderá sair muito do 4-2-3-1. Quanto muito poderia retirar Óscar e troca-lo por Hernanes por ser um médio que em Itália aprendeu a jogar mais atrás e assim dar maior capacidade defensiva, mas ainda assim é pouco crível.
 
Brasil não tem jogadores para jogarem um jogo de paciência esperando pelo que o adversário faz. Com Dunga, tornou-se uma equipa que era fortíssima nos momentos de transição e ganhou muita cultura táctica defensiva. Contudo foi passada uma borracha a esse trabalho por se considerar que deturpava o estilo do futebol brasileiro ( mesmo que em 1994 o Brasil tenha ganho sem esse estilo alegre e de toque de bola, e em 2002 também apostasse numa estrutura mais equilibrada defensivamente)
Brasil deve manter a matriz táctica, e fazer algumas adaptações. Continuar a explorar as laterais, até porque Espanha sofre um pouco quando pressionada e com bola colocada nas laterais após a perda da bola, pois o bloco espanhol joga muito junto e centralizado o que deixa algum espaço nas costas logo no 1º momento da perda de bola.
 
O Brasil deve também jogar com o desgaste físico evidente dos jogadores espanhóis. O segredo do tiki taka, mais do que a posse de bola, está no momento da transição defensiva, na dinâmica e capacidade de pressionar muito alto, no momento de perda de bola. Sem a capacidade física para fazer essa pressão, o jogo espanhol torna-se algo mastigado e vulnerável como provou a Itália, ou como provou o Bayern de Munique este ano com o Barcelona.
O Brasil deve assim pressionar o mais alto possível a saída de bola espanhola, num primeiro momento como sempre tem feito, tentando surpreender a Espanha logo no inicio do jogo.
 
Deve colocar um jogo num ritmo forte, frenético, tentar partir o jogo o mais possível, se necessário com bola colocada no espaço para Neymar e Hulk. O Brasil deve explorar o cansaço espanhol e optar por quando tem a bola, aproveitar muito bem a dinâmica ofensiva com a subida dos laterais e as combinações com Neymar e Hulk.
 
Óscar tem que aparecer mais do que tem aparecido até aqui, para segurar o jogo da equipa e e oferecer saída qualificada para o ataque aquando do momento do Brasil recuperar a bola.
 
Mais que nunca o duplo pivô defensivo terá que ficar mais fixo atrás para poder libertar a subida alternada de Marcelo e Dani Alves.
 
Espanha
Vicente del Bosque herdou uma equipa campeã da Europa de Luis Aragones que deu o primeiro esboço do tiki taka na selecção. Foi Aragonês que deu a batuta ao futebol dos baixinhos e abriu as portas do tiki taka substituindo a tradicional fúria espanhola. Tratou-se de uma mudança de paradigma já cozinhada há alguns anos, mas que ainda não tinha sido assumida totalmente na selecção principal. Aragones deu esse passo.
 
O jogo de Espanha com Aragonês era contudo mais romântico. Mais ofensivo. A posse era sempre com os olhos postos na baliza, com muita verticalidade com jogadores como Villa e Torres no ataque.
Em contraste com a Espanha de hoje em dia, cada vez mais barcelonizada para o bom e para o mau.
Espanha reforçou ainda mais a posse de bola, mas também a tornou uma forma de catenaccio ofensivo, como faz o Barça quando está em vantagem. Trata-se de defender com bola. Não deixar o adversário discutir o jogo escondendo-lhes a bola com passes laterais e atrasados sem qualquer tipo de pudor.
 
Um jogo de paciência. A atacar, não se importam de tocar a bola até à exaustão, neste caso do adversário, esperando que ele se desgaste e tenda a cometer alguma falha de marcação que proporcione o desequilíbrio para aí sim sair um passe de ruptura de Xavi, Iniesta e companhia.
 
Del Bosque retirou profundidade e verticalidade no ataque, e acrescentou mais um médio ao jogo da Espanha. Com Aragonês a Espanha jogava com um único pivô defensivo que era Marcos Senna, libertando assim mais um médio para a criação e jogando com dois jogadores verticais no ataque.
Era um jogo mais atraente. Del Bosque optou por um jogo mais controlado. Menos entusiasmante mas mais dominante e seguro. Juntou Busquets e Xabi Alonso, ainda que isso faça com que o jogo espanhol perca alguma fluidez do ponto de vista ofensivo. Daí que a Espanha tenha sido campeã do Mundo com goleadas de 1x0. Goleava na posse, mas não tanto no marcador ou sequer ocasiões de golo como nos tempos de Aragones.
Tornou-se uma equipa mais fria na abordagem ao jogo. A derradeira alteração de Del Bosque foi abdicar por completo do estilo de jogo mais vertical que servia de complemento ao tiki taka, optando por copiar o modelo do Barça, abdicando de um avançado puro e colocando várias vezes um médio a fazer de falso 9 ( maior parte das vezes Cesc Fabregas).
 
Para isso contribuiu não apenas o facto do Barça que dá grande parte dos jogadores jogar assim , mas também a baixa de forma de Villa e Torres ,figuras fulcrais no esquema de Aragones em 2008.
Contudo nesta Taça das Confederações Del Bosque trocou as voltas. Desde logo porque a lesão de Xabi Alonso desobrigou-o de certa forma a manter o duplo pivô que merece algumas críticas pelo conservadorismo. Poderia mantê-lo optando pela inclusão de Javi Martinez, mas claramente a opção foi por acrescentar um médio de características mais ofensivas, seja ele Cesc Fabregas ou David Silva.
 
Na frente outra semi novidade. A opção por ter um avançado de raiz. No primeiro jogo Soldado, e no 2º e na semi final Fernando Torres com bons resultados, sendo Torres o melhor marcador da prova até ao momento.
Organização ofensiva
 
Espanha joga o futebol envolvente do Barcelona, tentando gerir os ritmos de jogo através da posse. O chamado tiki taka. Uma equipa que gosta de jogar bem subida, com sectores muito próximos, fazendo a bola circular perante todos os elementos. Todos sem excepção participam no processo ofensivo.
 
A equipa sai sempre a jogar de trás, na primeira fase de construção, através das centrais que raramente optam pelo jogo directo. Um médio baixa para dar linha de passe e passar para o 2º momento de construção, geralmente o cérebro Xavi, ficando Busquets mais para os equilíbrios. Espanha centraliza muito o jogo através das investidas de Iniesta e da incorporação de Fabregas ou Silva também pelo meio.
 
Com Soldado ou Torres na frente, tenta-se criar uma referência na área para possa fixar os centrais e ao mesmo tempo servir para tabelar com os médios.
Pedro é o único extremo para dar alguma largura ao jogo de Espanha. Pedro dá largura à direita, deixando-se depois o flanco esquerdo entregue às incursões do lateral Jordi Alba, com Iniesta a cair algumas vezes também no flanco para tabelar, fazer triangulações ou mesmo para partir da esquerda para o meio, tabelar com Torers ou Xavi e aparecer em zona de finalização.
 
Organização defensiva
É o momento em que a selecção espanhola menos se sente cómoda. Está muito pouco habituada a ter que fazer um jogo de expectativa ou ter que lidar com a posse de bola do adversário. Nestes momentos, é uma equipa que se fecha num 4-4-1, ficando Torres ou Soldado na frente, e baixando Pedro para apoiar o lateral, e o médio mais avançado para auxiliar Busquets e Xavi.
 
A defesa de Espanha é algo lenta, com excepção de Jordi Alba, e demonstra por vezes algumas desconcentrações, por parte da dupla Piqué e Ramos, que por vezes falham o tempo certo de atacarem a bola ou saírem para pressionar o avançado e criam , assim, alguns dissabores à sua defesa. São defesas que sofrem um pouco quando não têm uma referência para marcar. Arbeloa é bastante permeável no flanco direito.
 
Transição ataque- defesa
Porventura o momento mais forte do jogo de Espanha. Muitos falam da organização ofensiva, mas o verdadeiro segredo do sucesso está no momento em que Espanha perde a bola. É aí que a Espanha, tal como o Barça, aliás, é realmente uma equipa que mudou a face do jogo que hoje se joga.
 
Sentido posicional fortíssimo, marcação cerrada, com dois e três jogadores a criarem uma espécie de jaula imaginária sobre o portador da bola e as suas possíveis linhas de passe que repentinamente se encontram fechadas e o deixam muitas vezes sem opção sem ser jogar directo, sem critério, ou perder a bola.
 
Espanha por ter muita posse, não se cansa tanto porque não tem que correr atrás da bola, é a bola que corre de pé para pé. Essa energia que poupam tendo a bola, podem depois usar nos raros momentos em que perdem a bola, pressionando num bloco muito alto, e recuperando a bola no meio campo defensivo adversário.
Quando este momento falha no jogo espanhol, como se viu no jogo com a Itália, todo o resto do jogo de Espanha se desmorona. É um estilo de jogo que necessita de jogadores frescos física e mentalmente. Quando os jogadores se apresentam cansados, e deixam que os adversários consigam sair da pressão a Espanha sofre bastante, com as bolas colocadas nas costas da defesa, principalmente no espaço entre o central e o lateral.
 
Transição defesa- ataque
Espanha não tem pressa em lançar-se em transição no momento da recuperação da bola. Se de imediato vir espaço para o passe de ruptura, até o pode fazer, mas tendencialmente, Espanha quando recupera a bola, opta por jogo posicional, deixar a equipa estender-se novamente no campo, e trocar a bola com paciência, esperando pelo melhor momento para criar o desequilíbrio, sem grandes pressas. Espanha não aposta na transição rápida, opta antes por não se expor logo no momento da recuperação da posse, porque como pressiona muito em cima, uma segunda perda de bola seria sinónimo de criação de perigo pelo adversário por a Espanha se encontrar muito adiantada no terreno.
 
Abordagem táctica para o jogo com o Brasil
Espanha apresentou-se bastante desgastada no jogo com a Itália, demonstrando problemas com o calor e a humidade. Assim, o seu jogo de posse torna-se previsível, porque os jogadores não se movimentam tanto para oferecer duas linhas de passe ao portador da bola como de costume, e falha o momento fulcral do jogo espanhol que é a transição defensiva, no momento da perda da bola em que a Espanha sufoca os adversários com uma pressão colectiva bastante forte.
 
Del Bosque terá que saber jogar com estas condicionantes, e porventura fazer algumas mexidas a contar com um Brasil híper motivado, mais forte fisicamente e muito rápido. Será altura porventura de fazer regressar o duplo pivô defensivo, que caiu com a lesão de Xabi Alonso.
 
Em vez de optar pela inclusão de Cesc Fabregas mais adiantada, ou Silva a jogar na esquerda do ataque a fazer movimentos interiores, será momento talvez de colocar Javi Martinez a jogar ao lado de Busquets.
Desta forma, Espanha ganha maior segurança para poder melhor gerir o momento da organização defensiva quando o Brasil assim o exija, ganhando maior capacidade no choque e criando um tampão maior na cobertura defensiva a meio campo.
 
Por outro lado, no ataque, talvez seja também boa altura para retomar a táctica de Del Bosque em muitos dos jogos do último mundial, abdicando do ponta de lança de raíz e apostando num falso 9 à semelhança do que faz o Barcelona.
 
O Brasil tem uma dupla de centrais muito forte fisicamente e que se sente muito cómoda quando lhe é dada uma referência muito fixa para marcar. Assim se Del Bosque optasse por Torres ou Soldado na frente, a defesa brasileira agradeceria e o mais provável seria Thiago Silva e David Luiz colocarem o avançado espanhol no bolso, retirando assim um elemento ao processo ofensivo de Espanha, não permitindo também que esse elemento pudesse contemporizar para que a equipa de Espanha suba no terreno.
 
Sabendo-se da velocidade e força dos defesas brasileiras nos despiques físicos, o ideal seria retirar-lhes as referências em termos de marcação, situação que os deixa mais desconfortáveis, muito até pela forma algo displicente com que David Luiz por vezes aborda os lances, quer a sair a jogar quer a sair na pressão deixando a sua zona em aberto, o mesmo se aplicando a Marcelo e Dani Alves que também são mais fortes no processo ofensivo que no defensivo onde por vezes demonstram algumas falhas de posicionamento.
 
O ideal seria colocar Cesc Fabregas como falso 9 por já conhecer bem a posição, quer por a fazer de vez em quando no Barça quer por já a ter feito várias vezes na Roja.
Espanha assim ganharia mais um elemento para fechar o meio campo, e mais um elemento capaz de elaborar a teia de aranha em torno à área brasileira através da posse de bola.
 
Espanha mesmo que não consiga impor um ritmo forte, terá que gerir o ritmo de jogo, tendo a bola em seu poder, mesmo que não consiga criar perigo com ela. É essencial jogar com paciência e aproveitar a pressão do Brasil a jogar em casa e a juventude de grande parte dos jogadores brasileiros, que sentirão sempre a tentação de cair em cima com tudo, e sabendo-se que não têm uma cultura defensiva forte que os permita respirar bem sem a bola. Espanha deverá congelar o jogo, coloca-lo a um ritmo lento que não interessa ao Brasil e esperar que o passar do tempo, enerve os brasileiros e que os faça cometerem erros que possam permitir a que a Espanha crie um desiquilibrio ofensivo e se coloque em vantagem no marcador para depois gerir o jogo através da posse, mesmo que seja uma posse mais “defensiva” que “ofensiva.”
 
Maracanã estará cheia neste domingo para ver a final que o Mundo queria ver. O peso da história da selecção brasileira contra o legado de uma geração mágica e inesquecível do futebol espanhol. Passado, Presente e Futuro estarão em campo neste domingo numa final muito desejada.
 

sábado, 29 de junho de 2013

Brasil x Espanha – Final da Taça das Confederações- Antevisão (parte 1)

Está a chegar o dia da final da competição oficial entre selecções menos importante de todas, mas que este ano tem uma atenção que esta a desperar o interesse de todos.

Uma taça das confederações que serve como tubo de ensaio para o mundial do ano a seguir, para limar arestas em termos de organização. Geralmente são encaradas pelas grandes selecções como torneios de final de época. Contudo esta final poderá ser diferente por tudo o que simboliza.

Por um lado, um Brasil que joga em casa e que pretende recuperar uma dinâmica de vitória capaz de alimentar a expectativa de um povo naturalmente orgulhoso e que se habituou a ver a sua selecção como a força dominante no futebol.
Esta final poderá ser também o momento de consagrar e celebrar a mais vitoriosa e espectacular geração espanhola de todos os tempos, e colocar o derredeiro carimbo no seu passaporte de títulos que inclui dois europeus consecutivos e um mundial. Para fechar o ciclo com chave de ouro falta apenas o detalhe da Taça das Confederações.
 
Trata-se do duelo entre uma selecção e um país que se habituou a ser tratado com reverência como sendo o melhor, e uma selecção que entrou recentemente para o olimpo futebolístico e que no campo demonstrou ser a sucessora do Brasil no que diz respeito a ser uma força dominante no futebol mundial.
 
Isso tem custado a engolir aos brasileiros, que através da sua imprensa e dos seus adeptos tudo tem feito para diminuir o espaço entretanto conquistado com todo o direito pelo futebol espanhol.
Trata-se de um domínio que os brasileiros não aceitam de ânimo leve, principalmente por custar ainda mais por não se tratar de um domínio partilhado com uma selecção com história como Itália ou Alemanha.
 
De certa forma sentem que se perdeu o respeito ao peso das camisolas brasileiras. Puderam proteger-se de certa forma, afirmando sempre que Espanha havia ganho as grandes competições mas que teria tido a “sorte” de não ter encontrado o Brasil pelo caminho, como se uma selecção que derrota uma Italia numa final por 4-0 ou derrota Alemanha em duas de forma clara, devesse ter alguma espécie de medo cénico em relação ao Brasil…
 Para os espanhois, trata-se também de uma tarefa pendente. Uma selecção que ganhou tudo e que realmente lhe falta poder demonstrar a sua superioridade perante a selecção mais vitoriosa da história do futebol Mundial. Passado e Presente numa luta em que se projecta já o futuro, com Espanha a assumir protagonismo também no domínio do futebol jovem.
  • Estado anímico
Brasil
O Brasil vinha de uma fase de divórcio entre adeptos e selecção, potenciada por uma série de resultados e exibições menos conseguidas contra selecções de topo. O reinado de Mano Menezes sofreu um revês maior quando não logrou conquistar o tão ambicionado ouro olímpico.
 
A selecção brasileira começou a ser vaiada nos jogos disputados em solo brasileiro, ora por sentirem falta de compromisso dos jogadores, ora por ser difícil para os brasileiros admitirem que realmente hoje em dia o Brasil não é mais uma selecção ao nível do top 5 do Mundo, porventura.
 
Que não têm um melhor jogador do Mundo. Daí a urgência da imprensa brasileira em inventarem novos ídolos a cada vez que apareça um jogador que se destaque. Fizeram-no com Robinho há anos atrás com os resultados conhecidos, fazem- no agora com Neymar com resultados que ainda apuraremos no futuro.
 
Curiosamente numa altura em que o Brasil vinha ganhando já alguma dinâmica de vitória e ganhava já uma estrutura após várias experiências, foi justamente quando por questões mais políticas que desportivas, que se deu o despedimento de Mano Menezes e a sua substituição por Scolari, que na verdade sempre tinha desejado o cargo.
 
Scolari trazia a aura de campeão do Mundo em 2002, mas num ano sui generis num Mundial da Coreia com contornos pouco claros, mas em que também contava com uma selecção de maior talento que a actual e com jogadores já consagrados no panorama mundial.
 Os primeiros jogos contra equipas de topo, um choque com a realidade. Brasil a sofrer para se conseguir impor. Chegou com desconfianças à taça das confederações mas conseguiu o pleno de vitórias com adversários como Japão, México e Itália.
 
O povo brasileiro foi aumentando à medida do tempo o seu apoio à selecção, num assomo de apelo patriótico e vontade de demonstrar o orgulho em ser brasileiro a todo o Mundo.
 
Scolari tal como é seu costume, trouxe esse factor psicológico de unir um grupo e chamar o povo para apoiar a selecção. Tacticamente continua a ser um técnico limitado, mas que vai compensando com muita sorte e motivação em torneios curtos. Prova disso foi a vitória sobre a Itália que encheu o ego dos brasileiros mas que foi conquistada sobre uma Itália de rastos, vergastada por lesões, e que jogou sem o cérebro Pirlo e sem o pulmão De Rossi.
Depois o duelo contra o Uruguai nas semi finais, em que o Brasil sofreu perante um Uruguai que tacticamente soube anular o jogo brasileiro, mas que pagou caro a falta de eficácia e ambição.
 
Mais um acrescento no estado anímico brasileiro, esquecendo-se contudo que este Uruguai está a sofrer para se conseguir apurar para o Mundial, estando em posição apenas de play off e atrás de selecções como Chile ou Colombia.
 
Após verem a Itália a conseguir dar tanto trabalho à Espanha, os brasileiros chegam com a moral no topo e a acreditarem que com a força do Maracanã poderão vergar o futebol espanhol, até pela questão de terem menos tempo de descanso, e assim poderem demonstrar que Espanha é a campeã mas que o Brasil continua a reinar.
 
Espanha
 
Animicamente a Espanha apresentou-se com a motivação tradicional neste tipo de torneios. Jogadores desgatados após épocas longas e com alguma vontade de cumprir o serviço mas também com alguma vontade de férias.
 Espanha deu uma demonstração de força logo no 1º jogo com o Uruguai onde se apresentou mais fresca, mas logo baixou o ritmo porque Haiti o permitia, e porque a Nigéria também não conseguia dar grande oposição.
 
A motivação quer dos jogadores quer dos próprios adeptos, tem ido de menos a mais, a partir do momento em que começaram a sentir hostilidade por parte da midia e do público brasileiro.
 
A grande motivação da Espanha era unicamente a final. Carimbar o título, mas acima de tudo que fosse possível acrescentar o histórico Brasil à sua lista de vitimas no caminho para o legado já cimentado na história do futebol.
Sentia-se que uma vitória contra o Brasil era uma falha no currículo desta selecção e que só agora poderia haver oportunidade de suprir, após na anterior taça das confederações Espanha não ter encontrado o Brasil por ter caído para os Estados Unidos na final.
 
Espanha tem sido hostilizada em todos os estádios. Del Bosque como diplomata que é tentou atribuir tal facto à vontade dos brasileiros de torcer pela equipa mais fraca. Mas tal hostilidade atingiu o seu pique no duelo com a Itália com os brasileiros a cantarem por Itália o jogo todo e inclusive gritando olés para a selecção espanhola. Algo que esta geração claramente não está habituada a sentir, estão mais habituados é fazer os olés aos adversários e coloca-los a correr atrás da bola.
 
No final do jogo sentiu-se um misto de cansaço extremo com vontade dos jogadores exeteriorizarem o seu enfado em relação ao público brasileiro, e até à imprensa que os tem perseguido com histórias mal contadas sobre espisódios rocambolescos com prostitutas durante a estadia da Roja no Brasil.
 Ficou clara a impressão que os brasileiros foram cutucar uma geração que já estava com vontade enorme de derrotar o Brasil para efeitos de currículo, mas que agora já é mais que isso. Os brasileiros tornaram isto algo pessoal. Os espanhois claramente querem responder a todas as provocações que têm sido alvo em campo. Em pleno maracanâ a arrebentar pelas costas. Espanha não quer agora apenas vencer uma selecção que cresceu a respeitar. Neste momento quer fazê-la pagar pelo comportamento geral dos adeptos e da imprensa. Quer dar uma prova de força do seu futebol para calar tudo e todos. Os brasileiros incendiaram o ambiente e agora vão ter que lidar com uma geração que se sentiu atingida no seu orgulho.
  • Duelo táctico
Brasil
 
Scolari encontrou finalmente a equipa tipo e a estrutura táctica da mesma. Um 4-2-3-1 bastante europeu e na senda do que já havia feito na selecção portuguesa.
 
Mano Menezes vinha experimentado um meio campo mais móvel e a possibilidade de imitar o modelo Barça / Espanha, e jogar sem avançado de referência, com Neymar fazendo o papel de Messi no Barça. Scolari acabou com essa invenção e recolocou um avançado centro, na equipa, neste caso Fred.
 Neymar passou a jogar numa faixa com liberdade de ir da esquerda para o meio, um pouco à semelhança do que pedia a CR7 na selecção portuguesa. Hulk passou de jogar sobre a esquerda com Menezes, a jogar mais pelo lado direito, onde se sente mais cómodo, pois pode fazer a sua jogada típica de puxar para o meio e soltar o seu remate. Neymar defende menos e cabe a Hulk o papel de se preocupar mais com aspectos defensivos.
 
No meio campo a opção clara por um duplo pivô. Depois de várias experiências a escolha recaiu pela dupla Luis Gustavo (Bayern de Munique)/Paulinho (Corintihians), sendo o 3º médio óscar ( Chelsea), que assim tem maior liberdade de movimentos, até por vezes cair num flanco com trocas com Neymar a aparece mais no meio a armar a jogada ofensiva.
 
O Brasil aposta muito na subida dos seus dois laterais bastante onfensivos, um pouco na senda da tradição da selecção brasileira com laterais como Roberto Carlos e Cafu. Para que eles subam , os dois médios de cariz defensivo ficam mais fixos, permitindo assim a subida dos laterais sem que se perca a segurança no momento da perda da bola. Com essas subidas, pede-se que Hulk e Neymar venham para dentro para poderem tabelar e fazer triangulações com o lateral e um dos médios que se junta no momento ofensivo.
 
Dentro da dupla de médios Paulinho é aquele que aparece mais em zona de finalização, ficando Luiz Gustavo mais fixo atrás dando a segurança.
 
Na defesa uma dupla de centrais muito forte na marcação, com Thiago Silva, porventura o melhor central do Mundo, acompanhado de David Luiz. Uma defesa muito rápida, e que por isso permite que a equipa se estique mais no terreno de jogo.( cont)

domingo, 24 de março de 2013

¡¡Hala Madrid!!: Conversas da Treta

Por vezes não entendo a postura de José Mourinho. Este sabe que à sua volta existe um n.º interminável de egos inchados de sapiência que não o podem ver à frente porque este correu-os da Casa Blanca a pontapé. Mesmo assim mourinho resolve opinar sobre assuntos que dão tempo de antena a estas sapiências. Para mais é sabido que em Espanha não se podem tocar em certas Vacas Sagradas. As ditas cujas podem fazer disparates, provocar, prevaricar e tudo o mais que está sempre tudo na maior e ai do desgraçado que ouse chamar a atenção de tal coisa pois surgem logo tais sapiências em sua defesa. 
 
Sabendo disto porque foi Mourinho contestar mais uma vez a eleição de Del Bosque como o Melhor Treinador do Mundo FIFA? Para mais já todos sabemos como se fazem as coisas lá para os lados da FIFA. Por exemplo; todos sabemos que é pelo facto de existirem dunas muito lindas e sombras de 40 graus que o Qatar vai organizar o Mundial 2022 de Futebol…
 
Daí que a escolha do actual Selecionador Espanhol também foi justíssima! Nem pensar numa possível manipulação de votos até porque tal coisa nem é da Praxe no Planeta FIFA. Que ideia esta! E para mais um Selecionador ate que é um Treinador que trabalha diariamente com os Atelas e elabora um pormenorizado estilo de jogo. Se Del Bosque não tivesse ao seu dispor o tiki taka do FC Barcelona e mais uma ou outro Jogador Espanhol de Classe Mundial era certinho que este teria o mesmo sucesso que teve até agora. 
 
Alias isto da Espanha ter recentemente empatado em casa com a Finlândia em nada tem a ver com o decréscimo da eficácia do Futebol do Barcelona. Afinal Del Bosque é um Treinador de Top e não terá culpa nenhuma se porventura La Roja perder em Paris e colocar em risco a sua qualificação para o Mundial do Brasil. E para mais o facto do Selecionador de Espanha vir dizer que nem sabe porquê razão empatou com a Finlândia é apenas uma brincadeira do Espanhol.
 
Por isto José não percas o teu tempo com conversa da treta. É sabido que ganhaste uma Copa del Rey, uma Supercopa de Espanha, uma La Liga e que bateste todos os recordes do histórico Real Madrid CF de John Toshack assim como também é sabido que agora andas a dar banhos de bola ao Barcelona do Melhor do Mundo, mas o que é isto comparado com um ilustre reformado que só sabe distribuir cartas de um baralho viciado?
 
Cala-te e treina Zé. Não sejas chato nem infantil.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O nosso Euro.Portugal x Espanha-Antevisão(parte 2)

  • Plano de jogo para se enfrentar esta Espanha
A grande vantagem é que P. Bento não teve que pensar muito na forma como parar a Espanha. É uma equipa e um estilo por damais conhecidos e que todos sabemos que será o mesmo de sempre. O estilo nunca muda. Jogue com 9 ou sem 9. Será sempre um 4-2-3-1 no papel que na prática se transforma por vezes num 4-6-0, porque David Silva e Iniesta não buscam a faixa, antes optam pelo jogo anterior e o que se assiste é um congestionamento do jogo pelo centro do terreno. Tais movimentos poderiam ser explorados por laterais que subissem. No entanto isso nem sempre se verifica e contra Portugal significaria darem espaço aberto para Nani e CR7. Aqui reside a nossa força. Eles também se sentirão condicionados e respeitarão o facto de Portugal ter mais armas para lhes fazer dano que França não tinha.

Por isso a Espanha será obrigada a ter que gerir a posse, aborrecer e enervar os jogadores portugueses esperando por uma desatenção defensiva para poderem meter um passe de rutura, colocarem-se em vantagem para logo fazer uma posse sem progressão, simplesmente para impedir o adversário de jogar.

Acontece que com Espanha já sabemos que o perigo virá sempre pelo meio e que as faixas serão descuradas. E mais, no caso de haver a veleidade de subir com os dois laterais, Portugal tem M. Veloso para colocar passes de 30 e 40 metros nas costas da defesa espanhola obrigando S. Ramos e Piqué a terem que se confrontar com a velocidade e repentismo de Nani e CR7. A abordagem ao jogo pode ser uma de duas já tentadas contra o Barça ao longo da época por várias equipas com mais ou menos sucesso (o Real Madrid já testou ambas e com sucesso):

1 - Pressão alta, evitando que a Espanha saia confortável a jogar logo desde a sua defesa.Sabe-se que a bola sai sempre da defesa nos pontapés de baliza. Portugal pode subir o bloco, até porque tem uma defesa rápida capaz de recuperar bem atrás, e assim asfixiar a posse de bola espanhola logo no 1º momento de construção, impedindo que a bola chega aos pés mais qualificados de Xavi e Iniesta.

Tal estratégia neste momento da temporada pode ser difícil de aplicar. É uma estratégia que exige um enorme desgaste físico colectivo. Mesmo com uma equipa forte nesse aspecto é complicado manter essa pressão os 90 minutos. A única forma exequível de o fazer, nesse momento, seria apostar em 30 minutos no máximo a jogar dessa forma, esperando aproveitar esses 30 minutos para colocar Portugal em vantagem, para depois baixar as linhas e obrigar a Espanha a ter que correr atrás do resultado a sair da sua zona de conforto, e a sentir que se joga contra um muro e sem opções para variar o jogo porque não jogam directo e pouco arriscam o remate de longe.

Quem defende contra a Espanha pode saber duas coisas: as faixas não serão prioritárias e podem contar que raramente um cruzamento saírá de lá. Por outro lado, se se defender bem, e fechar os espaços no meio, até se pode deixar espaço para os jogadores espanhóis rematarem de longe. Não há necessidade de se desposicionar defensivamente e fazer um defesa sair ao portador da bola, porque já se sabe que é isso que ele espera, porque ele quer é fazer o passe. Não tentará o remate. E se tentar na maior parte das vezes não oferece perigo. A estratégia aí passa por fazer a Espanha sentir-se aprisionada no seu estilo tal como o Barça se sente quando encontra equipas que fecham bem as linhas e que não se importam de ficar praticamente o jogo todo sem a bola.

2 - Outra estratégia utilizada para este estilo de jogo, e porventura a mais segura para esta fase da época é a de baixar o bloco, admitir que não discutiremos a posse, e dar a bola aos espanhóis. Esperar por eles no nosso meio campo defensivo. Deixar que eles troquem a bola até à exaustão, basculando a equipa consoante os movimentos adversários. No entanto sem pressão nem marcações individuais.

Não resulta colocar alguém em cima de Xavi ou de Iniesta. Eles até agradecem o espaço que assim dão ao resto da equipa. O segredo passa por conhecer os caminhos que eles querem percorrer e por onde eles querem que a bola passe. Uma marcação zonal forte. Estabelecer as zonas onde a bola não pode entrar e aí sim, pedir aos jogadores para saírem forte na pressão e recuperarem a bola. Afugentar os jogadores espanhois dessas zonas. Deixar que no seu meio campo possam dar os passes que quiserem, mas sabendo que passando uma determinada linha, que aí não terão espaço sequer para respirar porque logo saírão dois jogadores para pressionar e se preciso fazer falta. Sim, porque Espanha também não faz muitos golos de falta.  Isto no momento defensivo.
  • Momento de transição
Depois, mal a bola seja recuperada, a ideia será colocar a bola no espaço, não tentar sair a jogar em posse. Isso é um erro porque nos exporá ao erro e a perder a bola em zonas proíbitivas. O segredo passará por entregar a bola o mais rápido possível a M. Veloso ou Meireles e esperar que eles façam o passe de transição que apanhe a defesa descompensada.

Espanha terá cuidados com CR7. Como já o havia afirmado, só jogos com características muito específicas como o que tivemos com a Holanda é que poderemos assistir a CR7 a jogar sem qualquer tipo de marcação especial. Mesmo o Barça tem sempre um plano para o retirar do jogo. E em termos defensivos acredito que esse será um dos vectores fundamentais da estratégia de Espanha para este jogo com Portugal. Isolar CR7 do jogo. Deixar sem ligação com a equipa obrigando-o assim a enervar-se, e a tentar resolver tudo sozinho. A marcação será feita à zona, obviamente, mas tal como com outros adversários CR7 poderá contar com a atenção de 2 e até 3 jogadores aos seus movimentos.

No caso em concreto Arbeloa não deverá arriscar subir muito, e terá o apoio de Busquets nos confrontos com CR7. Busquets participará pouco no jogo ofensivo, dando essa tarefa a Xabi Alonso, e a sua preocupação será fechar o lado direito e ter sempre um olho em CR7 mesmo quando Espanha tenha a bola.

Depois o 3º elemento para fazer coberturas no caso de CR7 se apanhar de frente para a defesa espanhola, será o central pelo lado direito, Piqué. No fundo dois jogadores que já o fazem no Barça. São jogadores habituados a várias batalhas com CR7 que não serão nada meigos nas disputas de bola.
  • Com a lesão de Postiga, pela primeira vez P. Bento terá que alterar o seu onze de eleição
A escolha recaírá em H. Almeida ou N. Oliveira. Varela numa faixa e CR7 a ponta de lança não será hipótese, pois a P. Bento não lhe dará um "ataque de treinador". P. Bento não gosta de tomar grandes opções de risco e não é difícil adivinhar as suas intenções e elas ficaram bem claras no jogo com os checos após a lesão de H. Postiga. N. Oliveira mesmo tendo sido sempre a opção para entrar, não foi o escolhido. Num jogo 0-0,a eliminar, preferiu a maior experiência de H. Almeida.

N. Oliveira é visto como opção para entrar no 2º tempo e assim continuará a ser. P. Bento não quer dar essa responsabilidade a N. Oliveira. Neste jogo em concreto, H. Almeida, mesmo sendo o avançado que menos me enche as medidas dos três e aquele que menos se enquadra no modelo de jogo português, acaba por ser a melhor opção para o jogo com a Espanha. Pelo menos de início. Não pelo seu jogo de cabeça. H. Almeida também é muito criticado porque as pessoas têm a ideia de só pelo facto dele ser alto isso significa que tem que marcar muitos golos de cabeça. Não é verdade. H. Almeida é fraco no cabeceamento. Porque não tem uma boa técnica de cabeceamento. Um dos melhores cabeceadores da história do futebol português chamava-se João Pinto e estava longe de ser alto…Para se cabecear bem é necessário ter tempo de salto, inteligência na forma como se ataca a bola e técnica de cabeceamento. H. Almeida não tem. Assim como não conseguirá fazer o que H. Postiga fazia. Não participará na construção ofensiva. No entanto ele poderá servir outros propósitos neste jogo que N. Oliveira não seria capaz de o fazer.

H. Almeida traz dimensão física ao jogo. Espanha tem no centro da defesa dois jogadores possantes fisicamente e rápidos. Será importante que H. Almeida jogue no meio dos centrais, que os prenda bem atrás e assim liberte mais CR7 e Nani. Acima de tudo CR7. Se H. Almeida fizer bem o seu trabalho, Piqué terá menos hipóteses de fazer cobertura a Arbeloa, e assim CR7 terá que se preocupar apenas com a parelha Arbeloa/Busquets. H. Almeida pelo seu físico poderá batalhar muito entre os dois centrais espanhóis e desgastá-los. Impedir que eles pensem sequer em sair a jogar ou fechar numa das laterais. H. Almeida será solicitado sempre que a equipa se sinta apertada pela pressão espanhola e aí é importante que mesmo que ele não consiga segurar a bola que batalhe entre os centrais e nos permita subir uns metros.

Aí sim, esperemos que com Portugal em vantagem ou com o jogo ainda empatado, P. Bento faça a substituição típica e lá para os 65 minutos faça entrar N. Oliveira para aproveitar o desgaste provocado por H. Almeida no centro da defesa espanhola.
  • Bolas paradas
Por outro lado, Portugal deve colocar dimensão física no jogo, principalmente nas bolas paradas. Poucas equipas o têm aproveitado. Espanha tirando a dupla de centrais tem um equipa pouco intensa nas disputas. E Portugal tem que o aproveitar. Sempre que possível passar o jogo para a dimensão física. E acima de tudo aproveitar as bolas paradas. Cada vez mais importantes no futebol moderno e que em jogos destes podem fazer a diferença. Portugal tem jogadores como Pepe, B. Alves, CR7 e H. Almeida (ainda que não seja um grande cabeceador) que podem causar mossa nas bolas paradas. Esperemos também que CR7 consiga ter a oportunidade de acertar um dos seus Tomahawkes. Outra arma que Portugal tem e Espanha não.
  • Jogo de concentração
Este será um jogo de concentração e sacrifício. Será importante não cometer deslizes defensivos. Mais do que estarmos preocupados em marcar o mais rápido possível, será fundamental defender bem, colocar a Espanha desconfortável no jogo. Porque não tenhamos dúvidas, se Portugal conseguir reduzir a possibilidade da Espanha criar oportunidades de golo, mais cedo ou mais tarde causaremos mossa na sua defesa.

Não podemos é nunca permitir que eles se coloquem em vantagem. Aí é como jogar contra a Grécia de 2004. Seria muito complicado recuperar a desvantagem. Em vantagem os espanhóis sentem-se mais confortáveis que nunca e podem passar o jogo todo a passar a bola para o lado e para trás sem a perder e a enervar o adversário. Portugal, não pode ter deslizes defensivos. Tem que jogar pelo seguro e não arriscar em zonas proibidas. O mais pequeno erro defensivo com a Espanha pode ser o fim de um sonho.
  • A vingança de Coentrão
Por outro lado tenho que deixar outro desejo pessoal… Da mesma forma que H. Postiga após uma época difícil onde foi muito criticado em Inglaterra, aproveitou o Euro 2004 para responder no campo, marcando um golo importantíssimo e tendo ainda o desplante de marcar um penalti à Panenka cotra os ingleses, também F. Coentrão pode aproveitar este jogo para responder no campo a todos os críticos espanhóis que o perseguiram ao longo do ano.

É um excelente momento para F. Coentrão ter essa pequena vingança e demonstrar aos espanhós o verdadeiro Coentrão, o Furacão das Caxinas que não teme nada nem ninguém e que é dos melhores do Mundo na sua posição.
  • CR7 e a equipa. Casamento perfeito
Este grupo convenceu-nos ao longo do percurso a acreditar que eles podem concretizar os sonhos mais audazes. Não depende de CR7, mas tem-no mais presente que nunca. Isso também tem sido importante. No jogo com a Dinamarca vimos uma equipa solidária a sair em resgaste a CR7, e também já assistimos a CR7 a resgatar a equipa. É através dessa simbiose que podemos superar qualquer adversário ou pelo menos ter a convicção que não nos roubarão o nosso sonho sem terem que suar e sofrer muito para o conseguir.

Força Portugal! O sonho está cada vez mais perto!

terça-feira, 26 de junho de 2012

O nosso Euro. Portugal x Espanha- Antevisão (parte 1)

Meia-final ibérica. Espanha campeã da Europa e do Mundo será o nosso último obstáculo até à sonhada final. A Espanha venceu a sua besta negra (nunca havia ganho a França num jogo oficial), num jogo sonolento e em que uma vez mais pudemos assistir ao futebol de posse da Espanha a neutralizar o adversário. Espanha pratica aquilo que um jornalista um dia apelidou e muito bem de catenaccio ofensivo.

Enquanto no Catenaccio se tentava neutralizar o adversário através de um sistema defensivo rigoroso e um estilo de jogo cínico e especulativo, a Espanha tenta na mesma impedir o adversário de jogar e de marcar, mas roubando-lhe a bola. A Espanha, assim como o Barcelona numa escala diferente, nestes últimos anos instalaram a ditadura da posse. O Catenaccio da posse. A ideia, e essa ficou clara no jogo com a França, não é ter muita posse para atacar muito e criar muitas oportunidades de golo porque Espanha não tem criado grandes oportunidades de golo, e já no Mundial 2010 não foi uma selecção que tivesse criado muitas oportunidades de golo.. Acima de tudo começa por ser uma estratégia defensiva, por paradoxal que possa parecer. A Espanha tem a posse para se poder defender melhor. Aproveitam a enorme qualidade técnica dos seus executantes e as rotinas que trazem do seus clubes, principalmente do Barça, para acima de tudo, impedir o adversário de jogar.

Uma posse que na selecção espanhola, ainda mais que no Barça, nem sempre tem progressão ofensiva. Uma série de passes são feitos para o lado e para trás, tentando adormecer o adversário, irritá-lo, para que no momento certo possa meter um passe de rutura que possa resultar num golo.

O jogo assim torna-se algo aborrecido. Enfadonho. Embora muitos elogiem a estética do jogo do Barça como se essa fosse a única forma de jogar. O Real Madrid com um estilo de jogo mais vertical, com menos posse, que joga e deixa jogar, derrotou este estilo, demonstrando o caminho e que a posse enquanto objectivo por si só não é obrigatoriamente sinónimo de superioridade.

No jogo com a França, a Espanha praticamente criou uma oportunidade de golo em todo o jogo. Aproveitou um deslize da defesa francesa e depois foi ver a Espanha controlar o jogo com a sua posse não deixando o adversário reagir. Uma equipa que tem muita posse, mas que já no mundial 2010 foi campeã com vitórias por 1-0. Nesse aspecto parece-se com a Grécia campeã, por motivos diferentes. A Grécia pela sua personalidade e pela forma afirmativa como defende, era uma equipa muito complicada de tornear após se colocar em vantagem no marcador. Espanha pela sua qualidade em posse, é muito complicada de contrariar quando se apanha em vantagem. Porque aí pode fazer o que mais gosta. Tocar, tocar e tocar, mesmo sem grande progressão e fazer o adversário andar a correr atrás da bola. Já vai para mais de 60 jogos. Espanha após colocar-se em vantagem já não perde um jogo há mais de 60 jogos.

Chegados a esta altura do texto, muitos devem pensar que Portugal teve azar em ter a Espanha na rifa e que é o pior adversário possível. Ora o autor deste texto discorda. Antes do jogo com a França já tinha a convicção que Espanha até poderia ser o melhor adversário para Portugal nas semi-finais, o que não quer dizer que seja fácil ou que esteja ganho. 
  • Motivos para preferir Espanha á França como rival
Primeiro de tudo há a questão psicológica/motivacional que tem sempre o seu peso nestas provas. Portugal nunca ganhou à França em jogos oficiais. Mas mais que isso, Portugal tem por hábito cair nas semi-finais destas provas com a França. Isso poderia ter algum peso se o jogo começasse a correr mal e poderia condicionar de certa forma jogadores e adeptos. Poderia haver uma certa ideia de fatalismo associado aos confrontos com os franceses. Espanha não tem esse ascendente todo. Pelo menos nos últimos anos. Portugal eliminou Espanha na fase de grupos do Euro 2004. Eles também sabem, por isso o que é serem eliminados pelos portugueses. Claro que no Mundial 2010 caímos ante a Espanha, mas até esse jogo não nos deixou convencidos. A Espanha apresentava-se mais forte do que hoje, principalmente por ter mais largura e profundidade na linha ofensiva com um jogador como David Villa.

Por outro lado Portugal estava mais fraco. Carlos Queiroz nesse Mundial não pôde contar com Nani nem com Varela que poderia ser o seu substituto. Curiosamente jogadores que têm tido papeis importantes neste Europeu. Outro jogador que não esteve nesse Mundial mas por opção e que hoje é fundamental no jogo português chama-se João Moutinho.

É importante ter isto em atenção. Tal como com a República Checa, muitos recuavam a 1996 e esqueciam-se que já em 2008 haviamos ganho à República Checa de forma clara. Agora o mesmo se verifica. Enquanto que a Espanha está menos forte e tem um jogo mais previsível, Portugal está mais forte. Colectivamente está mais forte e as suas individualidades estão também a assumir protagonismo que não assumiram nesse Mundial. Mesmo a coesão do grupo e o modelo de jogo é mais claro e consolidado. Ainda assim, a Espanha venceu esse jogo mas não convenceu de todo. Portugal perdeu apenas por 1-0 e num lance em fora de jogo. Por outro lado, Carlos Queiroz errou por completo a abordagem ao jogo, e de certa forma cometeu o mesmo erro que Laurent Blanc, alterou a identidade da equipa para defrontar os espanhóis. Colocou R. Costa como lateral direito adaptado, e foi exactamente por esse lado que Portugal sofreu o golo que nos derrotou.

Muito mudou em Portugal desde esse jogo. Desde logo o treinador. Depois o próprio onze e a forma como interage com o jogo. Espanha mudou pouco e o que mudou não foi propriamente para melhor. O treinador é o mesmo. O duplo pivô defensivo mantém-se, a cultura da posse importada do Barça igualmente. Maiores alterações verificam-se nas laterais. S. Ramos passou para o centro e deixou a lateral para Arbeloa que oferece menos garantias quer a atacar quer a defender. Do lado esquerdo Jordi Alba é um upgrade em relação a Capdevilla, mas está a disputar o seu 1º grande torneio

Convém também salientar em termos motivacionais, que esta selecção treinada já por P. Bento com este grupo, já derrotou de forma copiosa a Espanha num amigável. 4-0. Obviamente que os amigáveis têm o peso que têm, mas de certa forma este grupo percebeu que a Espanha está longe de ser invencível e que temos armas para lhes criar dissabores.

Em termos tácticos e estratégicos, é mais fácil preparar um plano de jogo para defrontar Espanha do que preparar um para enfrentar esta França. Podemos dizer que com Espanha é mais fácil delinear um plano de jogo, mas mais difícil aplicá-lo. Com a França é mais difícil delinear um plano de jogo, mas mais fácil de o aplicar. A França é uma selecção em mutação, com um técnico novo, e que não tem uma identidade ainda muito bem definida. É mais camaleónica, e seria mais difícil de prever como se apresentariam e assim saber qual a melhor estratégia para os enfrentar. Prova disso foi a forma como a França se apresentou com a Espanha. Abdicou de Nasry, colocou um lateral adaptado a extremo (Debouchy), alterou a estrutura táctica jogando quase num 4-1-4-1. O meio campo sofreu alterações também significativas.
  • Uma questão de identidade
Podemos de discordar de uma série de opções de P. Bento e até criticar a sua excessiva previsibilidade e incapacidade para inovar. Acusá-lo de ser demasiado tradicional e pouco dado a surpresas. Ora, há algo no discurso de P. Bento e na sua personalidade que poderão ser a chave para derrotar esta Espanha. Identidade. A palavra mil vezes repetida por P. Bento. Portugal não deve mudar a sua identidade por jogar com Espanha. Se o fizer estará mais próximo da derrota. Essa previsibilidade será o maior dos nossos trunfos. Não alterar aquilo que somos no jogo. Manter a estrutura táctica em que a equipa melhor se sente, o 4-3-3, não abdicando do ponta de lança nem procedendo a adaptações nas laterais.

Portugal obviamente não deve ignorar as características do adversário e deve preparar-se para elas, não pode nunca é perder identidade nesse processo. Devemos saber quem somos e o que fizemos para chegar até onde chegamos. Respeitar os nossos princípios de jogo, respeitar o nosso modelo, respeitar a nossa ambição. Talvez não tenhamos feito isso em 2010 e talvez por isso também, CR7 reagiu da forma como reagiu após o jogo com Carlos Queiroz. Os jogadores sentiram-se traídos. Sentiram que atraiçoaram a sua forma de jogar em nome do medo pelo adversário.

Del Bosque antes do jogo com a França teve uma declaração curiosa dada aos jornalistas espanhóis “Não se preocupem, não me vai dar um ataque de treinador”. Acho uma frase extremamente feliz. No fundo é isto que muitas vez condiciona as ambições das equipas, quando um treinador tende a inventar e a alterar demasiadas rotinas da equipa, tentando tirar um coelho da cartola, e de tanto se embrenhar num plano de jogo para travar o adversário se esquece da sua própria equipa e da estratégia de jogo para que a sua equipa possa também jogar.
  • Espanha- Forças e Fraquezas
Espanha apresenta algumas das qualidades do Barça, mas também tem alguns dos seus defeitos e de forma mais exponenciada pela falta de Messi.

Este debate sobre Espanha jogar com um 9 mentiroso ou não, favorece-nos. Del Bosque foi campeão mundial com Espanha mas retirando algum de perfume futebolístico mais romântico que apresentava com Aragonés em 2008. Aragonês libertou os pequeninos e operou a mudança de paradigma da selecção espanhola confiando na sua qualidade de posse. No entanto não abdicou da profundidade ofensiva. Por isso jogava apenas com um médio defensivo (Marcos Senna), para que este desse liberdade a Xavi, Iniesta e todos os outros de darem a qualidade de posse, mas uma posse com mais objectividade. Tal objectividade era concedida por uma dupla de ataque com Torres e Villa que permitia à Espanha ter posse mas também poder de definição e capacidade para dar amplitude ao seu jogo e maior imprevisibilidade.

Del Bosque fez pequenas alterações mas que alteraram em termos de estilo e de estratégia o jogo espanhol. Foram as tais goleadas por 1-0 conseguidas no Mundial. Abdicou de um avançado para ter outro médio defensivo, apostando tudo num duplo pivô defensivo, com medo das transições ofensivas rivais. Com isso retirou profundidade e poder de fogo ao ataque espanhol. No entanto tal não foi tão relevante no Mundial porque o peso do ataque recaía num Villa que percorria todo o espaço ofensivo. Ora sem Villa neste Europeu, Del Bosque deu ainda mais um passo atrás. Abdicou de uma referência ofensiva, colocando Cesc como falso 9 tentando replicar a táctica do Barça.

A enorme diferença chama-se Messi. Barcelona pode jogar com esse 9 mentiroso porque esse 9 é muitas vezes Messi, e que joga com liberdade por todo o terreno e aparece na posição 9 para finalizar, mas não só. O Barça sabe que a sua posse por vezes se chocar com um adversário capaz de jogar sem bola e baixar o bloco e não deixar espaço entre linhas, pode tornar-se pouco eficaz. Com isso o Barça combate com jogadores como Alexis e Messi ou Pedro(que tem sido suplente na Roja). Jogadores rápidos, incisivos, capazes de definir as jogadas e de romperem com a previsibilidade da posse do Barça, com uma jogada individual, dando maior imprevisibilidade ao jogo do Barça.

Espanha não tem essas soluções. Tal torna o jogo espanhol, muito previsível o que não quer dizer fácil de parar. Contudo, trata-se de um jogo que geralmente tem facilidade em controlar rivais, mas dificuldades em criar oportunidades de golo. Por vezes assiste-se à andebolização do futebol. A equipa vai circulando a bola de um lado para o outro, mas não se assiste a grande penetração.

O duplo pivô com jogadores como Busquets e Xabi Alonso que pisam os mesmos terrenos, torna o jogo espanhol ainda mais centralizado. Falta largura. Essa largura devia ser dada pelos laterais.É curioso porque no jogo com a Croácia ( se bem me recordo) uma estação televisiva espanhola acompanhou os movimentos de Xavi e o que ele dizia ao longo do jogo e notou-se que era ele o líder em campo e que a sua maior preocupação era dizer aos laterais para subirem, para não ficarem amarrados atrás. Mas até aí a Espanha não tem as soluções no Barça. No Barça há Dani Alves que joga quase como um extremo e assim abre mais a defesa adversária permitindo que se abram brechas pelo meio para que Iniesta e Xavi consigam meter o passe de rutura. Dani Alves oferece variedade ao jogo ofensivo.

Espanha conta com Arbeloa que está longe de ter a capacidade técnica de Dani Alves e a sua predisposição para apoiar o ataque. Do outro lado vemos um Jordi Alba mais afoito mas que também está longe de ser a grande solução para dar largura ao jogo principalmente se se deparar com um extremo como Nani que tenha a cultura táctica para acompanhar o lateral e que, ao mesmo tempo, é capaz de ser criativo e explosivo quando tem bola no espaço.

Por isso Espanha sofreu num jogo com uma selecção como Itália que foi altamente personalizada na abordagem ao jogo. Jogou num 3-5-2 que bloqueou o meio campo espanhol. Sabendo-se que o jogo de Espanha passa todo pelo meio campo, a Itália encheu o campo de médios, encravou a saída de bola espanhola e surpreendeu-os no ataque. Espanha esperava uma Itália mais de expectativa, mas o que assistiu foi a uma Itália que queria atacar, que não perdia tempo quando recuperava a bola e que deixava dois avançados bem abertos em cunha, para impedirem a subida dos laterais espanhóis e assim deixar a Espanha refém da sua posse e incapacidade de buscar soluções nas faixas. Balotelli e Cassano pela sua mobilidade e qualidade técnica semeavam o pânico na defesa espanhola, apanhando um dos pontos fracos da Espanha que é o espaço entre o lateral e o central. Depois os 3 centrais da Itália fechavam todas as hipóteses da Espanha tentar rendilhar aquelas jogadas na área italiana. Havia sempre um defesa para fazer as compensações. Por outro lado havia um Pirlo com liberdade para receber e lançar o ataque apanhando a Espanha no momento em que é mais fraca, o momento da organização defensiva.

Espanha tal como o Barça tem como grande força o momento da transição ataque-defesa. Mais até do que a posse, é isso que distingue o jogo espanhol e do Barça e faz com que sejam estilos tão dominadores. Porque posse, muitas equipas previligiaram esse estilo ao longo da história. Nenhuma era tão boa era no exacto momento em que a perdia. Geralmente eram equipas que sofriam muito nesse momento. Espanha e o Barça não. São muito fortes no momento em que perdem a bola. Tacticamente muito evoluídos, sabem posicionar-se bem para asfixiar desde logo a saída do adversário não o deixando ter muito tempo a bola em seu poder. Tal pressão pode perfeitamente durar o jogo todo sem desgaste, porque a Espanha como sempre tem uns 70% de posse de bola, não se cansa muito. Quem tem bola cansa-se muito menos. Tal permite a frescura física para pressionar tão alto e tão forte quando se perde a bola durante 90 minutos.

O momento do jogo em que Espanha mais sofre, é quando não tem bola. Aí pode perfeitamente passar por uma equipa quase banal. Se o adversário consegue sair do momento de transição e obriga a Espanha a ter que passar para organização defensiva( tendo que recuar o bloco e esperar pelo adversário), aí é um problema. Os jogadores espanhóis não respiram sem a bola. Sofrem muito sem ela. Obviamente é utópico esperar que uma equipa consiga colocá-los tanto tempo sem a bola. Mas é possível, tal como a Itália demonstrou através de Pirlo e companhia, recuperar a bola e ter a qualidade táctica e técnica para escapar a esse cerco espanhol de pressão, e assim colocar a bola nas costas da defesa, e criar situações de 1x1 em que os defesas espanhóis podem sofrer.

Espanha tem uma vantagem. Uma quantidade enorme de soluções de enorme qualidade e variedade no banco. Daí que quando Del Bosque sente a tal falta de largura no jogo da Espanha, e quando sente que o adversário está a bloquear o jogo espanhol, tende a colocar em campo um extremo como Navas ou Pedro. Jogadores rápidos e fortes no um para um. Tal permite a que as atenções saiam do centro do terreno e que as defesas adversários tenham que dar mais espaço para poder bascular para um dos flancos. No entanto outro problema se coloca. Não obstante conseguirem criar essa desestabilização na defesa adversária, falta depois um ponta de lança na área para que se possam fazer cruzamentos.

Essa é uma vantagem para quem defende com a Espanha. Sabe que terá que ter muita concentração e sofrer muito sem bola, mas sabe também que pode quase que dar o flanco aos espanhóis porque raramente sai de lá um cruzamento. Antes vê-se o extremo a ganhar a linha e a voltar a passar para trás porque de facto não aparecem jogadores na zona de finalização. Isto é uma boa notícia para Portugal, uma vez que a maior parte dos golos que Portugal tem sofrido têm sido em lances de cruzamentos para o coração da área. Espanha marcou através de um cruzamento no jogo com a França,mas graças à subida de Jordi Alba e da felicidade de Debouchy escorregar num momento chave dando por isso todo o tempo e espaço para Jordi Alba parar, levantar a cabeça e colocar a bola na cabeça de Xabi Alonso vindo de trás. Nada a ver com aquele tipo de jogada que Portugal mais sofre que geralmente são cruzamentos no limite da pequena área em busca de um avançado de área.

Claro que também essas soluções existem mas exigiria um maior risco. A aposta em Llorente e o abdicar um pouco da coesão do meio campo para fazer um jogo mais franco. Del Bosque geralmente opta por Torres para dar a tal profundidade, mas aí perde uma solução como Cesc no meio campo. Contra Portugal e sabendo que Torres teria pela frente uma dupla como Pepe x B. Alves acredito que a opção recaírá, uma vez mais, por Cesc como falso 9.