Nota Prévia: Na altura em que foi escrito este texto, ainda não sabia da decisão da redução da pena de Hulk e Sapunaru. Como já tinha o texto seguinte preparado, fica para outra oportunidade – se pertinente – a minha opinião sobre o caso que, como se sabe, não vai ficar por aqui. É preciso saber como é que o Porto será ressarcido pelo facto dos jogadores, com Hulk à cabeça, ter ficado 17 jogos de fora a mais. É preciso analisar as consequências desta decisão sobre o futuro do clube, da Liga, de várias coisas. Como disse, fica para uma próxima.
A 10 de Maio de 2009 o Dragão entrou em erupção. Os Dragões haviam conquistado o 4º campeonato seguido. As ruas do Porto e outras pelo País enchiam-se de Portistas que festejavam p novo título; mais um neste novo século. E no meio de tanto festejo, que continuaria semanas depois no Jamor, já se começava a pensar no futuro.
Ainda não se sabia se o Jesualdo permanecia ao leme do comando portista; já todos desesperavam com a quase consumada e inevitável saída do esteio da defesa, o Bruno Alves. Não se sabia era quem mais podia sair, se é que saia mais alguém… talvez o Lucho, talvez o Lisandro… talvez nenhum. Mas nunca os dois.
Mas com o verão, o Cissokho foi embora, num negócio improvável. O verão prosseguiu e o Lucho foi embora. E o verão deu mais uns dias e o Lisandro foi embora (não necessariamente nesta ordem). E quando o verão terminou, o mais provável candidato a sair, o Bruno, ficou… e o Jesualdo também (se bem que isso já todos sabíamos porque foi definido a tempo). Fruto do excelente trabalho na época anterior, o povo portista ficou contente. O povo ainda mais contente ficou por saber que o seu “gigante” Hulk também ficaria, apesar do seu imenso talento e dos sururus dos gigantes europeus.
A época começou bem apesar de com dificuldade. Em Aveiro, o Porto ergueu a Supertaça. Um inesperado Farias marcou o primeiro dos dois golos da vitória Portista, num jogo onde já se sentia um Porto diferente. Aliás, toda a pré-época falava-se num Porto diferente fruto da saída do comandante, patrão do meio-campo, Lucho; e avançado letal, Lisandro. Falava-se também do Benfica; ria-se, dentre muitas coisas, das contratações das terceiras opções do Real Madrid, Saviola e Javi Garcia. Achava-se que tudo seria igual a si mesmo: que o Porto, com vendas lucrativas e compras de desconhecidos acabaria por ganhar como sempre e que o Benfica entraria em mais um ciclo sem resultados.
A liga começou mal. O Porto perde 2 pontos na Mata Real e é um Falcao a salvar o dia, depois do Porto perder o Hulk por expulsão. Jogo após jogo o Porto raramente entrava nos eixos: falta de imaginação no meio-campo, incapacidade de criação ofensiva, defesa fragilizada e apenas, a tempos, algum sinal de “jogo à porto”. Mas os portistas – e eu não me incluo neste lote (basta ver algumas das poucas crónicas que fui escrevendo) – pensavam que mais cedo ou mais tarde as coisas mudariam. Pensavam que os métodos de Jorge Jesus eram antiquados, que iam estoirar com os jogadores do plantel e que o Benfica, que estava em alta e a jogar bom futebol, vinha por aí abaixo. Confiava-se em demasia no mal dos outros para que as coisas voltassem ao lugar.
Bem, como se viu, nada disso aconteceu. O Benfica está melhor do que nunca, e apesar de não golear como no início da época, imprime um ritmo de jogo que parece que estão em Setembro. Por sua vez, o Porto parece que já carrega 100 jogos nas pernas e que nenhum trabalho foi feito ao longo da época. Os jogadores do Porto não correm, não conseguem passar a bola, nem sabem circula-la minimamente bem. O Porto está um espelho do Benfica de épocas passadas.
E a questão que se coloca agora é: porquê? A resposta, meus amigos, é simples: sei lá porquê. Mas consigo, como muitos outros, lançar hipóteses. I) Lesões. Esta semana o jornal O Jogo apresentou umas peças relacionadas com o facto de o Porto esta época ter tido inúmeras lesões. Foram poucos os jogadores que escaparam a algum período de inactividade; alguns mais do que outros. Neste momento, são os extremos que estão todos no estaleiro. Já foram os médios… apenas os centrais e o Álvaro escaparam. Com tanta lesão, é difícil formar um onze sólido, constante e consistente. II) Motivação. Se há uma palavra que tem caracterizado o Porto nestes anos todos – ou pelo menos em muita boa parte deles – é motivação. O estatuto do Porto, por ser um clube fora da capital, por ser um clube que representa Portugal de forma constante na Europa, concedia aos jogadores azuis-e-brancos uma motivação extra. Se pudessem escolher um dos três grandes para jogar, normalmente queriam todos ir para o Porto. E este ano essa motivação não existe. Nem da parte dos símbolos do clube, Bruno Alves, Raúl Meireles e outros; nem tão pouco dos que já lá estão desde a época passada. Curiosamente, os que mais lutaram este ano em prol do clube foram dois reforços: Falcao e Varela. Nem quero imaginar o que teria sido este ano sem estes dois. III) Pressão. Provavelmente o grande factor que está por detrás desta época menos conseguida é a pressão. Os jogadores tinham de conseguir alcançar o penta, tinham de ganhar tudo para igualar e ultrapassar o Benfica no número de títulos conquistados; o Jesualdo tinha que demonstrar que era um portista e não um espião da parte do Benfica (afinal, nunca verdadeiramente conquistou o povo portista, apesar das sucessivas vitórias); que apesar de já ter ganho três títulos, podia ganhar 4; podia formar outra equipa do 0. Havia a pressão de dedicar um título ao falecido Pedroto porque assim o Presidente o disse; havia a pressão de dedicar o título ao Hulk e Sapunaru porque os jogadores foram para a sala de imprensa fazer aquele espectáculo… e se calhar nem foi ideia deles. Portanto, pressão não faltava. E apesar do Porto viver bem sobre pressão, tudo tem o seu limite. E finalmente, aliado a tudo isto, a toda esta conjuntura, ressuscitou um Benfica. Um Benfica que tanto gozo nos deu na época passada, este ano transformou-se num Benfica digno do seu nome, do seu passado. Investiu-se fortemente, em jogadores e num treinador… e o investimento está a resultar. Mas porque o Porto não acreditava que tal era possível, que o penta estava no papo, prosseguiu o seu caminho habitual e hoje é o que se vê.
Dado isto, a questão que se coloca é: como fazer esquecer o desastre deste ano (que não deixará de o ser, independentemente de ganharmos ou não a Taça)? E a resposta mais adequada será, como muitas vezes se diz a respeito da história, que quem não aprende com os erros estão condenados a repeti-los. Portanto, não vamos esquecer esta época, vamos aprender com os erros que foram cometidos.
O primeiro assunto a resolver prende-se com o treinador. O Jesualdo é um treinador a prazo. Cumprirá o resto da época e depois sairá do clube. No entanto, como já comentei, o Jesualdo não é de todo o maior responsável pelo fracasso desta época. Não nos podemos esquecer que o Jesualdo já ganhou 3 campeonatos pelo Porto e, quer-se goste ou não, ele fez muito pelo clube: defendeu-o sempre, deu o peito às balas, falou em nome de todo um clube quando o Presidente não podia por causa do Apito… reconstruiu três vezes uma equipa e foi campeão sempre. Este ano não o conseguiu… mas que culpa tem ele do Benfica estar onde está. Claro que podemos entrar na conversa de que ele escolheu os jogadores que quis, dispensou quem não devia, etc… mas isso são outras histórias que ficam para outro programa. Nunca acreditarei que um treinador do Porto terá a única palavra nas escolhas dos jogadores. Mas o Porto precisa de sangue novo, tanto no plantel como no comando. Quem irá entrar… não sei. Neste momento eu apostaria entre um estrangeiro qualquer… quiçá o Benitez do Liverpool (estou a ser demasiado ambicioso) ou outro por aí… talvez um desconhecido como o Adriaanse. Se for para um português, creio que o Pinto da Costa apostará no Paulo Bento. Neste momento, para mim, o André Villas-Boas tem muito mais nome e imprensa do que resultados e seria uma aposta de risco escolhe-lo.
Segundo, a abordagem. Rui Moreira, conhecido adepto Portista já o disse e eu repito: é preciso saber e escolher que tipo de abordagem se quer fazer para o ano. O Projecto 611 tem fim marcado para o final da próxima época (2011) e ainda não se viu nenhum grande proveito. Há jovens com valor a rodar por outros clubes e até nos nossos juniores: Castro, Ukra, Hélder Barbosa, Sérgio Oliveira… Farão estes parte do plantel para o ano? Ou irão rodar, mais uma vez? Será esta a visão 611? Formar jovens para rodar nos clubes mais necessitados e vende-los por um valor entre 6 a 11 milhões de euros? Espero que não. Claro que é fácil dizer que eles fariam melhor do que alguns dos que cá estão. As qualidades são sempre visíveis nos jogadores que jogam em equipas pequenas. Eventualmente, chegam cá e não fazem nada de jeito… No entanto, apostar num jovem com algum talento acaba por sair sempre mais barato do que gastar 3 ou 4 milhões num desconhecido. Portanto, ou se adopta uma estratégia que consiste na aposta nos nossos valores e para isso naturalmente virá um tipo de treinador, ou faz-se uma aposta forte no mercado – tal como o Benfica fez esta época, mesmo não estando na Liga dos Campeões – e tenta-se reconquistar o título nacional e fazer uma prova vitoriosa na Liga Europa. Esta abordagem implicará, digo eu, a escolha de um treinador estrangeiro.
Terceiro, a política do clube. Nos últimos anos, mais do que noutro tempo qualquer, a política do clube tem sido comprar barato, formar e vender por milhões. É uma política arriscada porque implica que, primeiro, os jogadores que se compram sejam verdadeiramente talentosos; dois, que haja um treinador que saiba tirar o máximo proveito do jogador; três, que o clube disputa a competição (Champions) que mais visibilidade dá ao clube; quatro, que haja alguém disposto a pagar muito dinheiro que compense a saída do jogador. É uma estratégia que resultou e que deu lucros com jogadores como Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Pepe, Anderson, Bosingwa, Quaresma, Lisandro, Lucho e até Maniche… Esta estratégia de risco pode resultar uma, duas ou três vezes mas não é infalível. Vejamos a política do Lyon… que também foi vendendo estrela após estrela (Essien, Benzema…) e agora também já não é o Lyon de há 3 épocas que foi campeão 6 vezes. Com tanto proveito e lucro resultante das prestações na Champions e da venda de jogadores, chegou a hora de pegar nesse dinheiro e investi-lo a sério. Esta época gastou-se mais de 20 e tal milhoes de euros… e mal. Esta nova época é preciso mudar de política; é preciso investir 20-30 milhoes em 2-3 jogadores de qualidade: jogadores de topo que são indispensáveis aos seus clubes; não jogadores em campeonatos igual ao nosso e que de vez em quando jogam. Se o Porto quer ser verdadeiramente grande, não pode seguir este caminho de vendas constantes. É preciso encontrar outra fórmula para ganhar dinheiro. Uma peça que li no Sapo Desporto o outro dia demonstrava que o Porto é o clube (dos três grandes) que melhor respira em termos financeiros neste momento… ou pelo menos é o clube mais confortável. Se queremos que o Porto seja um verdadeiro grande na Europa e lutar taco-a-taco todos os anos pela conquista do título português, é preciso mudar. Não podemos passar ao modelo do Sporting mais recente que se baseava exclusivamente na formação e em que se ficava contente com o segundo lugar; nem tão pouco podemos pensar que estas vitórias do Benfica só vêm de vez em quando e que mais cedo ou mais tarde voltaremos a ganhar com conforto. Não! Dificilmente o Benfica cairá na desgraça tão cedo, ou pelo menos enquanto tiver um treinador de qualidade como o Jorge Jesus.
O estado actual do nosso Porto é de doente. O Porto não respira confiança; todos querem que a época acabe o mais cedo possível para fazer a devida análise ao falhanço das opções desta época. O maior erro que qualquer um de nós portistas, desde o simples adepto de casa até ao dirigente máximo, Pinto da Costa, pode fazer é pensar que isto foi um erro único, um furo num pneu e que rapidamente se volta à estrada das vitórias… que isto não voltará a acontecer. Eu temo que poderá acontecer novamente e sucessivamente até alguma coisa mudar. Não se lembram que depois do Porto ter ganho o Penta andamos 3 anos sem ganhar? Foi preciso uma mudança de atitude, centrada num homem chamado José Mourinho para que as coisas mudassem. Neste momento, não vejo por aí outro Mourinho… se bem que todos querem que o Jesus o seja e que o Villas-Boas o venha a ser. Também acho que seria bom que o Pinto da Costa tivesse, pela primeira vez em sei lá quantos anos, um concorrente à Presidência. Felizmente neste clube o nosso presidente tem-nos proporcionado imensas alegrias… mas todos nós precisamos de concorrência, de alguém que nos faça trabalhar ainda melhor. É preciso uma voz crítica activa, dentro do razoável, para levantar questões e perguntar o porquê de certas coisas. É isso que nós adeptos fazemos través destes canais. Mas é preciso alguém noutro sítio, com outro estatuto, a fazer as mesmas observações e questões.
Podíamos passar horas aqui a falar sobre tanta coisa… mas eu fico por aqui.
Sei que estes espaços são para nós Portistas de bancada e de sofá e que dificilmente as ideias que escrevemos não passam para quem deve. Mas também sei que ninguém na organização do Porto está feliz com o que se passa e passou este ano. E tenho a certeza de que, com maior ou menor dificuldade, voltaremos a vencer. Mas é preciso mudar.
Um abraço e viva o FC Porto!