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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

O Estranho Caso da Sad do Belenenses

Rui Pedro Soares o atual presidente da SAD entrou discretamente na Portugal Telecom mas cedo protagonizou notícias por estar envolvido nas alegadas escutas do caso "Face Oculta" publicadas pelo jornal "Sol". Foi administrador executivo da "holding" Portugal Telecom desde 2006 ano em que Henrique Granadeiro assumiu a presidência executiva. Ficou com o pelouro das regiões autónomas e autarquias, com o marketing institucional, e com o imobiliário e segurança. Em 2008, quando houve uma reorganização na estrutura administrativa da PT e Zeinal Bava assumiu a presidência executiva, saiu reforçado. Além de manter os cargos que já tinha ficou com as participações financeiras da TM Macau, Timor Telecom e da Archway, mais o ambiente e eficiência energética.
Tem 40 anos. É do Porto mas na adolescência rumou a Lisboa. Estudou no IPAM - Instituto Português de Administração de Marketing, tendo tirado uma formação no INSEAD em telecomunicações, estratégia e marketing. Os contactos com os clubes de futebol, patrocinados pela PT, são da sua responsabilidade.
Dizem que é portista. Recebeu em 2008 um Dragão de Ouro (Sócio do Ano). Chegou a vereador sem pelouro na CML quando concorreu na lista de João Soares em disputa com Santana Lopes e que este ganhou. Segundo a revista "Visão" ainda foi candidato à liderança da JS, mas, quase sem apoios, perdeu. Foi na JS que conheceu Paulo Penedos, o advogado que acabou por ser seu assessor jurídico na PT com quem manteve as conversas telefónicas, alvo de escutas. Rui Pedro Soares e Paulo Penedos foram "apanhados" a falarem sobre a compra da TVI pela PT para alegadamente servir o propósito de controlar a comunicação social como faz o Benfica. Segundo o "Sol" foi também na JS que conheceu Marcos Perestrello que o leva para o grupo de apoio a José Sócrates. Também participou noutras administrações por via da PT. Uma delas é a do Taguspark, onde foi administrador não executivo, colega de Américo Thomatti, presidente executivo do Taguspark, também apanhado numa conversa com Paulo Penedos sobre o negócio da TVI.
Vamos perceber como apareceu no Belenenses chegando mesmo a presidente da SAD. O ex-administrador da Portugal Telecom possuía a fatia maior da SAD do clube, já que, em dezembro de 2012 tinha adquirido, através da Codecity Sports Management que liderava, 46,93% do capital social por 469 euros. Quando fez este acordo tinha ficado pré-definido que logo que fosse legalmente permitido adquiria mais cinco por cento. Assim aconteceu em agosto de 2013 quando o Belenenses atravessou uma crise financeira. Essa aquisição comunicada pela empresa à CMVM foi feita por 50,04 euros, valor que corresponde a 50.040 ações ao preço unitário de um cêntimo. Rui Pedro Soares passou a ser o dono maioritário da SAD detendo 51,9% do capital social. Passadas 2 épocas enquanto a equipa de futebol se posicionava do meio da tabela para baixo a SAD iniciou umas estranhas negociatas com o Benfica tendo recebido empréstimos em dinheiro e jogadores que, segundo explicações recentes, serviriam para esconder as entradas de capital fresco. Todos vimos nas denúncias do caso dos emails que os jogadores cedidos pelo clube da treta não são convocados ou ficam mesmo impedidos de defrontar o Benfica.
 
Foi então assinado um protocolo entre o clube e a SAD para utilização do Estádio do Restelo pertença do clube. Contudo as dívidas relativas ao arrendamento, manutenção, treinos e jogos começaram a vencer-se atingindo uma verba de 450 mil euros. O presidente do clube nada contente com o rumo que as coisas estão a tomar tem procurado um entendimento sem resultados que já motivaram no ano passado um comunicado aos sócios. 
 
O Clube de Futebol “Os Belenenses” informa os seus associados que, na presente data, notificou a Belenenses – Sociedade Desportiva de Futebol, SAD, para pagamento dos montantes devidos ao abrigo da conta-corrente entre Clube e SAD considerando a decisão do Tribunal Arbitral notificada às Partes em 11.07.2017.
Conforme já anteriormente defendido, resulta da decisão proferida pelo Tribunal Arbitral que a SAD tem de pagar ao Clube de Futebol “Os Belenenses”:
 
a) os direitos de formação por atletas formados no Clube nos termos regulamentares;
b) que as verbas relativas ao mecanismo de apoio da UEFA a clubes formadores são receita exclusiva do Clube;
c) e que tais valores são cumuláveis com o pagamento de 15% sobre as transferências efetuadas pela SAD de jogadores formados no Clube, aqui apenas sendo descontado o que for devido a terceiros a título de compensação.
 
Valores recebidos pela SAD e não entregues ao Clube relativos às épocas de 2011/2012, 2012/2013, 2013/2014 e 2014/2015, relativos às verbas da UEFA de comparticipação do clube formador: € 161.844,47.
 
A comunicação à SAD dos presentes montantes em dívida na presente data, que ascendem a 449.384,39 €, a que acresce o IVA à taxa legal em vigor, resulta da aceitação por esta da decisão do Tribunal Arbitral tal como interpretada pelo Clube de Futebol “Os Belenenses” em 15.07.2017, de acordo com a última manifestação de vontade efetuada pela SAD no processo no passado dia 6 de Outubro de 2017. 
 
Se esta situação continuar o presidente do clube Patrick Morais de Carvalho prevê denunciar o protocolo acima descrito e formar uma equipa que começará a participar nos campeonatos desde os escalões mais baixos. A SAD que não apresenta as Contas nem os contratos com os jogadores se não assumir as dívidas que entretanto se vão acumulando terá que encontrar a partir do final da época um sítio para jogar com todas as consequências para os sócios.
Não consigo compreender como este individuo tem a coragem de mandar recados ao nosso clube a propósito do caso dos emails. Provavelmente será mais um cartilheiro a trabalhar para o clube da treta.
 
ULTIMA HORA – Em resposta à ameaça de revisão do protocolo, Rui Pedro Soares disse: “Desde dezembro o Estádio do Restelo está penhorado pela Oitante, S.A. empresa que tem por objeto social a administração dos direitos e obrigações que constituam ativos do Banif - Banco Internacional do Funchal. Como a Direção do clube deixou de pagar uma dívida de 5M€ o estádio que foi alvo de uma penhora, pode ser vendido a qualquer momento.”
 
Até à próxima

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O Sobe-e-Desce das Contas

Todos os anos por esta altura na Feira Popular do nosso futebol os clubes através das suas SAD’s apresentam aos acionistas as Contas. O espetáculo das primeiras páginas dos pasquins indulta uns e condena outros. Vamos lá explicar como funciona este carrousel.
"Oh inclemência! Oh martírio! Estará porventura periclitante a saúde desse nobre e querido menino que eu ajudei a criar?"(*) Não cartilheiros! A SAD está bem e recomenda-se. Não convém é confundirem prejuízo com défice, nem passivo com dívidas.

Uma das focas amestradas até vomitou que “a Sad do FC Porto tinha tido MAIS UM PREJUÍZO”!    Está enganado! Não pode considerar o resultado da última época isoladamente e dizer que este ano houve MAIS outro. Os atuais 35,3M€ resultam do acumulado dos anteriores RC. Como em 2016 tinham sido apresentados 58,4M€ negativos e este ano são 35,3M€ também negativos significa que REDUZIMOS os prejuízos em 23,1M€. Só nos resta aplaudir as boas medidas de gestão praticadas este ano. Além das transferências de alguns (poucos) atletas, já que não foi possível aumentar muito os Proveitos, conseguiu-se, pelo menos, diminuir os Custos.
Cumpriu-se assim o compromisso assumido com a UEFA para 2016/2017 optando pela não contratação de jogadores e fazendo regressar os emprestados tendo atingido um défice inferior ao definido como tolerância, no acordo assinado em junho de 2017. A palavra-chave deverá ser “equilíbrio” como temos referido várias vezes nos nossos comentários. Vamos ver agora os Proveitos que aumentaram de 1 de Julho de 2016 até 30 de junho deste ano.
Em relação ao último exercício houve um acréscimo de 23,2M€. Veja-se a importância que teve nos Proveitos o apuramento para a Champions League onde, como é do conhecimento de todos, em 2018 apenas o 1º e 2º classificados tem acesso aquela competição. Vamos ver a diminuição nos Custos Operacionais representada no quadro abaixo. Houve uma redução de 2,6M€ sobretudo com a redução nos Custos com Pessoal.
Os resultados com os Proveitos nas transferências foi positivo em 41,3M€ (deduzidas as comissões e outros custos) superando assim o resultado da época anterior em 2,6M€ aumentando então o valor do plantel para 96.7M€.

Na relação Ativo/Passivo o Ativo Total representa 378M€ e o Passivo Total 387M€ donde resulta uma diminuição do Capital Próprio (diferença entre o Ativo e o Passivo) de -9,1M€ e coloca, mais uma vez, a SAD na situação de falência técnica.

Um aspeto altamente positivo deste mandato foi ter concluído o pagamento do Estádio do Dragão que teve o custo final de 125M€ e, como se recordam, construído através de um projet-finance liderado pela Euro Antas, sociedade essa que faz parte do perímetro da SAD, cumprindo rigorosamente os termos e prazos contratados.

As notas às Demonstrações Financeiras por demasiado técnicas e extensas não nos merecem qualquer comentário nesta crónica, contudo, os interessados podem apreciá-las a partir da pág. 36 do Relatório e Contas,

A atual composição das participações sociais é a seguinte

De salientar a excelente execução gráfica e técnica do Relatório e Contas.

Até à próxima

* Frase do filme Pai Tirano (1941) com Vasco Santana. Passou na RTP aí umas 137 vezes.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Mais um Rombo no Porta-aviões

O sonho lindo da passagem aos quartos-de-final acabou. Esta eliminação, ao contrário de outras, pode ficar-nos bastante cara. Compromissos inadiáveis e a impossibilidade de contrair novos empréstimos transformam a próxima época numa grande incógnita.

Depois de terem “escondido” os resultados do 1º Trimestre, talvez para não desmobilizar as tropas à espera que a situação melhorasse (leia-se transacionar alguém), e embora ninguém ligue nada às Contas, a SAD apresentou no último dia do prazo, 28 de Fevereiro, os resultados do 1º Semestre (1 de Julho a 31 de Dezembro de 2016).

Como sabem a legislação anterior obrigava a que as Contas de cada trimestre fossem divulgadas na CMVM e no sítio do Clube. Com as alterações nesta lei (Dec. Lei 22/2016) a apresentação intercalada de gestão passa a ser facultativa embora o nosso rival Sporting continue a publicar os resultados trimestrais. Todos sabemos que estamos mal de dinheiros. Houve um enorme prejuízo (58,4M€) no exercício que terminou a 30 de Junho de 2016. Desta feita nos últimos resultados consolidados até ao fim do 1º Semestre apresentamos um prejuízo de 29,5M€.

Pior do que isso foi a queda do Capital Próprio (diferença entre o Ativo e o Passivo) de quase 30M€) pelo que continuamos na situação de falência técnica (sempre que o Capital Próprio é inferior a metade do Capital Social). Foram apresentadas as habituais desculpas pelos maus resultados como a não transferência de jogadores e a eliminação nas competições da UEFA em 2016. Sim já sabíamos isso mas se não conseguimos vender quase ninguém em Janeiro e apenas “entrou” Soares não vejo quem se possa transacionar no final da época. Os “mais fracos” ninguém os deve querer e não gostava que saísse nenhum dos ”melhores”. 
imagem; Dragão Ruben
Tecnicamente é sempre difícil integrar as novas “importações” para que que encaixem nos titulares do plantel. Cabe aqui agora apresentar um pequeno quadro com o resumo das Contas mais significativas dos RC para se avaliar a performance dos 3 grandes.
Como podem verificar nenhuma SAD tem o Capital Próprio que seria necessário para não se encontrar na situação de falência técnica. Devia ter, pelo menos, metade do Capital Social, ou seja: Porto 56.250M€; Benfica 57.500M€; e Sporting 33.500M€. Acresce que a nossa além de ter ficado sem cheta do Capital Social ainda deve mais 3.449M€.

Outra análise que também pode ser feita é comparar o nosso Ativo Corrente (97M€) com o Passivo Corrente (210M€). Significa que todos os nossos Ativos “vendáveis” não chegam para pagar metade dos compromissos. Os Ativos do Benfica não chegam nem para 1/3. Por isso o clube da treta está a preparar um novo Empréstimo Obrigacionista de 50 milhões de euros!

Claro que daqui até ao final da temporada muita coisa se pode passar mas não prevejo grandes vendas. Não vamos nunca conseguir atingir os valores projetados no último Orçamento, ou seja, realizar 116M€ nas transferências de jogadores. Nem quero pensar no resultado das avaliações que a UEFA faz em Março de cada ano no que respeita aos pressupostos do fair-play financeiro. Pelo andar da carruagem desconfio que vem penalizações a caminho. Ainda agora nos condenaram a pagar 650 mil euros aos Calimeros pelas mais-valias a que tinham direito na transferência do João Moutinho, mais 350 mil ao Verona pela transferência de Iturbe e outras que aguardam desenvolvimentos.

Não sei mesmo se deveríamos contratar os caixeiros-viajantes do clube da treta para nos ajudarem. Afinal andam por todo o Mundo a impingir os renatinhos deles. Não custava nada meterem mais umas folhinhas A4 na pasta a ver se nos livramos de alguns. Pagamos boas comissões.
imagem; José Lima
Até à próxima

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Mais um Recorde

Um Orçamento é uma projeção de Proveitos e Custos. Na Sad do nosso clube é um exercício de adivinhação. Desta vez o maior prejuízo nas Contas desde a sua existência. Na última época foi de 58,4M€ rebentamos com a escala. Gravíssimo porque além de ficarmos debaixo da alçada do Fair Play Financeiro não teremos meios para reforçar o plantel na próxima janela de mercado. A previsão de grandes transferências com um plantel de jogadores “normais” falhou. Por algum motivo essas operações são classificadas nas Contas como Proveitos Extraordinários. São suscetíveis de se verificar ou não.
Vamos ver os principais desvios:

Nos Proveitos tínhamos previsto 85,4M€ só fizemos 75,8. O principal desvio deveu-se à falta das receitas Uefeiras. Nos Custos projetamos 107,7 mas atingimos os 124,4 devido ao aumento nos Fornecimentos e Serviços Externos (de 32,8 para 38,6) e nos Custos com Pessoal (leia-se jogadores, técnicos etc. de 68,9 para75,8). Assim se o compararmos com o Orçamento que apontava para um lucro de 1.8M€ tivemos um resultado liquido negativo de 58,4.

Embora o Ativo tivesse subido de 359,2 em 2015 para 375 esta época o Passivo deu um salto de 276,1 em 2015 para 349,2 este ano. Resultado que se refletiu de imediato no Capital Próprio que baixou de 83,1 em 2015 para 25,9 no presente RC, ficando na situação contabilística de falência técnica (sempre que o Capital Próprio seja inferior a 50% do Capital Social). Neste momento o Capital Próprio devia ser, pelo menos, 56,250M€ visto que o Capital Social da SAD é, como sabemos desde a última época, de 112.500M€.

Além disto o reconhecimento nos últimos 3 anos de prejuízos de mais de 5M€/ano em 2 dos 3 anos tem que ser justificados à UEFA para cumprimento de um dos pressupostos do Fair Play Financeiro. A UEFA, depois, pretende explicações sobre como vai ser tratado esse problema que pode ser resolvido de várias formas. Reforço de capital por parte dos acionistas, recurso a um investidor externo, sendo dado um prazo para a sua execução, ou explicações concretas sobre as causas dos prejuízos. Vejamos o gráfico das últimas 10 épocas.
É conhecida a política de Investimentos da Sad em “ter uma posição ativa no mercado de transferências, visando a potenciação do sucesso desportivo e uma equilibrada renovação dos contratos profissionais”. Acredita-se que sim mas infelizmente não é isso que a realidade tem demonstrado nas últimas épocas. Contratações feitas sem nenhum critério de qualidade, subida nos Custos com salários, e falta de receitas nas competições europeias, conduziram a um resultado desastroso de imprevisíveis consequências.

A boa notícia é que em Setembro de 2018 teremos o Estádio do Dragão completamente pago. O plano financeiro da Euro Antas com a Banca continua a processar-se dentro dos parâmetros contratuais.

Até à próxima

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Breve Reflexão Sobre as Contas

Não vi nos blogues e/ou páginas afetas ao nosso Clube grandes comentários às contas da Sad, relativas ao período de 1 de Julho a 30 de Setembro de 2015, exceção feita aos pasquins desportivos que, mesmo assim, se limitaram a copiar os destaques negativos inseridos no próprio Relatório e Contas.
 
Todos sabemos que os nossos consócios não prestam muita atenção a estas minudências, interessando-se muito mais pelos resultados desportivos. É um enorme erro. O futebol “de clube” desapareceu há muitos anos pelo menos desde o advento da SAD. Agora assistimos a uma atividade comercial cuja única relação com o passado é continuar a dedicar-se ao popular jogo de futebol que todos amamos.
O nosso Futebol Clube do Porto (o do Campo da Rainha, ou da Constituição) viveu quase exclusivamente das quotizações pagas pelos associados, e aqui e além, de painéis publicitários que ajudavam a pagar a despesa do senhor que guardava o campo e da esposa que lavava os equipamentos. Salvas raras exceções não existiam transferências de atletas, a Televisão só apareceu em meados dos anos 60 e até aí apenas a Rádio levava às nossas casas as incidências dos jogos que se disputavam no campeonato nacional. A luta rádio/televisão foi determinante para transformar o futebol numa indústria. Recordo-me da corrida aos cafés para ver os resumos dos jogos disputados à tarde e dos quais já sabíamos os resultados pela rádio. Os jornais desportivos passaram a edições diárias, a BOLA era do Benfica, o Record “apanhava” os adeptos do Sporting e, mais tarde, o Jogo para contentar os sócios do Porto.
O salto definitivo foi dado por Joaquim Oliveira quando no início dos anos 2000 criou com a Portugal Telecom a Sportinvest uma empresa de média destinada a explorar os direitos de transmissão televisiva dos principais clubes portugueses. O Futebol Clube do Porto atirou-se para a construção do Estádio do Dragão, “inventou” jogadores e treinadores e ganhou títulos.
 
Agora vem a parte mais difícil. Para estas “aventuras” foi necessário muito dinheiro. Acabamos com as modalidades amadoras (resistem heroicamente 4 ou 5), descobriram-se novas fontes de receita, camisolas e adereços iguais aos dos atletas, cedência de direitos de transmissão televisivos nos jogos nacionais ou provas uefeiras, e aproveitamos para vender os passes dos nossos melhores atletas.
 
Esta forma de rentabilizar aquilo que se classificam como Proveitos Operacionais tem os seus contras. Desde logo se o clube não vencer nenhuma competição deixa de ser atrativo para os investidores, os sócios não pagam as quotas nem gastam dinheiro no merchandising, o público não acorre às bilheteiras. Depois porque os Custos Operacionais (Fornecimentos e Serviços Externos, Despesas com Funcionários, Amortizações) estão sempre a aumentar.
Aqui o grande segredo é conseguir o equilíbrio naquilo que eu chamo o “resultado da atividade corrente” (aquele que é feito ao longo da época). Só um Orçamento extremamente bem elaborado pode garantir esse equilíbrio. A parte mais complicada é quando se projetam verbas para a aquisição de novos jogadores e se pensa que (mais tarde) iremos ter mais-valias em eventuais transações. Se em algumas épocas temos tido a sorte de efetuar excelentes negócios a verdade é que basear as expetativas de um Orçamento nesse pressuposto é um erro que pode sair muito caro.
 
O resultado deste 1º Trimestre (Ativo liquido) cresceu pelo aumento do valor contabilístico do plantel atingindo o valor de 99,3M€ que, como se sabe, é contabilizado mensalmente pelo preço de custo dos atletas a dividir pelo tempo de duração do contrato. Os Custos aumentaram pela aquisição das sociedades participantes do Porto Canal, pela contratação de inúmeros atletas, mas conseguindo-se, mesmo assim, um resultado Operacional de 13,6M€. Aspeto positivo foi o aumento do Capital Próprio após a integração da Euro Antas no balanço consolidado a que acresceu o aumento do Capital Social efetuado pelo Futebol Clube do Porto. O Ativo cifra-se agora nos 411,7M. Aspeto negativo foi o aumento do Passivo para 318M€, atingindo o maior valor absoluto destes últimos 12 anos de Sad. Contudo o Passivo Financeiro (aquilo que deve aos Bancos) não chega a 100M€, uma ninharia!
O “tal” clube da Constituição é hoje um grande barco. Possui 10 sociedades comerciais, dono de 62% da Sad, dentro de 3 Anos tem o Estádio do Dragão pago, é um apetecível cliente bancário, procurado por empresários e fundos para a compra/venda de “ativos” (leia-se jogadores).
Com ou sem os mesmos dirigentes o Clube não desaparece. Somos Porto. Queria desejar aos amigos portistas um Feliz Natal e um Novo Ano repleto dos resultados desportivos que todos desejamos.
 
Até à próxima

domingo, 17 de agosto de 2014

Nunca Te Enganes a Ti Próprio

Na reentrada em cena do programa desportivo DIA SEGUINTE que passa 90% do tempo a enaltecer o clube da treta esperava-se que o mesmo servisse para o aldrabão do costume responder à óbvia questão de como iriam arranjar 200 milhões até Dezembro para cumprir os compromissos de 2 Empréstimos Obrigacionistas quase sobrepostos e liquidar uma conta caucionada no BES. Conhecem estas Contas? São assim uma espécie de “compre agora e pague com o subsídio do Natal!”
 
Expetativas goradas, o ex-administrador que nunca sabe responder ao que lhe perguntam já deve ter percebido que ninguém acredita na banha de cobra que anda há muito a vender e prefere iludir a resposta. Então muda de assunto com desculpas esfarrapadas não assumindo o estado de falência em que se encontra a “instituição”. O habitual fornecedor de dinheiro para Tesouraria faliu. Fechou a torneira. No último RC a SAD demonstra compromissos financeiros até 2024 e o estádio nem metade está pago. Quatro dos seus acionistas de referência, BES, José da Conceição Guilherme, Somague, e o presidente LFV estão ligados à construção. Este último é um dos homens mais ricos de Portugal e nem sequer aufere vencimento (por imposição estatutária) no Clube. Provavelmente o dinheiro apareceu por geração espontânea.
 
Mas o programa teve uma novidade. Foi apresentado um novo papagaio. Todos estávamos habituados aos papagaios encarnados Cervan e Seara mas desta vez apareceu um papagaio verde no lugar da última abécula que por lá vegetava. Assistimos a uma prestação generosa entremeada de expedientes dilatórios (ou não fosse o homem advogado) mas cujo discurso nada mudou pela ignorância evidenciada sobre as matérias em discussão. Nem sabia que o Zbórden tinha rebentado mas com os amigos do BES conseguiu que lhe fossem perdoados juros e esticados os prazos de pagamento da divida. Assim uma espécie de PER disfarçado.
Voltando á vaca fria (o tema era a crise do BES e o seu reflexo nos clubes) percebeu-se que os dois circos da capital foram bastante atingidos nas suas expetativas de continuarem a viver com o dinheiro da Banca. Como de costume o feiticeiro que nos aparece aos Domingos à hora do jantar desvalorizou o caso, juntando o total dos Passivos dos 3 grandes que ultrapassa o milhão de euros. Só que mais uma vez meteu água. Deixe lá, já tinha acontecido o mesmo ao Economista António Samagaio no PÚBLICO. Não reparou nalguns pormenores.
 
Querem ver alguns? Primeiro: O BES é financiador preferencial da “instituição”. Segundo: Detém uma participação no Capital Social da SAD. Terceiro: Gere e participa num Fundo (Benfica Stars Fund) onde a SAD tem 15%. Quarto: Apoia os sucessivos Empréstimos Obrigacionistas como colocador daquelas operações.
 
Nós, os parolos cá de cima, não queremos misturas. Como o feiticeiro prometeu que iria falar nisso no próximo Domingo, aconselho que leia os RC dos 3 grandes e separe os valores de cada SAD. Olhe se quiser até pode juntar-lhes o Passivo dos respetivos clubes e umas empresas que andam perdidas pela capital. Vai ver que o Grupo do clube da treta tem um passivo maior do que os outros dois juntos. Não venha para cá com “contas à moda do Porto”.
 
Curiosamente a Sociedade de Revisores da KPMG que faz parte da Comissão de Auditoria do BES já tinham invocado o risco da empresa sobre as operações do Grupo BES, devido a uma grande exposição ao crédito concedido a sociedades de meia tijela. Compreende-se agora por que motivo o clube da freguesia de Benfica os mandou pela porta fora e substituiu o ROC.
 
Ao terminar o DIA SEGUINTE o representante da “instituição” não respondeu a duas perguntas concretas do apresentador do programa. Primeira: se as vendas apressadas e por qualquer preço se deviam à necessidade de compromissos de Tesouraria ou à liquidação dos compromissos com os Investidores do Empréstimo Obrigacionista mais a conta caucionada do BES perto do final do ano. Segunda: se o clube tinha apoiado Mário Figueiredo para presidente da LIGA. O homem mentiu e disse que não. Prefere continuar a enganar-se a si próprio.
Até à próxima